Tendência de casos sido "crescente na última semana", com foco nos jovens adultos:

  • André Peralta Santos, diretor de serviços de Informação e Análise da Direção-Geral da Saúde, começou a reunião com uma apresentação sobre a situação epidemiológica no país. "É possível observar uma tendência baixa a moderada mas crescente na última semana", começou por dizer;
  • A região de Lisboa e Vale do Tejo, em particular a Área Metropolitana de Lisboa, é a que apresenta maior tendência de crescimento, devendo-se este aumento sobretudo à "grande densidade e movimentos pendulares intensos”, mas mantem-se ainda generalizadamente abaixo dos 120 casos por cem mil habitantes;
  • Ao todo, os concelhos com mais de 120 casos por cem mil habitantes e representam apenas de 7% da população;
  • As freguesias do centro de Lisboa são as que apresentam maior incidência, superior a 240 casos por 100 mil habitantes. No entanto, “algumas das freguesias mais centrais da cidade têm já alguma tendência de descida”, mas o “crescimento está a dispersar-se pelas freguesias vizinhas” e até por outros concelhos.
  • A maior incidência em termos de faixa etária tem afetado sobretudo os jovens adultos, mais concretamente os grupos dos 20 aos 29 anos — sendo que o pico está nos 25 anos — assim como dos 30 aos 40. Pelo contrário, nos 80 anos, continua a descer devido ao esforço de vacinação;
  • A tendência para hospitalizações também tem baixado, sendo que a maior faixa etária afetada é a dos 40 aos 59 — o que é "é um fenómeno expectável, porque à medida que vamos protegendo a população de mais idade com a vacinação é normal que cresça este impacto". No que toca aos internamentos, continuam a baixar, e a mortalidade reduziu-se para níveis muito baixos, havendo neste momento apenas três óbitos por milhão de habitantes;
  • Quanto à testagem, o perito da DGS salientou a realização de 270 mil testes na última semana, dos quais 75% eram testes rápidos de antigénio, sobretudo entre a população ativa, e uma taxa de positividade “bem abaixo do valor de referência” de 4%, apesar de um aumento ligeiro nas últimas semanas. Realça-se o "esforço de testagem" junto aos estabelecimentos de ensino, tendo sido realizado um milhão de testes de rastreio.
  • O especialista deixou ainda uma nota sobre "o poder da vacinação não só na redução da doença, mas também nas suas manifestações mais negativas": os casos de infeção após administração da vacina circunscrevem-se a 272, sendo que apenas 15 pessoas foram sujeitas a hospitalização e não houve mortos;
  • “É normal que existam casos esporádicos em que, mesmo depois da vacinação completa, as pessoas possam vir a adquirir a doença, sendo que os números mostram que, na esmagadora maioria desses casos, a doença é muito ligeira e não requer hospitalização e não se verificaram óbitos”, continuou.

Transmissibilidade é baixa mas está a crescer. Vacinas têm alta efetividade para infeção a população com mais de 80 anos:

  • Seguiu-se Baltazar Nunes do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que mencionou que o índice de transmissibilidade nacional, o chamado R(t), é de 1,07 — a média até então era de 1,11 —, sendo que tem-se mantido mais ou menos controlado desde março, sofrendo apenas "algumas oscilações de subida e descida";
  • Se as regiões do Algarve e do Norte se abaixo de 1, Lisboa e Vale do Tejo e o Alentejo são as com maior crescimento, com 1,14 e 1,16, respetivamente. O especialista alerta para a possibilidade de que, nestas regiões, "o limiar de 120 casos por 100.000 habitantes seja atingido em duas semanas a um mês”;
  • Há duas situações completamente diferentes no que toca à reabertura de escolas entre a reabertura a setembro de 2020 e a reabertura a março de 2021, tendo a incidência crescido bastante no primeiro caso mas foi mantida controlada no segundo. Ou seja, a reabertura das escolas este ano não significou um aumento da transmissibilidade;
  • Portugal é, neste momento, um dos países da Europa com maior mobilidade nos locais de retalho e lazer, o que está em consonância com o levantamento das medidas de confinamento — o nível de mobilidade, segundo o especialista, aproxima-se de valores pré-pandemia;
  • Baltazar Nunes apresentou ainda um estudo que mediu os efeitos das vacinas Mrna, ou seja, da Pfizer e da Moderna, em pessoas vacinadas com mais de 80 anos, considerando-as ambas com “efetividade bastante boa”, já que reduziram infeção sintomática em cerca de 80% e, contra infeção no geral — sintomática ou assintomática — é de perto de 75%;
  • Baltazar Nunes indicou que o grupo etário acima dos 80 "não costuma entrar nos ensaios clínicos" e salientou que se trata de "valores bastante bons", em linha com os verificados em outros estudos feitos no Reino Unido.

  • Para compensar o aumento dos contactos entre as pessoas e da transmissibilidade, é preciso aumentar a testagem, redução de número de contactos fora das "bolhas" familiares, manutenção de medidas preventivas nos locais de trabalho e escolas, aumento da cobertura da vacina e aumento das mensagens dirigidas à população centradas na necessidade de manter a prevenção.

Variante indiana já representa 4,6% dos casos e está a aumentar. Britânica está a baixar:

  • João Paulo Gomes, do INSA, deu conta da atualização da vigilância de variantes genéticas , referindo que a variante britânica, apesar de ainda ser a dominante, está em retração: em abril representava 91% dos casos, em maio baixou para 87,2%.

  • Já a variante brasileira, a de Manaus, também desceu, dos 4,3% de abril para 3%. A da África do Sul ronda os mesmos valores, baixando para 2%

  • Pelo contrário, a indiana, que em abril não representava qualquer caso, representa neste momento 4,6% dos casos e estima-se que estará já em "transmissão comunitária". Foram detetados casos em 13 concelhos de nove distritos, mas o especialista alerta que este número já estará desatualizado. Segundo João Paulo Gomes, dos 800 genomas já sequenciados em maio, os 4,6% representam 37 casos confirmados, mas segundo estimativas podem atingir os 160 casos.
  • De acordo com João Paulo Gomes, o crescimento de casos com a variante indiana deveu-se à realização de viagens à Índia e ao Nepal, alertando para que, no futuro, se faça um mais "rigoroso controlo de fronteiras" para conter a entrada de novas variantes;
  • O risco prende-se com o facto do vírus estar a "adaptar-se a uma população cada vez mais imunizada" com a vacina, podendo sofrer mutações que "conseguem ludibriar o sistema imunitário" e possam, assim, causar infeções sintomáticas;
  • A variante associada à Índia, considerada de preocupação, apareceu “numa altura em que a população portuguesa já tinha um considerável grau de imunidade” e foi “um bocadinho surpreendente para todos”, disse ainda o investigador.

  • João Paulo Gomes explicou que existem três variantes detetadas na índia, mas a que está a circular maioritariamente é a única apelidada de “variante de preocupação” pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, sigla em inglês). Há ainda nove casos associados a outra variante detetada na Índia que “também causa preocupação”, mas não ao mesmo nível da anterior.

Probabilidade de morrer com a covid-19 "desceu brutalmente". Covid-19 "chegou para viver entre nós”:

  • Apresentando o estudo "Da epidemia à endemia. Da infecção aguda às consequências crónicas", Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, o especialista dá conta de uma "endemização" da covid-19, ou seja, que a nível social a doença começou a ser encarada como um aspeto da vida comum;
  • “Podemos pensar se esta doença, que emergiu há cerca de ano e meio, de uma fase de evidente epidemia e pandemia, estará ou não a entrar num momento de endemia e de que maneira é que aquilo que identificamos – o facto de a infeção ter um curso agudo - se está a desenvolver como uma síndrome pós-covid ou ‘covid longa’ pela presença de sintomas e de doenças para lá de 12 semanas após a resolução da fase aguda”, afirmou Henrique Barros.
  • Segundo o professor, o medo de estar infetado e a ansiedade quanto à doença foram baixando, ou seja, a população nacional começou a aprender a viver com o vírus
  • As aprendizagens quanto à doença contribuíram para que a população tivesse menos medo da doença, já que os internamentos são hoje muito inferiores e "a probabilidade de morrer desceu brutalmente", passando de uma em cada cinco pessoas infetadas para "um em cada 20 pessoas infetadas" — aqui a vacinação teve um papel evidente, até porque, comparando a atual situação com o início da pandemia, a proporção da faixa etária mais infetada mudou dos mais velhos para os mais novos;
  • “A infeção circula muito menos, a carga de infeção é muito mais baixa, mas temos de estar atentos à natureza cíclica destes fenómenos. Tudo leva a crer que a infeção se tornou endémica, ou pelo menos tornou-se endémica socialmente”, acrescentou, referindo que isso significa que “o vírus chegou para viver entre nós”.
  • No entanto, há um aspeto importante a ter em conta, que é o facto de que um terço dos infetados ainda sofrem de efeitos prolongados da infeção. “Não nos podemos esquecer que o risco de ter uma forma crónica da doença entre quem se infeta é exatamente o mesmo. Esse risco é mais alto no grupo 40-60 anos e mais baixo no grupo dos 20”, disse.

Confiança nos serviços de saúde volta a subir. Portugueses estão menos ansiosos com a pandemia:

  • Carla Nunes, da Universidade Nova de Lisboa, veio falar sobre as percepções sociais sobre a covid-19, mas começou por dar um dado surpreendente: na última semana, Lisboa teve três vezes mais casos do que aquilo que seria esperado.
  • Tal como na capital, registaram-se  na última semana sete 'clusters' de casos no território nacional, quatro deles com alguma dimensão na diferença entre o que foi observado e o que era esperado tendo em conta a tendência nacional. O concelho da Golegã teve 9,14 vezes mais casos observados do que o esperado e Salvaterra de Magos 3,58 vezes mais casos, apontou, salientando que "os números de casos por detrás da identificação destas áreas são completamente diferentes".
  • De acordo com a especialista, o comportamento das pessoas estão em consonância com o nível de desconfinamento: se em fevereiro, apenas 1,8% tinha admitido ter estado num grupo de 10 ou mais pessoas, esse número subiu no atual inquérito, para 16,2%. Em fevereiro, a percentagem de pessoas que declarava ter saído de casa nos 14 dias anteriores sem ser para trabalhar era de cerca de 14% e agora esse indicador está nos 48%.
  • A percentagem de portugueses que não confia na resposta do sistema de saúde a doenças não-covid-19 diminuiu de quase 80 por cento em fevereiro para menos de 40% atualmente e a percentagem de pessoas que afirmam não confiar de todo nos serviços de saúde para outras doenças além da covid-19 diminuiu de 79,4% em 22 de janeiro para 38,7% na quinzena atual, disse a investigadora da Escola Nacional de Saúde Pública. Carla Nunes apontou uma "franca recuperação" nos indicadores de confiança dos portugueses na saúde, referindo que a falta total ou quase total de confiança na resposta do sistema à pandemia desceu de 32,7% em meados de fevereiro para 14,1% atualmente.
  • Quando questionadas sobre estado "ansioso, agitado, em baixo ou triste" por causa das medidas de distanciamento físico e isolamento, em fevereiro 28,3% das pessoas declarava sentir-se assim todos os dias ou quase, enquanto agora a percentagem está em 17,9%. Carla Nunes referiu que ao longo do período da pandemia, este indicador teve um pico de 30% em maio de 2020 e o valor mais baixo foi registado em julho do ano passado, com 11,5%.

Especialistas defendem manutenção da atual matriz de risco:

  • Andreia Leite da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa começou por falar sobre a necessidade de criar um conjunto de critérios — as chamadas linhas vermelhas — para que se conseguisse manter um nível de transmissão controlado da pandemia, conseguindo manter a sustentabilidade da resposta dos serviços de saúde e minimizar o impacto social e económico da pandemia;
  • Dos critérios mais sonantes constam o limite de 240 casos por 100 mil habitantes a 14 dias e o Rt de 1, sendo que ambos originaram a matriz de risco colorida que se tornou comum nos boletins. Em causa estaria, então, a possibilidade de mudar estes critérios tendo por base a progressiva imunização das pessoas através das vacinas.
  • Após a revisão dos efeitos das vacinas em contexto real de utilização e após analisar as políticas seguidas por outros dez países, Andreia Leite, ainda assim defendeu "manter a atual matriz de risco", já que a incidência "traduz menor probabilidade de transmissão e menor probabilidade de aparecimento de variantes" e é "o indicador precoce que permite atuar adequadamente e atempadamente".
  • Falando em nome de uma equipa que inclui investigadores de várias instituições, defendeu ainda que se deve "adicionar a monitorização da efetividade das vacinas" aos indicadores a ter em conta. "A vacinação deverá contribuir para manter valores controlados de infeção, logo não se justifica [a modificação da matriz de risco]", considera a equipa.

  • A matriz permite dar o alerta e os outros indicadores [mortalidade, variantes de preocupação ou proporção de vacinados] devem ser considerados numa avaliação de risco mais detalhada" para decidir medidas, mas numa fase subsequente, defendem os peritos.

Proposto um novo modelo de desconfinamento:

  • Raquel Duarte da ARS Norte e Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto seguiu-se então com a apresentação de um plano de redução das medidas restritivas de controlo da Covid 19.

  • Antes de indicar as novas medidas, a especialista disse que, entre os peritos auscultados para a realização do projeto, é "quase unânime" a "manutenção da obrigatoriedade da manutenção das medidas de proteção individual". Já na auscultação pública, a maior parte das pessoas defende o uso continuado de máscara, sobretudo em espaços interiores.
  • “A nova proposta assenta em pilares que deverão ser mantidos: primeiro, a velocidade a que a população está a ser vacinada, a política de testagem alargada, que é a única forma de garantirmos que os números que temos são reais e que os casos são detetados de forma precoce; a vigilância serológica das variantes; a monitorização dos indicadores; o cumprimento das medidas de proteção individual e a ventilação eficaz dos espaços interiores”, enfatizou a especialista

  • Nesse sentido, a especialista designou um sistema de três patamares de desconfinamento como C, B e A, sendo este o último o máximo de desconfinamento, no qual se observam apenas as medidas gerais. Estes níveis são a única alteração, já que Raquel Duarte vincou a importância da continuidade da matriz vigente, considerando que “é preciso garantir estabilidade e previsibilidade para a população”, reiterando também a necessidade de assegurar a ventilação dos espaços, o cumprimento da distância e a promoção da testagem nas 48 a 72 horas anteriores.

  • Ao nível das regras gerais, a perita frisou:

    • A promoção da abertura frequente de janelas e portas;

    • A atividade ao ar livre, se possível;

    • O cumprimento da distância física com a identificação das pessoas por metro quadrado;

    • A testagem alargada;

    • A utilização obrigatória da máscara de acordo com as indicações;

    • A desfasamento dos horários, a higienização individual e as ‘bolhas’.

  • Em termos de faseamento das medidas, foi sublinhada a aproximação aos níveis de mobilidade pré-pandémica e a necessidade de conciliar a recuperação da liberdade com a segurança. Quanto aos novos patamares — C, B e A — “o que muda do nível C para o nível A é um aumento da lotação: no nível C, 25% [de ocupação]; no nível B, 50%; e no nível A apenas o cumprimento das medidas gerais”, explicou.
  • No comércio e retalho, assim como nas cerimónias fúnebres, o proposto é que, a partir do nível C, haja apenas a aplicação das medidas gerais;
  • Já na área da restauração, a especialista falou de regras gerais a serem de forma estrita – as pessoas devem estar sentadas à mesa, deve manter-se o distanciamento entre mesas de dois metros, deve estar definido o número de pessoas por metro quadrado e deve ser manter-se a utilização obrigatória da máscara exceto no momento da refeição. No entanto, quanto aos patamares, foi proposto:
    • Nível C: máximo de seis pessoas juntas no interior, enquanto se alarga no exterior para um máximo de 15 pessoas juntas;
    • Nível B passa-se para oito pessoas no interior para 20 no exterior;
    • Nível A são aplicadas apenas as medidas gerais;
  • Raquel Duarte defendeu ainda que na hotelaria seja proposto a partir do nível C somente as medidas gerais de proteção.
  • Já em relação aos eventos de grandes dimensões no exterior com espaço delimitado, Raquel Duarte defendeu a “promoção da testagem nas 48 a 72 horas antes do evento, circuitos bem definidos, uso obrigatório de máscara e identificação dos locais onde as pessoas podem ficar, de forma a cumprir o distanciamento e o cumprimento do número de pessoas por metro quadrado”.

  • Paralelamente, a pneumologista vincou que os eventos em exterior em espaço não delimitado “só devem ser permitidos se for possível controlar com identificação os locais onde as pessoas podem ficar”, para salvaguarda do distanciamento físico, bem como a manutenção da utilização obrigatória de máscara e “circuitos bem definidos” de circulação. “Só podem ocorrer se puderem ser controlados”, reforçou.

  • Para o setor dos transportes, as disposições atuais serão para manter, com exceção do nível A, em que cessa a limitação de ocupação. No entanto, os táxis e TVDE devem continuar a transportar pessoas apenas no banco traseiro.

  • Quanto aos convívios familiares, foi preconizada uma “avaliação de risco” com a ponderação de diversos fatores, como a idade ou a vacinação, e que contemple a testagem das pessoas ainda por vacinar contra a covid-19. No patamar C, fixou-se um limite de 10 pessoas e nos níveis B e A deixaria de haver limite. A mesma metodologia é aplicada relativamente a celebrações, segundo a proposta de Raquel Duarte, em que é prevista uma lotação de 75% para o nível C e sem limite nos restantes níveis, apenas com o cumprimento das regras gerais.

  • Finalmente, a especialista da Universidade do Porto alertou para a possibilidade de prescrição de teste e de vacina no âmbito de consulta de medicina do viajante, “de forma a promover o controlo da pandemia e proteger o viajante internacional”, além da necessidade de manter uma vigilância apertada nas fronteiras. “Devemos estar atentos ao controlo de fronteiras, sobretudo terrestres. É preciso que estes locais estejam munidos dos recursos necessários mínimos para o controlo epidemiológico. E é preciso que, ao passar a fronteira, as pessoas sejam identificadas quanto ao percurso, o contexto de viagem e essa informação partilhada com a saúde pública, de forma a facilitar o controlo de eventuais surtos”, sentenciou.

  • Ao nível das recomendações, Raquel Duarte acentuou, por fim, a necessidade de recuar o “caráter impositivo” das medidas, o investimento numa estratégia de comunicação de crise eficaz e a “organização concertada, organizada e controlada” de pequenos e médios eventos com a garantia do cumprimento das medidas de proteção individual.
Henrique Gouveia e Melo
Henrique Gouveia e Melo créditos: © 2021 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Já foram administradas 5,2 milhões de vacinas. Faixa dos 30 anos pode estar vacinada até 30 de agosto

  • Terminando o rol de apresentações, Henrique Gouveia e Melo, coordenador da Task Force para o Plano de Vacinação contra a Covid-19 em Portugal, disse que já foram administradas 5,2 milhões de vacinas, tendo sido dadas  3,5 milhões de primeiras doses e 1,8 milhões de segundas doses — dados referentes ao dia de ontem;
  • Segundo o responsável, vão chegar a Portugal 1,5 milhões de vacinas ainda no segundo trimestre do ano, mas já no fim, só podendo ser usadas no terceiro trimestre. Dados os problemas da Johnson & Johnson, há o risco de perder 3,6 milhões de vacinas para o plano nacional nesse período.
  • Gouveia e Melo prevê que, dado o atual ritmo, seja possível vacinar chegar aos 85% de pessoas vacinadas dos 60 aos 69 anos estarão vacinadas e perto de 40% dos 50 aos 59 anos, o que significa "uma elevada proteção nas faixas que contribuíram estatisticamente para os internamentos e os óbitos no último ano”.
  • De acordo com o almirante, se "tudo correr bem" e não houver alterações no fornecimento de vacinas, a partir de 6 de junho vai começar a ser vacinada com agendamento local "a faixa dos 40 anos", e a partir da última semana de junho a faixa dos 30 anos, com o responsável a estimar acabar a faixa dos 30 anos entre a primeira e a segunda semana de agosto.
  • “Quando chegamos a cerca de dois terços de uma faixa etária plenamente vacinada, começamos a sentir alguma resistência para encontrar pessoas, porque começa a diminuir o ritmo a que as encontramos. A experiência diz-nos que temos de abrir a faixa de baixo para manter o ritmo de vacinação elevado”, admitiu Gouveia e Melo.

Marcelo deixa algumas dúvidas. Faltam explicações para se compreenderem as medidas:

  • No final de todas as apresentações, o Presidente da República, depois de dar uma palavra de “agradecimento pela qualidade magnífica de todas as exposições”, deixou alguns apontamentos e dúvidas perante o painel de especialistas:
  • Marcelo Rebelo de Sousa começou por dizer que, para todos, está “presente o acento tónico que se deve colocar na vacinação”. “Foram apontados vários limites à vacinação, mas penso que é do interesse de todos continuar a sublinhar a importância da vacinação, pois à medida que se baixa a idade e surgem bolsas de resistência, maior deve ser o esforço para explicar a sua importância”, frisou.
  • Depois, apesar de reconhecer "a importância do fator internacional quanto à definição de linhas vermelhas", disse ter "dificuldade em ver o peso imediato das novas variantes na sociedade portuguesa", considerando que, em Portugal, “continua a ser praticamente estável o panorama em relação a variantes”, mesmo no caso da indiana,  onde há “evolução muito pouco sensível”.
  • Seguiram-se os pontos mais críticos da sua intervenção. Para Marcelo, continua a faltar explicar aos portugueses se há uma “correlação entre a incidência e o stress hospitalar e a mortalidade e letalidade”. “Parece óbvio que um indicador como o da incidência ou do R é mais precoce do que de internamento em cuidados intensivos. Mas não vi qualquer análise sobre a ligação que existe, ou não, entre o aumento de casos e a pressão no SNS", disse o Presidente.
  • Relacionado com este ponto está o da dificuldade em lidar com a perceção pública quanto à legitimidade "dos indicadores e critérios adotados” na relação entre a questão sanitária e a questão económica, ou seja, entre "a salvaguarda da vida e da saúde" de um lado e, do outro, "a pobreza, a insolvência, a falência, situações económica e sociais que afetam as pessoas". O problema, de acordo com Marcelo, é que se é "evidente" que a vida toma primazia "quando se trata de riscos elevados de mortalidade ou de stress sobre o SNS", tal “não é tão evidente quando os riscos estão a descer” e existe “um maior ou menor sacrifício da economia e da sociedade”.
Sessão de apresentação sobre a
Sessão de apresentação sobre a créditos: Lusa

Marta Temido rejeita que manutenção da matriz de risco signifique atraso no desconfinamento:

  • Já depois da fase de discussão — fechada ao público — da reunião do Infarmed, Marta Temido apresentou-se aos jornalistas para sintetizar algumas das conclusões para os temas discutidos durante a manhã. Apresentando quatro mensagens, a ministra da Saúde disse que:
    • O "impacto da pandemia Covid-19 na população portuguesa se modificou", sendo disso exemplo o facto dos " adultos mais jovens entre os 20 e os 29" serem hoje "os principais alvos dos novos casos de infeção" e, pelo contrário, os idosos terem "uma incidência bastante baixa, sobretudo com mais de 80 anos, e com uma letalidade muito baixa quando comparamos com há um ano";
    • Ainda assim, a doença "não está eliminada" e continua, estando até com a incidência "numa fase ligeiramente crescente", havendo algumas "situações mais preocupantes, que inspiram maior ponderação, designadamente alguns concelhos de Lisboa e Vale do Tejo";
    • A vacinação " continua a ser a melhor arma" e o processo decorre de forma "muito favorável", com a ministra a reforçar o "objetivo de ter 70% população adulta vacinada até ao final do verão". Neste momento, a preocupação é de "não deixar ninguém para trás", em particular grupos mais difíceis de “atingir e encontrar”, como os acamados ou os residentes em lugares remotos;
    • Reforça-se a "necessidade de manter a atenção aos critérios da incidência, sempre considerando outros aspetos", como as variantes, a positividade dos testes ou a situação dos hospitais. “Estamos numa fase de transição entre o momento em que só tínhamos medidas não farmacológicas e o momento em que temos a expectativa de ter imunidade pela vacinação, no futuro”.
  • Questionada quanto ao pedido dos peritos em não alterar os critérios da matriz de risco, a ministra disse que esta é, acima de tudo, "um conjunto de sinais de alerta" e essa manutenção "não significa que o nosso regresso à desejada normalidade não se vá fazendo".
  • A ministra reforçou, aliás, que a vida hoje vivida é diferente de há um ano e que os números da mobilidade o demonstram, reflexo do esforço de vacinação. Ainda assim, a adesão da população às medidas é “essencial”, pois "precisamos de manter essa consciência de que estamos perante uma doença”.
  • A este respeito, a ministra admitiu que Lisboa atravessa uma situação alarmante. “Lisboa tinha ontem [quinta-feira] 153 casos por 100 mil habitantes é, portanto, uma daquelas situações que nos preocupa, mas que tem um quadro muito distinto daquele que enfrentámos já no passado”.
  • No entanto, Marta Temido sugeriu que, para já, não se prevêem medidas mais apertadas, pois “um concelho que tem 120 casos por 100 mil habitantes entra em alerta e quando repete esse valor permanece em alerta”. “Vamos todos trabalhar para que esses números não sejam atingidos, garantindo que as medidas que são aplicáveis num território são aplicáveis pelos mesmos critérios num qualquer outro território”, vincou.