Embora não se saiba com precisão quando é que o fármaco estará acessível ao público, o medicamento – designado molnupiravir – demonstrou eficácia assinalável nos estudos efetuados. Segundo os resultados preliminares anunciados pela companhia no mês passado e que carecem ainda de revisão por cientistas externos, a toma do medicamento reduziu para metade hospitalizações e óbitos entre doentes numa fase precoce dos sintomas de covid-19.

O molnupiravir destina-se a ser tomado duas vezes por dia durante cinco dias por pessoas que estejam em casa com covid-19 ligeira a moderada e que tenham pelo menos um fator de risco de poder desenvolver doença grave.

Por enquanto, a Merck não avançou detalhes sobre potenciais efeitos secundários, assegurando apenas que a sua ocorrência foi similar entre as pessoas que receberam o medicamento e as que receberam placebos.

"Hoje é um dia histórico, pois o Reino Unido é o primeiro país do mundo a aprovar um antiviral que pode ser tomado em casa para a covid-19. Estamos a trabalhar em ritmo acelerado em todo o governo e com o NHS [Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido] para estabelecer planos para a distribuição de molnupiravir aos doentes através de um estudo nacional o mais rapidamente possível", disse o secretário britânico da Saúde, Sajid Javid, em comunicado.

O fármaco aguarda ainda a avaliação dos reguladores de Estados Unidos - Food and Drug Administration (FDA) – e da União Europeia – Agência Europeia do Medicamento (EMA). No entanto, uma decisão sobre a sua eventual autorização em solo americano pode acontecer ainda no final deste mês, quando um painel de peritos independentes se reunir para examinar a segurança e eficácia do molnupiravir.

A companhia farmacêutica, que desenvolveu o tratamento em parceria com o laboratório Ridgeback Biotherapeutic, anunciou também que os fornecimentos iniciais serão limitados, uma vez que grande parte da capacidade de produção até ao final deste ano – estimada em 10 milhões de esquemas terapêuticos – já foi adquirida por diversos governos a nível mundial.

Inicialmente concebido como uma potencial terapia da gripe e com financiamento do governo americano, este medicamento foi reorientado em 2020 por investigadores da Universidade Emory, no estado da Geórgia, para um possível tratamento da covid-19, sendo então licenciado para desenvolvimento por Ridgeback Biotherapeutic e Merck.

A ação do molnupiravir visa uma enzima que o SARS-CoV-2 usa para se reproduzir, inserindo erros no seu código genético que retardam a capacidade de se espalhar e tomar conta de células humanas. Essa atividade genética levou peritos independentes a questionar se o fármaco poderia eventualmente causar mutações conducentes a defeitos de nascença ou tumores, mas a Merck frisou que o fármaco é seguro quando utilizado segundo as instruções.

A farmacêutica anunciou ainda na última semana a sua permissão para que outros fabricantes possam produzir o seu comprimido, numa tentativa de ajudar milhões de pessoas em países mais pobres e com pouco acesso às vacinas.

O Medicines Patent Pool, um grupo apoiado pelas Nações Unidas, revelou que a Merck não vai receber ‘royalties’ por este acordo enquanto a covid-19 for considerada uma emergência global pela Organização Mundial da Saúde.

De acordo com os especialistas, um comprimido antiviral que reduz sintomas e acelera a recuperação pode revelar-se essencial no combate à pandemia, ao aliviar a sobrecarga dos hospitais e ajudar a travar surtos em países mais pobres e com sistemas de saúde frágeis.

A covid-19 provocou pelo menos 5.012.784 mortes em todo o mundo, entre mais de 247,54 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.180 pessoas e foram contabilizados 1.092.666 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.