Nina Kozachok, 38 anos, Vladislav e Rostislav, de 15 e 8 anos, viviam em Vinnitsa mas, assim que a guerra começou, fugiram para a Polónia, onde permaneceram alguns dias num pavilhão com “mais de 1.500 pessoas” de várias nacionalidades, “com medo e em condições humanitárias muito difíceis”.
Nina conta que foi nesse período, através do Facebook, que ficou a saber que Portugal estava a receber pessoas da Ucrânia, prometendo-lhes “trabalho, casa e escola para as crianças”.
“Isto é muito importante para quem tem dois filhos. Portugal foi o país que ofereceu as melhores condições [para acolhimento]”, diz Nina, que não conhecia o país, nem Guimarães, cidade onde chegou com outros compatriotas numa carrinha de nove lugares, com um misto de “tristeza, felicidade e incerteza” face ao futuro.
Contudo, o receio da esteticista de profissão “pelo desconhecido”, rapidamente se transformou em “boa surpresa”, a começar pelas condições que encontrou na vivenda da família de acolhimento, na freguesia de Fermentões.
“Não acreditámos: quartos preparados, mesa cheia de comida, com cereais para as crianças, o frigorífico cheio. Estou muito grata a esta família”, sublinha Nina, pela voz da tradutora que acompanhou a entrevista, realizada na casa da família de acolhimento.
Quanto aos filhos, a sua maior preocupação e a do marido, de 38 anos, que teve de ficar na Ucrânia, relata que “uma semana” após a chegada, já frequentavam escolas do concelho de Guimarães, as quais se adaptaram às necessidades destes “novos alunos”, que estão a aprender português, geografia, inglês, entre outras disciplinas.
“Foram muito bem recebidos nas escolas. O mais novo está no 2.º ano na [escola] Fernando Távora e o mais velho no 10.º ano, na [escola] Francisco da Holanda”, refere Nina Kozachok, acrescentado que o Vitória Sport Clube também se ofereceu para os receber em diversas modalidades desportivas.
Visivelmente emocionada, a mãe agradece e manifesta “profunda gratidão” à família de acolhimento e às entidades que têm ajudado a sua família nesta “fase difícil”, nomeadamente aos serviços da Câmara de Guimarães, que “estão sempre disponíveis” para apoiar, mas assume que quer ter a sua independência.
“Já tenho uma entrevista de emprego marcada. Quero trabalhar, ganhar o meu dinheiro, ter uma vida independente. Quero organizar a minha vida”, vinca Nina, para quem, o regresso à Ucrânia é, por estes dias, apenas um “desejo e um sonho”.
Quem já está a trabalhar são Daria Makarova, 34 anos, e Juliia Yehorenkova, 42 anos, amigas que fugiram com os filhos, de 14 e 16 anos, de Nikopol, cidade a cerca de 420 quilómetros da capital Kiev.
Na Ucrânia trabalhavam numa pastelaria, em Guimarães são funcionárias, com contrato de trabalho, na Unidade de Cuidados Continuados e de Média Duração e Reabilitação do Centro Social da Paróquia de Polvoreira (CSPP), na qual estão a “integrar-se muito bem”, com o ajuda preciosa do ‘Google tradutor’.
Uma colega de trabalho moldava, que está em Portugal há vários anos, serviu de tradutora na conversa com as duas mulheres, que, assim que a guerra espoletou, fugiram para Lviv, perto da fronteira com a Polónia, onde estiveram entre cinco a seis dias.
Contam que, à semelhança de Nina, com quem viajaram na mesma carinha que chegou à cidade berço a 15 de março, foi através do Facebook que obtiveram informações sobre as condições que Portugal oferecia a refugiados ucranianos, designadamente, “comida, trabalho, tudo”.
O “sossego, a tranquilidade, as paisagens” e o conselho de um amigo com ligações a Angola, foram fundamentais para que escolhessem Portugal como destino de fuga à guerra e arriscaram vir “à sorte”, sem conhecer nada nem ninguém.
Os quatro moram num apartamento que pertence ao CSPP, que vai custear as despesas relativas à habitação, durante um ano. Após esse período, será feito um contrato de arredamento, a preço acessível.
Os filhos Daria e Juliia também já frequentam escolas do concelho, onde foram “muito bem acolhidos e integrados” pelos estabelecimentos de ensino e colegas.
Questionadas sobre um possível regresso à Ucrânia, esta, parece ser, neste momento, uma realidade muito distante.
“Vivo um dia de cada vez. Amanhã não sei”, respondeu Juliia.
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