“A crise está a empurrar a Bielorrússia para a Rússia, e não a Bielorrússia e Rússia uma para a outra. Para a Ucrânia, qualquer reforço das posições da Rússia na Bielorrússia é uma ameaça para a segurança nacional da Ucrânia”, indicou Dmytro Kuleba em conferência de imprensa conjunta, no Palácio das Necessidades, com o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
O chefe de diplomacia de Kiev deslocou-se a Lisboa onde participou numa reunião de trabalho com Augusto Santos Silva, para abordar o relacionamento entre os dois países, a relação da Ucrânia com a União Europeia (UE)e com a NATO, a crise política na Bielorrússia e a situação no leste da Ucrânia.
“A Ucrânia está interessada numa Bielorrússia independente e soberana, onde floresçam a democracia e a economia de mercado, e lamentamos profundamente que no decurso desta crise a situação na Bielorrússia mude para pior, sublinhou Dmytro Kuleba na resposta a uma questão dos jornalistas.
No entanto, e numa referência aos acontecimentos de terça-feira na fronteira bielorrussa-ucraniana, com a detenção de uma dirigente de oposição que tentava entrar na Ucrânia, para além de outros ativistas que conseguiram entrar no seu país, fez uma advertência a Minsk e Moscovo.
“Temos fortes razões para acreditar que estas pessoas não entraram na Ucrânia voluntariamente, e emiti uma declaração muito firme ao referir que a fronteira da Ucrânia é livre e está aberta aos cidadãos da Bielorrússia, mas que reagiremos firmemente a qualquer tentativa de abusar da abertura da Ucrânia pelos serviços de informações bielorrussos ou russos”, afirmou o chefe da diplomacia ucraniano.
O ministro assinalou, no entanto, que a situação no país vizinho deve implicar o reforço de Kiev ao povo da Bielorrússia.
“Apesar de a Ucrânia ter restringido a entrada de estrangeiros em setembro, excluímos os cidadãos bielorrussos desta restrição”, indicou. “Consideramos que a imigração livre em tempos de crise também comporta alguns riscos, mas acreditamos que neste momento é mais importante apoiar o povo da Bielorrússia, os que fogem do país devido à repressão, violação dos direitos humanos”.
No início da sessão, os dois ministros assinaram o Roteiro das relações Portugal-Ucrânia 2020-2022, e manifestaram a intenção de reforço das relações bilaterais e entre Kiev e a UE, como sublinhou Santos Silva.
“A Ucrânia é um dos seis países da Parceria oriental com a UE, tema a que Portugal dá muita atenção, será durante a presidência portuguesa semestral da UE [que se inicia em janeiro de 2021] que vai decorrer a cimeira com a Parceria oriental”, indicou, após recordar a colaboração no âmbito da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e o acordo de Associação entre Kiev e Bruxelas.
O ministro português destacou ainda o laço particular que une os dois países, numa referência à comunidade ucraniana residente em Portugal.
“Constituem a quinta comunidade estrangeira mais importante a residir em Portugal, são cerca de 30 mil pessoas muito bem integradas e que têm contribuído muito positivamente quer para a economia quer para a vida social portuguesa”.
Augusto Santos Silva também destacou a “agenda muito rica” da cooperação bilateral, e numa referência ao Protocolo hoje assinado e em vigor para os próximos dois anos recordou que “acrescenta às áreas em que habitualmente cooperamos, da economia à segurança, a área da saúde, que a pandemia nos veio recordar ser muito importante”.
Na sua vista a Lisboa, Dmytro Kuleba também estabeleceu contactos com empresários, e esta tarde tem previsto um encontro com o ministro de Economia e Transição Digital, Pedro Siza Vieira.
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