“As medidas ontem [quinta-feira] anunciadas são importantes. A contratação de mais médicos, mais enfermeiros, mais assistentes operacionais e mais técnicos de diagnóstico e terapêutica é absolutamente fundamental para o funcionamento dos hospitais. Mas os incentivos não chegam. Acho que este é o momento das pessoas pensarem que estes profissionais de saúde devem ser valorizados”, referiu Miguel Guimarães.

O bastonário da OM, que falava aos jornalistas à saída de uma visita no Hospital de Santo António, no Porto, onde foi conhecer o plano de retoma da atividade programada deste centro hospitalar, frisou que em causa estão “pessoas responsáveis por salvar vidas”.

“Um dos países da Europa em que o trabalho dos profissionais de saúde é mais desvalorizado é Portugal. Se pensarmos na Europa Ocidental, é verdadeiro, ficamos mesmo em baixo”, lamentou Miguel Guimarães.

O bastonário defendeu que “este é o momento de reforçar a capacidade de resposta” de constituir uma “reserva de recursos humanos e equipamentos necessários para dar resposta adequada em situações de stress”, nomeadamente ao nível dos cuidados intensivos.

“Quando uma situação destas voltar a acontecer — e isto ainda não terminou, mas as coisas estão controladas [referindo-se à pandemia da covid-19] — termos capacidade de resposta para responder ao mesmo tempo para os doentes não covid”, frisou.

Miguel Guimarães contou, ainda, que teve acesso “há cerca de duas semanas” a dados da Administração Regional de Saúde do Norte sobre doentes à espera para cirurgia e, apontou, “existiam mais doentes à espera para serem operados em fevereiro do que há duas semanas”.

“Isto significa que o número de doentes inscritos para cirurgia agora foi extraordinariamente baixo. Quando a senhora ministra da Saúde diz que faltam recuperar 51 mil doentes aos quais adiaram as cirurgias, são os 51 mil que estão em lista de espera, mas durante três meses podíamos ter inscrito 50 ou 100 mil doentes para serem operados e não inscrevemos porque tudo ficou mais ou menos parado”, afirmou.

O primeiro-ministro afirmou hoje que, até ao final do ano, serão contratados mais 2.700 profissionais de saúde e que será consolidada a situação laboral de 2.800 contratados na fase de emergência de combate à covid-19.

O anúncio deste plano de contratações no Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi transmitido por António Costa no final do Conselho de Ministros, que aprovou o Programa de Estabilização Económica e Social.

Falando sobre um dos pilares do Programa de Estabilização, o líder do executivo disse que está previsto um reforço do SNS, que, em primeiro lugar, se traduzirá “na consolidação laboral dos cerca de 2800 profissionais que contratámos nesta fase de emergência”.

“Vamos reforçar em mais 2700 profissionais a contratar até ao final do ano para aumentar a capacidade de resposta do SNS nas suas diferentes dimensões”, completou o primeiro-ministro.

No domínio da saúde, o líder do executivo classificou como “absolutamente prioritária” a recuperação da atividade assistencial.

Retoma da atividade programada não pode ser impedida

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) defendeu hoje que a retoma da atividade programada nos hospitais embora gradual não deve ser impedida em função da zona do país que regista mais ou menos casos de covid-19.

“A retoma tem de ser gradual e é o que está a acontecer nos hospitais, nomeadamente aqui no Norte como constatamos hoje, mas acho que é um erro neste momento estar a impedir, nomeadamente nos hospitais de Lisboa, que a retoma se vá exercendo”, disse Miguel Guimarães.

O bastonário da OM comentava assim o facto de neste momento alguns hospitais da zona de Lisboa e Vale do Tejo estarem a sentir uma pressão maior devido ao número de casos do novo coronavírus, que agora se concentra nessa região.

Mas convidado a comentar se admite uma retoma da atividade programada a duas velocidades, Miguel Guimarães disse que “os doentes não podem esperar mais, têm de ser observados, têm de fazer os exames complementares de diagnóstico e têm de ser operados”.

“É um número muito grande de doentes que pode ter uma implicação muito grande na morbilidade e até na própria mortalidade”, referiu.

O bastonário da OM aproveitou para fazer um apelo para que as pessoas deixem de ter medo de regressar aos hospitais e centros de saúde, garantindo que estes “estão organizados” e têm “circuitos independentes covid e não covid”.

“As pessoas não podem ter medo de vir aos hospitais. Têm de continuar a ter respeito pela infeção e seguir as recomendações da DGS [Direção-Geral da Saúde], mas retomar a vida normal não é só supermercados ou restaurantes, inclui os serviços de saúde”, concluiu.

Portugal contabiliza pelo menos 1.465 mortos associados à covid-19 em 33.969 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgado hoje.

Relativamente ao dia anterior, há mais 10 mortos (+0,7%) e mais 377 casos de infeção (+1,1%).

O número de pessoas hospitalizadas subiu de 445 para 475, das quais 64 se encontram em unidades de cuidados intensivos (mais seis).

O número de doentes recuperados é de 20.323.

Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, que sexta-feira foi prolongado até 14 de junho, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.

Esta fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório apenas para pessoas doentes e em vigilância ativa e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.

Novas medidas entraram em vigor na segunda-feira, 01 de junho, com destaque para a abertura dos centros comerciais (à exceção da Área Metropolitana de Lisboa, onde continuarão encerrados até 14 de junho, pelo menos), dos ginásios ou das salas de espetáculos.

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