A denúncia consta no relatório anual da organização não-governamental (ONG) relativo a 2018 que hoje foi apresentado em Madrid pelo presidente da secção espanhola da RSF, Alfonso Armada.
A organização alertou que os jornalistas na Venezuela trabalham num clima muito tenso, sobretudo desde a crise política e económica que afeta o país nos últimos quatro anos.
É cada vez mais frequente, frisou a RSF, os jornalistas serem agredidos durante manifestações, submetidos a “detenções arbitrárias” e, sequentemente, a “interrogatórios agressivos”.
A ONG também apontou que os jornalistas estrangeiros que “não agradam” às autoridades de Caracas são expulsos do país.
Na semana passada, uma equipa da agência noticiosa espanhola EFE, composta por três jornalistas e um motorista, foram detidos na Venezuela durante 24 horas pelos serviços de informação venezuelanos (Serviço Bolivariano de Inteligência, SEBIN).
Uma equipa de jornalistas da estação de televisão portuguesa SIC também foi detida, na semana passada, durante “algumas horas” na Venezuela por ter entrado sem visto de trabalho, tendo sido depois libertada, informou, na altura, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva.
Na apresentação do relatório em Madrid, a representante da RSF na Venezuela, Elsa Piña, afirmou que existe um “guião definido” em relação aos jornalistas que é cumprido naquele país nos últimos 20 anos.
“Primeiro com (Hugo) Chávez e depois com Maduro, há um cerco sistemático para o controlo da informação”, disse a representante.
Em termos globais, e de acordo com Alfonso Armada, o relatório anual da RSF “volta a ser pouco auspicioso”, uma vez que o documento indica que um total 65 jornalistas foram mortos em 2018, bem como 13 internautas e cinco colaboradores de órgãos de comunicação social.
Os mesmos dados revelaram que 171 jornalistas, 148 internautas e 16 colaboradores permanecem presos. A par disto, 60 jornalistas foram sequestrados e três estão desaparecidos.
O relatório da RSF analisa a liberdade de informação em todo o mundo.
Países como a Turquia, China ou o Irão são classificados pela ONG como as maiores prisões de jornalistas no mundo, enquanto a Síria ou o Iémen tornaram-se “verdadeiros buracos negros” informativos, porque não se consegue saber a verdadeira dimensão dos acontecimentos nestes países em conflito devido à perseguição de jornalistas.
A tensão política na Venezuela agravou-se no passado dia 23 de janeiro, quando o presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente interino da Venezuela e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Após a sua autoproclamação, Guaidó, de 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, de 56 anos, chefe de Estado desde 2013, denunciou a iniciativa do presidente do parlamento, no qual a oposição tem maioria, como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos da América.
Desde então, Juan Guaidó tem vindo a ganhar o reconhecimento de vários países, nomeadamente de Portugal.
A crise política na Venezuela, onde residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes, soma-se a uma grave crise económica e social que levou cerca de 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
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