"Eu estive lá entre 2014 e 2016” e “o balanço que faço é positivo. A situação de segurança está melhor, nitidamente melhor, embora ainda haja muitos desafios", disse à Lusa, por telefone, o responsável, que apontou algumas das principais diferenças que testemunhou.

"Há três anos, quando saí, junto do aeroporto havia muitos deslocados internos. Quando se aterra em Bangui, hoje em dia, não se vêm deslocados internos no aeroporto, nem na cidade", afirmou o português, que na semana passada visitou a RCA.

Para Luís Carrilho, este é um dos efeitos do trabalho da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA), integrada por componentes de polícia e polícias e militares, entre outros protagonistas.

"As minhas funções, enquanto conselheiro de polícia das Nações Unidas em Nova Iorque englobam, digamos assim, não a coordenação direta - porque a coordenação é feita diretamente pelo representante especial das diferentes missões -, mas uma coordenação técnica e uma coordenação permanente", explicou o responsável, superintendente da Polícia de Segurança Pública (PSP) portuguesa.

De acordo com Luís Carrilho, o trabalho da MINUSCA comporta um trabalho "em conjunto com as forças de segurança nacionais": a polícia centro-africana e a 'gendarmerie' (o equivalente à guarda nacional).

"O primeiro mandato é a proteção de civis, ao mesmo tempo que trabalhamos com a polícia e com a 'gendarmerie' para o aumento de efetivos. No ano passado houve um aumento de 500 - 250 para a polícia e 250 para a 'gendarmerie' -, e está neste momento a decorrer o processo de recrutamento para mais mil", detalhou Luís Carrilho.

Este aumento dos efetivos da polícia e da 'gendarmerie' é, para o conselheiro da Polícia das Nações Unidas, o melhor para a restauração da identidade do Estado e da credibilidade nas instituições, a par do "estabelecimento das autoridades judiciárias e administrativas" que estão a ser colocadas gradualmente pelo território centro-africano.

Luís Carrilho sublinhou que é nos locais onde o Estado centro-africano não está presente que “florescem” os “grupos armados e o crime organizado".

Ainda assim, o português alerta que "os efetivos não chegam", e destaca a necessidade da MINUSCA reforçar a formação de polícias e guardas, através da cooperação com vários países.

O responsável refere que à muita procura das vagas nas forças policiais, contando que esteve presente no estádio Barthélemy Boganda, em Bangui, onde terão estado cerca de 18.000 candidatos para mil lugares nas forças de segurança.

Luís Carrilho considera que este é "um bom indicador", mas é algo expectável num país palco de conflitos e com baixa empregabilidade, sendo que esta se configura como "uma oportunidade para os mais jovens" e também para o país.

Todavia, o responsável assinala que este é um processo que "demora tempo", sublinhando que a RCA "teve um conflito - e ainda está a viver - muito, muito forte".

"Eu não quero dar a perceção errada, há muito trabalho a fazer na República Centro-Africana, do ponto de vista da segurança, da capacitação, da restauração da capacidade do Estado, da luta contra a impunidade e, digamos assim, para que depois possa haver um maior desenvolvimento político, económico e social", concluiu o português.

Durante a visita que fez à RCA, na qual foi acompanhado pelo coronel Fernando Bessa, da Guarda Nacional Republicana (GNR), Luís Carrilho reuniu-se com o 2.º comandante da missão, o major-general Marcos Serronha, realizou uma visita de cortesia à Força de Reação Rápida portuguesa em Bangui e encontrou-se com os polícias portugueses que integram a missão.

Dos 2080 polícias que constituem o efetivo destacado da ONU na MINUSCA, oito são de nacionalidade portuguesa.

Atualmente, o Governo centro-africano controla cerca de um quinto do território, enquanto o resto é dividido por mais de 15 milícias que se financiam através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

Um acordo de paz foi assinado em Cartum, capital do Sudão, no início de fevereiro pelo Governo e por 14 grupos armados, mas um mês depois as partes desentenderam-se sobre um governo inclusivo, no âmbito do processo de paz.

Portugal está presente na RCA desde o início de 2017, no quadro da missão das Nações Unidas, onde está a 6.ª Força Nacional Destacada (FND), e militares na Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana, cujo 2.º comandante é o coronel Hilário Peixeiro.

A 6.ª FND, que tem a função de Força de Reação Rápida, integra 180 militares, na sua maioria paraquedistas, pertencendo 177 ao Exército e três à Força Aérea.

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