"Temos aqui um conjunto de características meteorológicas que estão a potenciar esta perceção de odores, nomeadamente esta última semana e mesmo no início de janeiro, […] que tem umas características a acre/azeitonas e que, portanto, são de certa forma atípicas para esta localização”, afirmou a investigadora Sofia Teixeira, do departamento de qualidade do ar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Em declarações à agência Lusa, a investigadora apontou como características meteorológicas o registo de ventos oriundos do quadrante sul sudeste, com “uma inversão térmica muito baixa, que faz com que os próprios gases fiquem aprisionados numa camada mais baixa da atmosfera” e que se possa percecionar ainda mais os odores.
Além disso, verifica-se “uma intensidade de vento moderada, que tem vindo a promover a dispersão das massas de ar para localizações mais afastadas”, indicou Sofia Teixeira, referindo que o conjunto destas características meteorológicas faz com que numa região mais alargada, incluindo, por exemplo, Sintra, Almada e Sesimbra, seja detetado em simultâneo este tipo de odor a acre/azeitonas.
Sobre a existência de uma massa de ar proveniente dos desertos do Norte de África, que transporta poeiras em suspensão, que está prevista atravessar hoje Portugal continental e que levou a Direção-Geral da Saúde (DGS) a recomendar à população em geral para evitar esforços prolongados e atividades físicas ao ar livre e aos idosos e crianças a ficarem em casa, a investigadora explicou que esta perceção de odores “nada tem a ver” com essas partículas.
Questionada sobre a origem deste mau cheiro que se faz sentir na região de Lisboa e Vale do Tejo, a investigadora disse que “poderá ser transversal a diversos setores de atividade, mas os mais comuns poderão ser a indústria do processamento do bagaço de azeitona ou até mesmo o processamento de resíduos”.
Relativamente a possibilidade de o cheiro ser proveniente de um aterro, o que se sabe é que quando se trata de resíduos a dispersão dos odores “é muito mais centrada numa determinada localização e não tão dispersa numa região inteira de Lisboa e Vale do Tejo”.
“Portanto, o mais provável é que [o odor] possa estar relacionado com uma fonte fixa e que, depois, aliada a estas condições meteorológicas muito particulares possa promover esta deteção nestes vários locais em simultâneo”, acrescentou Sofia Teixeira.
Os investigadores da qualidade do ar estão a tentar identificar quais os processos que deram origem a este tipo de odor e quais é que são as atividades que fazem parte da fonte emissora que está a contribuir para a perceção de mau cheiro.
“Suspeitamos, ainda sem grandes certezas, que possa ser uma fonte emissora oriunda de uma localização mais a sul da região de Lisboa e Vale do Tejo, portanto o Alentejo poderá ser uma hipótese”, revelou a investigadora.
A identificação das fontes emissoras vai permitir perceber o que é que pode ser feito para minimizar os impactos da dispersão dos odores, ainda que em Portugal não existam normativos legais para se proceder em casos como este, ressalvou.
“O que estamos a fazer é mapear as localizações que têm vindo a surgir dos cidadãos, que têm vindo a queixar-se, por exemplo, através das redes sociais, e, depois mais para a frente, tentarmos identificar duas ou três possíveis fontes emissoras e dirigirmo-nos ao terreno e avaliar a situação”, referiu.
Relativamente às consequências deste tipo de odores, Sofia Teixeira disse que “não têm impactos diretos na saúde humana, têm é os impactos provocados pela incomodidade da perceção do tipo de odor” e pelos constrangimentos para fazer algumas atividades, por exemplo, abrir a janela de casa ou conseguir respirar um ar que não seja com este cheiro.
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