O chefe de Estado angolano discursava hoje, no Porto, na abertura das conversações entre as delegações oficiais dos dois países, no âmbito da visita de Estado que está a realizar a Portugal. Falando na presença de ministros dos dois países e do primeiro-ministro português, António Costa, o Presidente angolano sublinhou a preocupação com a instabilidade que persiste na RCA.

“Uma situação que nos preocupa, pois que o Governo desse país, ao qual cabe garantir a segurança e proteção do seu território nacional, está fortemente condicionado na sua ação de combate às forças rebeldes que atuam nessa nação africana”, apontou João Lourenço.

Na sua intervenção, o Presidente angolano foi mais longe e pediu o apoio de Portugal, que tem militares na força internacional de estabilização da RCA.

“Creio que Portugal, por ter forças militares no terreno expostas aos ataques permanentes das forças rebeldes, juntar-se-á àqueles que defendem a necessidade de se levantar o embargo de armas que ainda pesa sobre a República Centro-Africana”, enfatizou.

Portugal está presente na RCA desde o início de 2017, no quadro da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (Minusca).

No início de setembro, o major-general do Exército Marco Serronha assumiu o cargo de 2.º comandante da MINUSCA, que já sofreu 75 mortos desde que foi criada, em 2014.

Aquela que já é a 4.ª Força Nacional Destacada Conjunta no país é composta por cerca de 160 militares e iniciou a missão em 05 de setembro.

Portugal também integra e lidera a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana (EUMT-RCA), comandada pelo brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.

A EUTM-RCA, que está empenhada na reconstrução das forças armadas do país, tem 45 militares portugueses, entre os 170 de 11 nacionalidades que a compõem.

A República Centro-Africana caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por vários grupos juntos na designada Séléka (que significa coligação na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.

O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.

O governo do Presidente Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território.

O resto é dividido por mais de 15 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.