No vídeo, os dois homens fazem um apelo, surgindo em separado, fazem o mesmo apelo ao primeiro-ministro britânico para que negocie a sua troca por Viktor Medvedchuk, empresário ucraniano de 67 anos com fortes vínculos a Vladimir Putin e que foi capturado quando tentava fugir da Ucrânia.

O primeiro cidadão a ser detido trata-se de Aiden Aslin, conhecido também como Johnny, sendo o britânico que surge algemado e com um corte na testa nas imagens. Natural do Nottinghamshire, o The Guardian adianta que se crê que Aslin se tenha rendido depois do seu batalhão ficar sem munições.

Aslin alistou-se em 2018 na Marinha ucraniana e comprou uma casa no país para constituir família com a sua noiva, depois de ter combatido ao lado das forças curdas contra o ISIS na Síria, adianta o  jornal britânico Daily Telegraph

A sua mãe, Ang Wood, disse a este mesmo meio de comunicação que reconheceu o homem de 28 anos devido a uma tatuagem distintiva que conseguiu vislumbrar nas imagens.

“O Aiden é um membro ativo das forças armadas ucranianas” e, sendo “um prisioneiro de guerra, deve ser tratado com humanidade” e de acordo “com os termos da Convenção de Genebra”, defendeu a mãe.

“Já parece ter sido espancado, é tempo de o Governo britânico se envolver para garantir a libertação de Aiden, porque ele ainda é um cidadão britânico”, acrescentou.

Já o segundo é Shaun Pinner, de 48 anos, natural do Bedfordshire e veterano do exército britânico que se juntou às forças de defesa ucranianas. “Olá, eu sou o Shaun Pinner, sou um cidadão do Reino Unido. Fui capturado em Mariupol”, diz no vídeo emitido pela televisão russa, adiantando que depois de defender a cidade durante cinco a seis semanas, foi transportado para “a República Popular de Donestk”.

Segundo um comunicado emitido pela família, Pinner fez parte do Regimento Real Anglicano e mudou-se para a Ucrânia há quatro anos para apoiar as forças armadas do país com a sua experiência. A nota caracteriza-o como um soldado respeitado no exército britânico e como uma pessoa “divertida, muito amada e bem intencionada”, como se pode ler no The Guardian.

“O Shaun gosta do modo de vida ucraniano e considera a Ucrânia o seu país adotivo. Durante estes quatro anos, ele conheceu a sua mulher ucraniana, que trabalha em causas humanitárias para o país”, continua o texto.

Ele progrediu nos marines ucranianos como um membro orgulhoso dessa força”, defende ainda a família, frisando que Pinner “não é um voluntário ou um mercenário, servindo oficialmente no exército ucraniano de acordo com a lei ucraniana”.

A família de Pinner informa ainda que está a trabalhar em conjunto com a família de Aslin e com o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânicos para garantir que os dois soldados capturados são tratados de forma humana.

Pinner, de resto, já tinha expressado publicamente os temores de ser capturado pelos russos. Numa entrevista dada em janeiro ao Mail on Sunday, o soldado disse “temer pela vida”. “Os russos vão tratar-nos de forma diferente porque somos britânicos. Isto está sempre presente na minha mente, de que vamos ser apanhados”, disse, sublinhando, porém, estar a combater para proteger a sua família e cidade adotiva. “A Rússia começou esta guerra, é financiada e dirigida pela Rússia, mas nós vamos lutar contra eles, que não haja dúvidas”, frisou.

No vídeo divulgado pela TV russa, os dois britânicos pedem uma troca por Medvedchuk, não especificando se foram detidos por forças russas ou por aliados separatistas de Moscovo na região de Donetsk, no leste da Ucrânia. O episódio assinala uma escalada da guerra de propaganda entre Kiev e o Kremlin.

“Muita coisa aconteceu nas últimas cinco ou seis semanas de que não estou a par. Obviamente que sei que o senhor Medvedchuk foi detido e queremos ser trocados, eu e Aiden Aslin, por ele”, diz Pinner, com um ar visivelmente exausto. Dirigindo-se a Boris Johnson e falando pelos dois, Pinner agradece a ajuda e garante ter sido bem tratado pelas forças russas. “Fui alimentado e deram-me água, é tudo o que posso dizer”, afirma.

As gravações foram apresentadas como entrevistas ao jornalista russo Andrei Rudenko, que quando fala com Aiden Aslin, é possível ver que este enverga uma t-shirt do batalhão Azov, as forças de defesa ucranianas nacionalistas e de extrema-direita. Não foi, porém, possível confirmar quando é que os vídeos foram gravados e se Aslin foi forçado a vestir tal peça.

O repórter mostrou aos dois homens um vídeo divulgado na semana passada por Oksana Marchenko, esposa de Medvedchuk, que pede a troca do marido pelos dois britânicos. De seguida, os dois pedem a troca, em inglês.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico já fez saber que está a apoiar as famílias dos dois homens. No entanto, a capacidade do Reino Unido de providenciar ajuda consultar ou obter informação quanto aos cidadãos britânicos tem sido extremamente limitada pela guerra.