Numa entrevista exclusiva à agência de notícias AFP realizada na segunda-feira à noite e divulgada hoje, a ministra adjunta e porta-voz dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Lolwah al-Khater, exortou a comunidade internacional a permanecer construtiva em sua gestão da crise, acreditando que cabe aos afegãos decidirem o seu futuro.
“[Os talibãs] mostraram uma boa dose de pragmatismo”, disse a ministra adjunta.
“Vamos aproveitar as oportunidades que se apresentam e (…) colocar as nossas emoções de lado”, acrescentou.
O Qatar tornou-se um país central nesta crise, desempenhando um papel de mediador neutro e influente.
Em particular, o país saudou as negociações concluídas em 2020 entre os Estados Unidos do ex-Presidente Donald Trump e os talibãs, assim como entre o grupo extremista e a oposição afegã.
Nos últimos dias, o Qatar apelou para que os talibãs respeitem os pedidos do Ocidente, incluindo o respeito pelos direitos das mulheres e a possibilidade de os afegãos deixarem o país livremente.
Lolwah al-Khater, uma figura pública proeminente no emirado, incluindo em outras questões importantes como a gestão da crise do novo coronavírus, desta vez insistiu na necessidade de a comunidade internacional aceitar as ações concretas dos talibãs, dizendo que os considera legítimos.
“Eles são os governantes de facto, não há dúvida sobre isso”, disse.
“Não estamos a pressionar por um reconhecimento diplomático do novo regime” e “não vamos parar de discutir” se não cumprirem todas as suas promessas, declarou.
Na terça-feira, os talibãs anunciaram os principais ministros que compõem o seu Governo chefiado por Mohammad Hassan Akhund, um amigo próximo de Mullah Omar, o fundador do grupo.
Washington declarou, então, que queria “julgar os talibãs pelas suas ações, não pelas suas palavras”, mas está preocupado com “as afiliações e origens de alguns desses indivíduos”.
O reconhecimento do regime “é claramente um instrumento que pode ser utilizado não só por nós, mas pela comunidade internacional”, assegurou a ministra adjunta do Qatar, apelando para “uma abordagem muito racional, e não emocional, de forma a evidenciar [aos talibãs] o benefício em discutir (…) e as consequências “que poderão sofrer se se recusassem a fazê-lo.
“Este caminho do meio é a nossa recomendação aos nossos parceiros”, repetiu, após os chefes da diplomacia alemã, holandesa, britânica, italiana e norte-americana terem estado em Doha no espaço de oito dias, revelando o papel fulcral deste país nesta questão.
Como prova da boa vontade dos talibãs, Al-Khater citou o facto de o grupo extremista não ter se oposto à saída do país de mais de 120.000 pessoas e que alguns ministérios estão a funcionar normalmente, incluindo saúde.
“O povo do Afeganistão deve poder, como todos os outros, ter uma palavra a dizer. Dizer que os talibãs devem responder à comunidade internacional não significa que [que esta] controle o futuro” do país e do seu povo, sublinhou a ministra adjunta.
Após quase duas décadas de presença de forças militares norte-americanas e da NATO, os talibãs tomaram o poder em Cabul a 15 de agosto, culminando uma rápida ofensiva que os levou a controlar as capitais de 33 das 34 províncias afegãs em apenas dez dias.
Desde então, os combatentes islamitas radicais asseguraram em várias ocasiões a intenção de formar um Governo islâmico “inclusivo”, que represente todas as tribos e etnias do Afeganistão.
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