A Operação Lava Jato, iniciada em 2014, revelou um complexo esquema de corrupção dentro da Petrobras envolvendo as empresas de construção mais poderosas do país, que pagavam comissões distribuídas a parlamentares da coligação no poder. Aqui fica um resumo dos acontecimentos.

4 de março - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) é interrogado pela Polícia Federal, que revistou o seu apartamento em São Paulo, a casa de vários colaboradores e as instalações do Instituto Lula. Esta operação aconteceu um dia depois de uma avalanche de novas acusações de corrupção, incluindo a divulgação de declarações da delação premiada do senador Delcídio do Amaral, que envolviam Lula e a presidente Dilma Rousseff. Lula defende-se com veemência das acusações durante uma conferência de imprensa, anuncia que vai lutar até ao fim e convoca os seus partidários a saírem às ruas.

7 de março - Lula declara a intenção de disputar a Presidência em 2018 e classifica de "canalhice homérica" as acusações que tentam atingi-lo. Dilma, que enfrenta a ameaça de um processo de impeachment por suposta maquilhagem das contas públicas, acusa a oposição de querer antecipar as eleições de 2018.

10 de março - O Ministério Público de São Paulo denuncia o ex-presidente por ocultação de património. Suspeita que Lula é dono de um elegante apartamento no Guarujá, o que o ex-presidente nega categoricamente. Os promotores consideram que Lula "violou a ordem pública" ao convocar os seus seguidores a sair às ruas para denunciar a "perseguição judicial" da qual é alvo.

11 de março - Dilma descarta renunciar e convida Lula, fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), a integrar o governo.

12 de março - O PMDB, um pilar chave da coligação parlamentar, deu 30 dias de prazo para decidir se fecha a porta à maioria, o que seria fatal para Dilma. Se a presidente for destituída num impeachment, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) assumiriá o poder até às eleições de 2018.

13 de março - Três milhões de pessoas, segundo a polícia, saíram às ruas de todo o país aos gritos de "Fora Dilma", num clima de forte descontentamento social pela recessão económica e pela corrupção.

14 de março - A juíza de São Paulo que deveria pronunciar-se sobre um pedido de prisão preventiva contra o ex-presidente, por suposta lavagem de dinheiro, transfere o caso ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo caso de corrupção na Petrobras. Assim, o juiz centraliza as duas investigações contra Lula.

15 de março - Quando Lula chega a Brasília para discutir a sua entrada no governo, a justiça torna pública a delação do ex-senador do PT Delcídio do Amaral, que acusa o ministro da Educação Aloízio Mercadante de tentar ganhar o silêncio para proteger o governo de Dilma Rousseff. Também acusa Lula, Dilma, o vice-presidente Michel Temer e o líder da oposição Aécio Neves (PSDB).

16 de março - Lula é nomeado "ministro de Estado, chefe da Casa Civil", cargo que o livra da ameaça de ser detido pelo juiz Sérgio Moro. Os ministros só podem responder penalmente pelos seus actos perante o Supremo Tribunal Federal. Manifestações de indignação nas ruas e no Congresso após a divulgação, pelo juiz Sérgio Moro, da gravação de uma conversa telefónica entre Dilma e Lula, sugerindo que a nomeação serviria para livrá-lo da prisão.

17 de março - Lula é investido como chefe da Casa Civil, mas um juiz suspende, em caráter liminar, a sua posse. O processo de impeachment contra a presidente Dilma é começado por um grupo de deputados, que elegem uma comissão especial encarregada de preparar um primeiro relatório que será submetido ao plenário da Câmara. Em plena crise política, a Bolsa de São Paulo fecha em alta de 6,6%, o maior aumento em um dia em sete anos.

18 de março - Um tribunal do Rio de Janeiro derruba a decisão que suspendia a posse de Lula como chefe da Casa Civil, liberando o ex-presidente para assumir o cargo do gabinete de Dilma. A Advocacia-geral da União (AGU) pediu que o Supremo defina um marco legal que unifique juridicamente outras ordens semelhantes, apresentadas em instâncias inferiores. Milhares de brasileiros saem às ruas para manifestar o seu apoio ao PT e à presidente Dilma.