“É hora de criar um escritório em Taipé para podermos avançar mais no intercâmbio entre os nossos povos”, disse Chang Tsung-Che numa entrevista esta semana à agência Lusa.
Portugal estabeleceu relações diplomáticas com a República Popular da China (RPC) em 08 de fevereiro de 1979, levando ao encerramento da embaixada da República da China (Taiwan) em Lisboa.
No comunicado divulgado então, Portugal reconheceu Pequim “como o único governo legal da China e Taiwan como parte integrante da República Popular da China”.
Até ao 25 de Abril, Portugal não reconhecia a RPC e considerava o governo de Taiwan como representante legítimo da República da China, fundada em 1912.
A RPC foi proclamada por Mao Zedong em 1949, após a vitória do Partido Comunista Chinês (PCC) frente aos nacionalistas do Kuomintang, de Chiang Kai-shek, que se refugiaram na ilha de Taiwan, situada a cerca de 180 quilómetros a leste da China continental.
Até 1975, Taiwan manteve a missão diplomática em Lisboa, bem como representações consulares em algumas das então colónias portuguesas, como Timor.
Depois de a ONU ter declarado a RPC como representante da China, em 1971, Taiwan foi deixando de ter relações diplomáticas com a maioria dos países, que se resumem a pouco mais de uma dezena atualmente.
No entanto, Taiwan desenvolveu o que Chang Tsung-Che chamou “relações substanciais”, em vez de diplomáticas, o que permitiu a troca de representações económicas e culturais com muitos países.
A União Europeia mantém uma delegação em Taiwan e países europeus como Espanha, Itália, França, Alemanha ou Bélgica têm escritórios de representação em Taipé.
Em relação a Portugal, o chefe do Centro Económico e Cultural de Taipé disse que o turismo seria o primeiro setor a desenvolver.
Segundo dados do ano anterior à pandemia de covid-19, o número de turistas de Taiwan a viajar para outros países ultrapassou 17 milhões de pessoas.
Desse total, cerca de 540.000 visitaram a Europa, mas apenas 7.370 se deslocaram a Portugal.
Chang Tsung-Che sugeriu que a TAP poderia abrir uma rota entre Taipé e Lisboa, via Macau, embora reconhecendo que isso implicaria uma autorização do Governo para que fosse assinado um acordo aéreo.
“A nossa atividade com Portugal não vai ameaçar a relação de Portugal com a China, não há uma intenção política, não estou a falar de política, trata-se de uma relação comercial”, disse.
Tal acordo, referiu, poderia ser assinado entre os escritórios de representação de Lisboa e Taipé, se Portugal o abrisse, à semelhança do que acontece com outros países.
Em Lisboa desde julho, depois de ter estado em São Tomé e Príncipe, Chang referiu que os turistas taiwaneses viajam atualmente para uma cidade europeia com ligações aéreas diretas com Taipé, como Amesterdão e Paris, e daí seguem para outros destinos europeus.
“Mas se houver uma rota para Lisboa, os nossos turistas podem viajar diretamente para cá, visitar Portugal e depois ir para outro destino. Portugal pode beneficiar muito”, defendeu.
Um maior contacto direto permitiria também que empresários de Taiwan e Portugal pudessem estabelecer negócios, referiu.
“Tenho muita fé na área do turismo, mas depois a cooperação pode alargar-se, Portugal está muito desenvolvido nas energias renováveis, nós também temos tecnologia”, disse.
A tecnologia taiwanesa permitiu a utilização de urnas eletrónicas nas recentes eleições presidenciais no Brasil, segundo Chang Tsung-Che, que disse ter ajudado a encontrar uma empresa em Taiwan para fornecer um componente de controlo.
“Se não fosse o microprocessador de Taiwan, o Brasil poderia não ter um novo presidente agora”, afirmou.
Segundo dados do Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia português, a balança comercial entre Portugal e Taiwan apresentava um saldo negativo de mais de 335 milhões de euros em 2021.
Nesse ano, Portugal vendeu produtos a Taiwan no valor de quase 134 milhões de euros (0,21% do total de exportações portuguesas), enquanto as importações ascenderem a mais de 470 milhões de euros (0,57%).
No ‘ranking’ do comércio internacional de Portugal, Taiwan ocupava o 23.º lugar nas importações em 2021, e o 46.º nas exportações, segundo o GEE.
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