Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, anunciou que já pediu ao presidente da Comissão de Trabalho que a audição do ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, aprovada na quarta-feira, seja marcada “com caráter de urgência” ainda para esta semana.

“O Governo não deve ir de fim de semana deixando este manto de suspeição avolumar-se”, defendeu.

Para o PSD, é “a dignidade das instituições e do próprio Governo” que exige que o ministro Vieira da Silva possa “tão rápido quanto possível” prestar esclarecimentos ao parlamento.

“A situação que envolve uma instituição com um trabalho absolutamente meritório criou uma onda geral de indignação que não pode perpetuar-se sob pena de alastrar a todo o setor social”, alertou.

Questionado se pode estar em causa a continuidade de Vieira da Silva no Governo, o líder parlamentar do PSD sublinhou que o partido “nunca pediu a demissão de ministros”, considerando que a competência da escolha e manutenção dos membros do executivo compete ao primeiro-ministro, António Costa.

“Mas não me parece muito relevante aquilo que o primeiro-ministro disser hoje sobre a manutenção do ministro Vieira da Silva. Já várias vezes o primeiro-ministro garantiu a confiança política absoluta nos seus ministros e secretários de Estado e no dia seguinte eles saíram”, afirmou, considerando que, nesta matéria, a palavra de António Costa “tem muito pouco de honrada”.

Sobre o apelo dos trabalhadores da Raríssimas a uma intervenção de António Costa, Hugo Soares salientou que “ainda ninguém ouviu uma palavra do primeiro-ministro” sobre o caso, mas reiterou que, neste momento, é o ministro Vieira da Silva que tem de prestar explicações.

O líder parlamentar do PSD considerou ainda que as notícias que têm vindo a ser publicadas sobre o caso “avolumam as suspeitas sobre a conduta” do ministro do Trabalho.

“Aparentemente, um dia antes de tomar posse, o ministro Vieira da Silva caucionou as contas daquela instituição, aparentemente viajou para a Suécia e participou em cerimónias daquela instituição. Há um conjunto de suspeitas que quem governa não pode deixar que recaiam sobre si”, defendeu.

Questionado sobre a auditoria que estará a decorrer na Raríssimas desde 31 de julho, Hugo Soares reiterou que o PSD nada sabia sobre este processo e só dele tomou conhecimento através da deputada do PS Idália Serrão, que na quarta-feira se referiu a ela no plenário da Assembleia da República, em resposta a uma declaração política dos sociais-democratas.

“Já requeremos formalmente essa auditoria para saber quando se iniciou e o que a motivou”, afirmou Hugo Soares.

A comissão de Trabalho e Segurança Social aprovou na quarta-feira por unanimidade um requerimento do PS para que o ministro Vieira da Silva preste esclarecimentos sobre o caso relativo a suspeitas de gestão danosa na associação Raríssimas, mas não ficou então marcada uma data para a audição.

Uma reportagem emitida pela TVI no sábado denunciou o alegado uso, pela presidente, de dinheiro da associação de ajuda a pessoas com doenças raras, a Raríssimas, para fins pessoais.

Na reportagem era também adiantado que o secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, foi contratado entre 2013 e 2014 pela associação Raríssimas, com um vencimento de três mil euros por mês, tendo recebido um total de 63 mil euros.

Paula Brito e Costa e Manuel Delgado anunciaram na terça-feira que se demitiam dos respetivos cargos.

Hoje, os trabalhadores da Raríssimas avisaram que a associação está em risco de fechar por falta de acesso às contas bancárias e apelaram ao primeiro-ministro para que envie uma direção idónea para permitir o funcionamento.

Na quarta-feira, elementos da Inspeção-geral do Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social estiveram na Associação Raríssimas para dar início à inspeção na instituição.

[Notícia atualizada às 12:50]