Contactado pela agência Lusa, o segundo comandante da PSP de Viana do Castelo, Raul Curva, afirmou que o alerta foi dado, na terça-feira, cerca das 16:30, sendo que o caso, por envolver uma peça de arte sacra, foi comunicado à Polícia Judiciária de Braga, que “tomou conta da investigação".
Para o pároco da Igreja de São Domingos, o relicário roubado, em metal dourado, “não tem grande valor comercial, mas o que continha no seu interior, a ossada de Frei Bartolomeu dos Mártires, é de valor incalculável".
"É incalculável pela devoção profunda das gentes da ribeira e da cidade de Viana do Castelo. Frei Bartolomeu dos Mártires é uma referência. Foi como se nos roubassem um bocado de nós próprios", lamentou.
Na segunda-feira, a imagem de Nossa Senhora das Dores, "muito antiga", ficou "danificada" na sequência da tentativa de assalto à mesma igreja de São Domingos.
Em declarações hoje à Lusa, o secretário do cartório da igreja de São Domingos, Ricardo Oliveira, adiantou que o roubo do relicário terá ocorrido entre as 15:00 e as 16:00.
"Se a tentativa de assalto de segunda-feira foi grave, este roubo é gravíssimo, não pelo valor da peça de metal dourado, mas pelo valor histórico e religioso que contém", destacou.
Em 2016, o Papa Francisco autorizou a canonização do beato Bartolomeu dos Mártires sem a atribuição de um milagre, processo que ainda não culminou.
Bartolomeu dos Mártires foi declarado venerável, a 23 de março de 1845, pelo Papa Gregório XVI e beato, a 04 de novembro de 2001, por João Paulo II.
O beato nasceu em Lisboa, em maio de 1514, e entrou na Ordem Dominicana em 11 de novembro de 1528, tendo sido eleito arcebispo de Braga em 1559. Morreu em Viana do Castelo a 16 de julho de 1590.
Em Viana do Castelo ficou conhecido por ter mandado construir o Convento de Santa Cruz - depois designado de São Domingos, tal como a igreja contígua -, mas sobretudo pela sua dedicação aos pobres. Renunciou como arcebispo em 23 de fevereiro de 1582 e recolheu-se no convento que mandou construir em Viana do Castelo, onde morreu a 16 de julho de 1590.
Bartolomeu dos Mártires foi sempre apelidado pelo povo como o "arcebispo santo, pai dos pobres e dos enfermos" e insistiu, em vida, na deposição dos seus restos mortais naquele convento, numa altura em que a diocese local ainda não existia, sendo liderada por Braga.
Na tentativa de assalto de segunda-feira, a lança arrancada da imagem de Nossa Senhora das Dores para ser utilizada na abertura da caixa das esmolas e dos lampadários acabou partida, obrigando ao seu restauro.
A imagem danificada pertencia à antiga paróquia de Monserrate criada em 1621 e, entretanto, extinta em 1916.
Com a extinção daquela paróquia da cidade de Viana do Castelo, especificou, a imagem de Nossa Senhora das Dores passou a integrar o espólio da Igreja de São Domingos.
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