Numa conferência de imprensa sobre a visita do secretário-geral da NATO a Portugal, o líder comunista, Paulo Raimundo, foi questionado sobre a notícia divulgada pela RTP na sexta-feira de que Hernâni Dias criou duas empresas que podem beneficiar com a nova lei dos solos, uma área que tutela enquanto secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território.

“A lei dos solos, que justamente contestámos, já está a fazer das suas. Ainda a lei não está em vigor e já está, às claras, o que é que vai acontecer quando ela entrar em vigor”, começou por defender.

Para Paulo Raimundo, o primeiro-ministro, Luís Montenegro “terá que assumir a responsabilidade deste caso, terá que tomar todas as consequências que decorrem deste caso”.

“Se alguém tem que agir, não é nós exigirmos a demissão. Se alguém tem que agir de forma rápida é o senhor primeiro-ministro”, disse.

Sem menosprezar o caso em concreto, de quem tinha uma “visão empresarial de quem sabia que a lei ia mudar e portanto encontrou uma solução para fazer uma belo negócio”, o líder do PCP defendeu que “a questão de fundo está na alteração da lei dos solos”.

“Ainda não entrou em vigor e já está a comprovar-se aquilo que nós alertámos que ia acontecer: a alta especulação em torno dos terrenos rústicos, alto campo para o desornamento do território, altos ataques ambientais e espaço para negociatas, como aquela que estamos a assistir”, condenou.

Na sexta-feira, a RTP noticiou que o secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Hernâni Dias, criou duas empresas que podem agora beneficiar com a nova lei dos solos, sendo que é governante do ministério que tutela essas alterações.

Uma semana antes, o mesmo canal de televisão avançou que Hernâni Dias está a ser investigado pela Procuradoria Europeia e é suspeito de ter recebido contrapartidas quando foi autarca de Bragança.

De acordo com a RTP, a propriedade de um imóvel ocupado no Porto pelo filho de Hernâni Dias pertence ao filho de um dos sócios de uma construtora que ganhou o concurso para a ampliação da zona industrial de Bragança.

Esta terça-feira, num comunicado enviado à agência Lusa, Hernâni Dias recusou ter cometido qualquer ilegalidade, afirmando que está “de consciência absolutamente tranquila” e que agiu “com total transparência”.