O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados afirma ter documentado numerosos casos de violência sexual contra homens e rapazes sírios, depois de terem entrevistado 196 refugiados e 73 trabalhadores humanitários.

“Tem havido relatórios sobre abusos sexuais contra mulheres e raparigas sírias. Mas esta questão é o lado menos conhecido desta história sórdida: os (vítimas) homens”, afirmou à agência AFP o porta-voz do Alto-Comissariado, Andrej Mahecic, considerando que se tra de “um círculo vicioso”.

O documento especifica que, desde o início do conflito, em 2011, homens e rapazes têm sido vítimas de violência sexual, em centros de detenção e postos de controlo das fações armadas na Síria, mas também nos países que os acolheram como refugiados.

As formas de violência sexual são, entre outras, choques elétricos e queimaduras com cigarros nas partes genitais e no ânus, a castração e a violação em grupo.

“Um dos meus tios na Síria foi detido. Alguns meses depois da sua libertação, disse-nos — depois de se ter desfeito em lágrimas à nossa frente — que não tinha uma parte do seu corpo”, que lhe tinha sido tirada “com um berbequim elétrico”, disse Ahmad, um refugiado sírio na Jordânia. “Depois da sua libertação, deixou de comer e tornou-se alcoólico. Morreu depois de uma insuficiência renal”, acrescentou.

O grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero) é particularmente visado.

“Não há um único (membro da comunidade LGBT) que não tenha sofrido violência sexual. Aconteceu a todos”, assegurou Mazen, transgénero citado no relatório.

Nos países que acolhem refugiados sírios, os rapazes e os homens são objeto de chantagem para os forçar a ter relações sexuais ou foram explorados pelos seus empregadores, ainda segundo o documento.

Segundo a Organização das Nações Unidas, estes abusos tiveram consequências “psicológicas terrivelmente debilitantes” sobre famílias inteiras.

Os rapazes vítimas de abuso, por vezes, abandonaram a escola e foram, como os homens, rejeitados, apontados e ameaçados de morte.

As vítimas têm medo de ser estigmatizados se falarem da sua experiência e os trabalhadores sociais, por vezes, não têm pessoal ou ignoraram os seus testemunhos.

“As vítimas evitam pedir ajuda aos serviços de assistência e responsabilizam-se a eles próprios pela sua situação. Isto reforça o mito de este ser um problema raro. Este estudo mostra o contrário”, disse Mahecic.

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