![Refugiados afegãos podem voltar a esquiar e a sentir a brisa da](/assets/img/blank.png)
“O snowboard foi uma razão para sobreviver”, disse à AFP Musawer Khanzai, refugiado na França há dois anos, depois de ter "perdido tudo" na sua terra natal.
Musawer Khanzai cresceu em Cabul. Tinha 18 anos quando as tropas estrangeiras, lideradas pelos Estados Unidos, se retiraram do país, em agosto de 2021, deixando os Talibãs livre para governar novamente.
Na época, o adolescente fazia parte de um pequeno círculo de praticantes de snowboard afegãos, o único grupo do país, com quase 20 pessoas.
Embora a paisagem do Afeganistão seja marcada por montanhas, com a imponente Hindu Kush, com picos de mais de seis mil metros, não há infraestruturas ou resorts para desportos de neve.
Os jovens costumavam subir as encostas nevadas e, na ausência de instrutores, aprendiam com vídeos do YouTube, explica Musawer Khanzai.
Antes de os Talibãs voltarem ao poder, o snowboard permitia-lhes descansar num país instável e violento. “O desporto sempre esteve ao serviço da paz, não da guerra”, enfatiza o jovem.
“Apesar de ainda estarem num nível baixo de exigência, estavam cheios de esperança”, lembra o francês Victor Daviet, um snowboarder profissional de 35 anos. Daviet e os "riders" afegãos conheceram-se numa competição internacional no Paquistão.
Graças a Victor Daviet e à sua associação “Snowboarders of solidarity”, Khanzai conseguiu fugir do seu país e sete outros atletas conseguiram obter um visto para viver em França em 2022.
Uma “aventura louca”, resume o atleta francês, que o obrigou a mover montanhas durante um ano e a bater em todas as portas para conseguir fazer frente à burocracia e aos inúmeros procedimentos administrativos da imigração dos jovens afegãos.
“Tivemos muita sorte. É quase um milagre”, diz Victor Daviet, que os acolheu quando chegaram e agora os considera como seus "irmãos e irmãs".
No Afeganistão, os jovens snowboarders receberam ameaças de morte por simplesmente praticarem a atividade, vista como um comportamento “ocidental”, ainda mais pelo facto de o fazerem numa equipa mista.
“Os Talibãs não gostam que meninas e meninos pratiquem desporto juntos”, explica Nasima Zirak, uma jovem afegã refugiada com 23 anos.
Assim como Musawer Khanzai, a rapariga de cabelos pretos agora vive em Annecy, aos pés dos Alpes, e fala francês fluentemente. O rapaz trabalha numa loja e Nasima estuda design gráfico. Ambos estão integrados no novo país.
“Trabalho e pratico desporto”, diz Nasima, “a grande liberdade”. Hoje seria impensável fazê-lo no Afeganistão, onde o governo talibã impõe restrições severas às mulheres.
E, por isso, nenhum perde a oportunidade de, sempre que possível, praticar o desporto nas estações de ski mais próximas.
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