Segundo o Chicago Sun-Times, o procurador do condado de Cook emitiu um mandado de captura sem fiança por Robert Sylvester Kelly, o nome verdadeiro do cantor de 52 anos, tendo este de apresentar-se perante um tribunal a 8 de março.

As acusações remetem para casos ocorridos entre 1998 e 2010 e envolvendo quatro mulheres, três delas menores à época dos crimes, com idades entre os 13 e os 16 anos.

O advogado de R. Kelly, Steven Greenberg, disse nesta manhã que ainda não tinha sido notificado da acusação ao seu cliente, mas o jornal diário apurou que os procuradores do condado de Cook se apresentaram perante um juiz durante a tarde para obter o mandado de captura.

A acusação surge depois do advogado Michael Avenatti ter, a 14 de fevereiro, entregue ao procurador uma cassete VHS onde o cantor, alegadamente, aparece a ter relações sexuais com uma menor. Não se sabe se as acusações estão diretamente relacionadas com esta nova prova, mas Avenatti aludiu na sua conta de Twitter que "depois de 25 anos de abuso sexual e ataques a raparigas menores, o dia do acerto de contas chegou para R.Kelly".

O advogado, que também defende a atriz pornográfica Stormy Daniels no seu litígio com o presidente Donald Trump, defende que o vídeo de 45 minutos é inédito, e nele podem ver-se relações sexuais entre Robert Sylvester Kelly, seu nome de batismo, e uma menina "menor". Com base nesta prova, o advogado afirmou que quer "levar este predador à justiça".

Já em janeiro, Greenberg tinha defendido numa entrevista à Associated Press  que o cantor "nunca teve relações sexuais com conhecimento de que as mulher era menor de idade, nunca forçou ninguém a fazer nada, nunca manteve ninguém cativo, nunca abusou ninguém".

As palavras de Greenberg referem-se às acusações de pedofilia e agressão sexual que pendem sobre R. Kelly há décadas,  apesar de grande parte não ter resultado em acusações formais. A exceção remete para 2002, quando o cantor foi indiciado por 21 crimes num caso de pornografia infantil relativo a uma gravação que fez em 1998. Nesse vídeo, R.Kelly parecia também estar a abusar sexualmente de uma rapariga de 14 anos, mas o cantor foi ilibado em 2008.

No ano passado, R. Kelly foi acusado de ter um culto sexual de mulheres cativas contra a sua vontade, abusando delas física e mentalmente. Já em 2019, o seu nome veio à tona novamente após o lançamento, no início do ano, do documentário de seis horas "Surviving R.Kelly", onde várias mulheres o acusam de abusos sexuais e comportamento predatório que durará há várias décadas.

R. Kelly esteve casado, por um breve período, em 1994, com a jovem estrela Aaliyah, de 15 anos, união que os pais terão anulado posteriormente. A cantora e atriz faleceu num acidente aéreo.

O acumular de acusações começou a ter repercussões profissionais para o músico. A plataforma de streaming de música Spotify optou por retirar R.Kelly das suas playlists no ano passado, mas voltou atrás na sua decisão depois de vários artistas, como Kendrick Lamar, ameaçarem boicotar o serviço por considerarem a iniciativa uma forma de censura. No entanto, o crescer da contestação pública ao cantor foi uma das razões para a empresa sueca estrear o botão de "mute" na plataforma, que permite aos utilizadores ocultar as músicas de um determinado artista.

No entanto, com o lançamento do documentário neste ano, vários artistas começaram a distanciar-se e a renegar trabalhos que tiveram com o cantor, como Lady Gaga, que pediu para remover a canção "Do What U Want", assinada com ele, de todas as plataformas de streaming. Outra consequência para R.Kelly foi o facto da editora Sony Music ter rescindido o contrato que tinha o cantor.