Três dias foi o tempo que bastou para o Governo — e praticamente toda a gente — reconhecer que as medidas de confinamento e combate à covid-19 não eram suficientes para lidar com o tsunami de casos que o país enfrenta.

No próprio dia em que teve início este novo “lockdown” fizeram-se balanços, em notícias ou através de desabafos nas redes sociais, de que este pouco tinha a ver com o que enfrentámos em março, pelo menos medindo pela quantidade de pessoas que tinham saído à rua quando tinha sido expressamente proibido fazê-lo.

Ao longo do fim de semana, foram-se repetindo os apelos — principalmente por parte de Marcelo Rebelo de Sousa — para que as pessoas respeitassem as novas regras e não procurassem exceções para saírem de casa. Tal, como veremos, não aconteceu, nem mesmo com os avisos desesperados da ministra da Saúde, Marta Temido, de que os nossos sistemas de saúde estão no limite.

Por fim, no domingo à noite, a RTP avançou com o que muitos esperavam e outros tantos temiam: o Governo iria hoje reunir novamente em Conselho de Ministros para avaliar mais restrições. Dificilmente haverá quem tenha ficado chocado com estes desenvolvimentos, especialmente quando se constata que Portugal é o país com maior número de novos casos de covid-19 por milhão de habitantes.

Se esse dado choca, veja-se este: mesmo com a contagem de mais de uma centena de óbitos por dia e de mais de 10 mil novos casos diários, a redução da movimentação das pessoas desde o fim de semana anterior para este fim de semana de confinamento foi de apenas 30%.

Sem admiti-lo formalmente, o Governo fez um mea culpa, já que mais que coloque a tónica do discurso na responsabilidade individual — que, de facto, é uma parte significativa do combate —, foi forçado a refazer o plano três dias depois, perante os pedidos do PSD, CDS ou da Ordem dos Médicos de medidas mais severas.

E elas, enfim, chegaram. Ao fim da tarde, António Costa anunciou que as vendas ao postigo seriam proibidas (exceptuando refeições), tal como deixar-se descansar num jardim. Voltou a ser interdito atravessar concelhos ao fim de semana, centros de dia vão encerrar e o primeiro-ministro pediu aos autarcas do país que impeçam os seus munícipes de passear em zonas ribeirinhas. Para além disso, todos os estabelecimentos têm de fechar às 20:00 nos dias de semana e às 13:00 ao fim de semana (com exceção para supermercados, que podem ficar abertos até às 17:00. Pediu-se, e o Governo deu.

Com estas restrições, o país aproxima-se de março, mas com mudanças de peso: apesar das pressões, o executivo não cedeu quanto às escolas, que vão continuar abertas e, em sentido contrário ao que foi o pendor do dia, anunciou que os ATL’s vão afinal continuar abertos.

Há, todavia, uma questão de fundo que falta ser abordada. Porquê? Porque pedimos estas medidas? Porque é que temos mantido esta tendência para desvalorizar a pandemia num momento em que ela se afigura mais grave do que nunca? A resposta não é fácil nem óbvia, mas há quem a arrisque.

De acordo com o bastonário dos Psicólogos, começa a reunir-se o consenso de que estamos cansados da pandemia e consideramo-la menos perigosa do que antes. Para além disso, não só a comunicação do Governo não tem sido boa, como as suas ferramentas de apoio à saúde mental da população têm sido insuficientes.

A estes problemas, António Costa pediu que os portugueses tenham um “sobressalto cívico”, que se concentrem nas regras e não nas exceções. Oxalá acordemos.

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