“Tivemos de parar as sondagens no dia 17 de março, devido à pandemia. Vamos continuar com os trabalhos que passam por tapar uma parte rocha para a recolha de sedimentos, e continuar com a reconstituição do auroque [boi selvagem]”, explicou à agência Lusa o arqueólogo Thierry Aubry, da Fundação Côa Parque.
Este local fica a cerca de mais de 50 metros do curso do rio Côa, fará parte de um percurso que pode ser visitado a pé ou de canoa e contemplar uma gravura datada de há mais de 23.000 anos.
“Agora vamos limpar e consolidar todos os cortes já feitos, para que não haja ‘desmontamentos’ no tempo de inverno”, indicou o arqueólogo.
O início de visitas ao local está para breve, contudo os trabalhos de prospeção arqueológica serão mais demorados, “porque é preciso estudar e analisar cada pedaço da rocha, para assim reconstituir a sua parte superior, que foi fragmentada com o passar do tempo”.
Para Thierry Aubry, o futuro passa por descobrir mais material arqueológico e fazer o seu diagnóstico, para “saber exatamente” o que a ocupação humana de milhares de anos foi deixando nestas camadas de terra junto ao rio Côa.
Os arqueólogos e outros técnicos da Fundação Côa Parque, que têm a seu cargo a gestão do Parque Arqueológico e do Museu do Côa, vão agora trabalhar em conjunto para tornar este local pré-histórico visitável, criando condições de acesso e esboçar circuitos programados, dada a importância cultural e histórica das figuras descobertas na rocha da Quinta do Fariseu.
O sítio arqueológico do Fariseu, no Vale do Côa, foi ocupado por caçadores/pescadores da época do Paleolítico Superior.
“O que foi descoberto é apenas uma pequena parte deste sítio arqueológico. No futuro teremos de fazer mais sondagens, porque esta rocha não esta sozinha”, assegurou o especialista em Arte do Côa.
Este local arqueológico, dada a dimensão da gravura rupestre colocada a descoberto no início de março, poderá tornar-se num grande atrativo para o Parque Arqueológico do Vele do Côa (PAVC), tudo por causa do auroque que está gravado através da técnica ancestral de picotagem, numa área de rocha que tem outras figuras associadas.
Os arqueólogos envolvidos nestas escavações, perceberam que o painel tinha mais de seis metros de comprimento, quando escavavam os sedimentos.
“Verificou-se que o traço que se observava à superfície fazia parte da garupa de um grande auroque, com mais de 3,5 metros de comprimento. Trata-se da maior figura da arte do Vale do Côa e do mundo, apenas comparável com os auroques da gruta de Lascaux”, em França, indicou Thierry Aubry, também responsável técnico-científico do Museu do Côa (MC) e do PAVC.
A chamada ‘rocha 09′ do Fariseu representa um dos principais núcleos de arte rupestre do Vale do Côa, classificados como Monumento Nacional, e inscritos na Lista do Património Mundial da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla original em inglês).
No interior desta rocha, os arqueólogos identificaram outros animais gravados por picotagem e abrasão: uma fêmea de veado, uma cabra e uma fêmea de auroque, seguida pelo seu vitelo.
A escavação surgiu no contexto do estudo do contexto arqueológico da arte paleolítica do Vale do Côa, que se vem desenvolvendo há 25 anos.
O PAVC detém mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em mais de 80 sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30.000 anos, cada vez mais expostas a adversidades climatéricas e geológicas.
O PAVC foi criado em agosto de 1996. A arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como Património da Humanidade, pela UNESCO.
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