Durante uma audição de mais sete horas com deputados das comissões parlamentares de Saúde e Ciência, Cummings disse que “é completamente absurdo que Johnson seja primeiro-ministro”, alegando que este inicialmente considerou a covid-19 “um susto”, como a gripe suína.
Cummings descreveu ainda o governo como “leões liderados por burros” e disse que o ministro da Saúde, Matt Hancock, deveria ter sido demitido por mentir.
“O secretário de Estado da Saúde deveria ter sido demitido por pelo menos 15-20 coisas, incluindo mentir em várias ocasiões em reunião após reunião no Conselho de Ministros e publicamente. Eu disse repetidamente ao primeiro-ministro que ele deveria ser despedido”, contou.
Porém, alegou Cummings, Johnson respondeu que iria manter o ministro “porque ele é a pessoa que será despedida quando acontecer o inquérito” público à gestão do executivo sobre a pandemia.
O assessor, que saiu em conflito do Governo em dezembro, revelou hoje que o primeiro-ministro não percebeu a dimensão do problema, e que estava mais preocupado com o impacto das medidas na economia do que com a doença, razão pela qual atrasou o primeiro confinamento nacional iniciado a 23 de março de 2020.
Sobre o segundo confinamento, em novembro, Cummings alega que Boris Johnson resistiu às recomendações dos cientistas para avançar em setembro e confirmou que ouviu o primeiro-ministro dizer que preferia ver “corpos empilharem-se aos milhares”, como noticiou a BBC.
“Eu ouvi isso no escritório do primeiro-ministro”, afirmou.
O primeiro-ministro negou em abril ter dito aquelas palavras numa intervenção na Câmara dos Comuns, o que pode ser considerado uma violação do regulamento de nunca mentir deliberadamente no Parlamento.
“Essencialmente, eu considerava que ele era inadequado para as funções e estava a tentar criar uma estrutura em torno dele para tentar parar o que eu pensava que eram decisões extremamente más e empurrar outras coisas contra a sua vontade”, reconheceu o antigo assessor.
Cummings, que pediu desculpas pelos seus próprios “erros”, lamentou que “dezenas de milhares de pessoas morreram que não precisavam ter morrido”.
O Reino Unido, que contou até agora quase 128 mil mortes oficiais, é o país da Europa mais afetado pela pandemia covid-19 e o quinto a nível mundial, atrás dos Estados Unidos, Brasil, Índia e México.
Comentários