Faustin Touadéra, que se reuniu hoje, em Luanda, com o seu homólogo angolano, João Lourenço, falava à imprensa no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, antes do seu regresso.
O chefe de Estado da RCA agradeceu o apoio do Presidente e do povo angolano, lembrando que no próximo dia 06 de fevereiro o país vai comemorar o primeiro aniversário do acordo de paz.
“Angola é uma república irmã, que nos tem sempre apoiado neste momento tão difícil. Como sabem a RCA está a passar momentos muito difíceis, mas Angola tem sempre estado ao nosso lado”, frisou.
Segundo Faustin Touadéra, a RCA está a passar por um período conturbado, “que tem sido muito difícil”, razão pela qual mais uma vez se aproxima de Angola para pedir ajuda.
“Para que nos ajude a estabilizarmos as nossas instituições e para que possa – isso também pedimos — facultar-nos uma ajuda, em termos de preparação das nossas forças de segurança, para que possam, de facto, realizar muito bem a sua missão”, referiu.
O Presidente da RCA disse que pediu também o apoio de Angola no processo que está a ser desencadeado junto da ONU, mais precisamente junto da comissão das Nações Unidas que trata das questões de segurança, relativo ao embargo a que está sujeito aquele país africano.
“É um embargo que estamos a lutar para que seja levantado, de forma total, não de forma parcial”, porque o mesmo “tem prejudicado, de que maneira, o efetivo papel das nossas forças republicanas na concretização da sua missão”.
Em setembro passado, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou um levantamento parcial do embargo de armas à RCA, em vigor desde 2013, acedendo a um pedido antigo das autoridades deste país africano.
A resolução, elaborada pela França, autoriza “o fornecimento de armas de calibre igual ou inferior a 14,5 milímetros” às forças de segurança da RCA, que são obrigadas a informar previamente as Nações Unidas sobre quais as armas usadas, os meios de transporte e o destino final, não sendo permitido, em nenhum caso, a sua transferência ou venda a terceiros.
As primeiras sanções do Conselho de Segurança sobre a República Centro-Africana datam de 05 de dezembro de 2013 e têm sido sucessivamente prolongadas, impondo a proibição de viagens ao território, o congelamento de fundos e o embargo de armas, munições, veículos militares e equipamentos por todos os Estados-membros.
Faustin Touadéra disse que durante o encontro com João Lourenço, os dois chefes de Estado passaram em revista as várias formas de se equacionar o assunto, tendo ficando assente o envio das forças de defesa e segurança da RCA para Angola, para receber formação.
Questionado sobre as tensões internas no país, o Presidente Faustin Touadéra considerou falsa a ideia de que o conflito na RCA é religioso.
“Isto não é verdade. Foi comprovado que isto não é um conflito religioso, mas sim tem a ver com um conflito político”, disse.
Em termos de desenvolvimento, o acordo de paz, que faz um ano no dia 06 de fevereiro, tem importância capital para redinamizar o país, frisou o chefe de Estado da RCA, lembrando que o mesmo apresenta ainda alguns desafios como qualquer instrumento.
“Temos essa necessidade agora de nos apoiar nos parceiros, nos países amigos, nas pessoas que nos podem ajudar, e Angola é um dos países que pode nos ajudar a elevarmos os futuros desafios que tem a ver com este acordo”, sublinhou.
De acordo com o Presidente da RCA, o objetivo central é fazer com que a paz seja efetiva em todo o território, pelo que veio ao país lusófono “buscar os conselhos e o apoio inestimável de Angola para que o acordo seja implementado na sua íntegra e que os motivos pelos quais foi assinado sejam visados”.
Questionado se será candidato à reeleição nas presidenciais que se realizam em dezembro deste ano, Faustin Touadéra frisou que ainda está a meio do mandato e, no momento oportuno, poderá voltar a falar sobre a sua eventual candidatura.
No que se refere ao ex-Presidente François Bozizé, o chefe de Estado da RCA disse que “de facto está no país”, e teve já a oportunidade de o receber numa audiência.
“Focámos o nosso encontro nas contribuições que cada um de nós, neste processo da procura de paz, quer para a RCA. Este é o objetivo e ele está no país, de facto, para contribuir que a paz possa ser definitiva dentro do país”, disse.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na coligação Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.
O Governo centro-africano controla um quinto do território, sendo o resto dividido por mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
Um acordo de paz foi assinado em Cartum, capital do Sudão, no início de fevereiro do ano passado pelo Governo e por 14 grupos armados, e um mês mais tarde as partes entenderam-se sobre um governo inclusivo, no âmbito do processo de paz.
Portugal está presente na RCA desde o início de 2017, no quadro da Minusca, com a 6.ª Força Nacional Destacada (FND) e militares na Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana.
A 6.ª FND, que tem a função de Força de Reação Rápida, integra 180 militares, na sua maioria paraquedistas, pertencendo 177 ao Exército e três à Força Aérea.
Na RCA, estão também 14 elementos da Polícia de Segurança Pública.
A Minusca, globalmente, integra cerca de 12.900 militares e polícias.
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