“Os números são claros: em 2005 tínhamos 400 mil jovens com 18 anos a entrar no ensino superior, este ano tivemos 120 mil jovens e dentro de 15 anos vamos ter 85 mil jovens. […] Se não existir um novo olhar, políticas públicas, vamos concentrar o ensino superior em duas ou três instituições. Já centralizámos o país entre Porto e Lisboa e agora vamos centralizar mais a nível quer das universidades do ensino superior, quer da investigação”, disse à agência Lusa o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), António Fontaínhas Fernandes.

Para o responsável, é essencial que as instituições de ensino superior adaptem “a investigação a recursos endógenos” de forma a aumentar o valor acrescentado da matéria-prima que Portugal exporta.

No seu entender, o problema de Portugal é que muitas vezes vende as matérias-primas e não investe na inovação, no aumento do valor acrescentado, e estas instituições podem contribuir o trabalhar os recursos endógenos.

De acordo com o presidente do CRUP, a existência de instituições de ensino nas zonas de menor densidade populacional não é suficiente para fixar os estudantes porque “falta estratégia” ao país.

“Essa visão estratégica tem de começar pelo que queremos para os territórios de menor densidade e depois utilizar os fundos comunitários como estímulos à fixação de emprego, criar emprego é o mais importante. Se trouxermos para cá empresas, depois os estudantes aparecem, quer com políticas sociais, quer por saberem que são regiões onde depois há emprego”, afirmou.

Para Fontaínhas Fernandes, apenas faltam “infraestruturas virtuais”, como o reforço da banda larga, já que, apontou, é “dez vezes inferior” à que existe na faixa litoral.

“É preciso criar estímulos para as empresas se fixarem no interior, estímulos financeiros ao nível de impostos, criar condições. Já não estamos a falar de infraestruturas viárias, o país tem hoje uma rede de infraestruturas viárias muito boas. A única infraestrutura que é necessária, neste momento, é virtual”, disse.

O presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos, considerou que cada vez menos a “localização física das empresas importa” e sublinhou que há empresas que têm apostado na deslocalização para o interior.

“Hoje em dia, nas empresas mais tecnológicas, a localização física acaba por não ser tão relevante porque os clientes são globais e, portanto, consegue-se trabalhar para o mundo a partir de localizações remotas com vantagens adicionais que essas localizações têm - a qualidade de vida, […] os custos de habitação mais reduzidos e […] os salários mais elevados. Há muitas empresas quer nacionais, quer internacionais que têm optado por essa estratégia”, afirmou.

Os politécnicos, referiu, “são hoje das principais instituições” que atraem jovens para as regiões com maior depressão demográfica a nível nacional, contribuindo para o dinamismo económico e a regeneração económica dessas mesmas cidades.

“Ao serem centros de produção de ciência e conhecimento estão a desempenhar um papel cada vez mais relevante na qualificação dessas pessoas. Simultaneamente funcionam como um elevador social, porque estão a permitir a qualificação de um conjunto de pessoas que tradicionalmente não chegavam ao ensino superior. Há aqui um papel muito forte na equidade social”, afirmou Pedro Dominguinhos.

O responsável destacou também a importância dos estudantes estrangeiros que nos últimos anos têm optado por programas de intercâmbio em cidades do interior.

“Isto tem dinamizado de uma forma muito significativa e permitido a recuperação de alguma população ou pelo menos a diminuição da depressão demográfica dessas regiões”, destacou.

Para o presidente do CCISP, uma das medidas de incentivo para diminuir a desertificação dos territórios do interior passaria por “majorar positivamente as bolsas dos estudantes”.

“Deve ser estudado, por exemplo, em relação aos estudantes que permaneçam nessas regiões de baixa densidade no ensino superior e que não saiam da sua região de origem, até que ponto pode ou não haver uma majoração desse tipo de bolsa como uma forma de garantir a continuidade dos recursos humanos e das pessoas e não a diminuição que se está a verificar em muitas dessas regiões”, acrescentou.

Os presidentes dos dois conselhos concordaram ainda na necessidade de deslocalizar serviços da administração pública para cidades do interior e apoiar empresas através de incentivos fiscais para que se fixem em territórios de menor densidade populacional.

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