Numa declaração na sede nacional do PCP, em Lisboa, no dia seguinte ao Presidente da República ter marcado eleições legislativas antecipadas para 10 de março, Paulo Raimundo defendeu que “quanto mais força o PCP e a CDU tiverem, mais próximo e possível estará o avanço das condições de vida, a conquista de direitos”.

“É isso que está em decisão: fazer das próximas eleições uma oportunidade para dar mais força ao PCP e à CDU. Uma oportunidade para romper com a política de direita e abrir o caminho a uma política capaz de dar soluções aos graves problemas que atingem o país”, sustentou.

Para o líder do PCP, os últimos anos demonstram que, “para lá das proclamações de esquerda com que o Governo do PS se enfeitou”, a verdade é que, não só “não foi um obstáculo à política de direita, como foi o seu protagonista”.

“Mais ainda, o PS não só não fez frente às forças reacionários como animou, e tem animado, a sua agenda e objetivos”, defendeu, considerando que a maioria absoluta socialista se “colocou ao serviço dos grupos económicos” e convergiu com as posições de PSD, CDS, Chega e IL.

Questionado se, caso Pedro Nuno Santos venha a assumir a liderança do PS, o PCP admite uma nova ‘geringonça’, Paulo Raimundo reiterou que a “única garantia” para responder aos problemas das pessoas é reforçar o PCP e a CDU.

“Reforçar o PCP e a CDU no plano eleitoral é a questão determinante e, com esse reforço que vamos ter, abrir esse caminho para dar resposta aos problemas das pessoas”, referiu.

Perante a insistência dos jornalistas, Paulo Raimundo salientou que os últimos anos demonstraram que, “quando o PCP e a CDU crescem, isso tem consequências positivas na vida das pessoas”.

“Há uma coisa que é uma evidência, que os senhores conhecem da nossa experiência de todos os dias: sejam lá quais forem as circunstâncias, o PCP nunca falhou a tudo o que é positivo e sempre se opôs a tudo o que é negativo, seja lá em que circunstância for”, observou.

Interrogado se uma eventual eleição de Pedro Nuno Santos como secretário-geral do PS poderia aproximar os socialistas do PCP, por representar corrente política mais à esquerda, Paulo Raimundo sublinhou que o seu partido não vai fazer “qualquer declaração ou consideração em plena fase de arrumação da casa do PS”.

“Nós não gostamos que se metam nos nossos assuntos internos, também não nos queremos meter nos assuntos internos dos outros”, disse.

No entanto, o dirigente comunista destacou que todas as “eventuais correntes divergentes [do PS] suportam esta maioria absoluta com as opções que tomaram”, o que mostra que as pessoas podem ser “muito importantes, mas as questões de fundo não são as pessoas, são as opções políticas”.

“Essa é que é a questão determinante, isso é que determina. É uma comprovação de vários anos a esta parte e não vale a pena pensar-se que, mais uma vez, vai ser possível pôr o contador a zero”, sublinhou.

Paulo Raimundo reforçou que “o que determina são as opções políticas e as opções políticas recentes estão aí à vista”.

O primeiro-ministro, António Costa, pediu na terça-feira a demissão ao Presidente da República, que a aceitou.

António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e o ‘data center’ de Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.

Na investigação, de acordo com a Procuradoria-Geral da República, podem estar em causa os crimes de prevaricação, corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e tráfico de influência.

No dia da demissão, António Costa recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável” e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça.