Se, há um ano, ainda sem casos de covid-19 em Portugal, a moção que Rio levou ao congresso dizia que o PSD devia estar preparado para governar o país já a partir deste ano, o atual contexto sanitário e económico tem levado o presidente social-democrata a afastar taxativamente um cenário de crise política.

“Não está na hora de eu tentar pôr cascas de banana ao Governo a ver se a coisa corre mal para eu ganhar votos com isso, não é para isso que eu estou aqui", afirmou Rio à TVI, embora manifestando a esperança de que o Presidente da República possa ser “mais exigente” com o executivo no seu segundo mandato.

Muito diferentes foram o primeiro e o segundo mandato de Rio à frente do PSD, sobretudo do ponto de vista interno: em 2018, o antigo autarca do Porto derrotou Pedro Santana Lopes em diretas - com quem até fez no congresso listas de unidade, antes de o ver sair do partido para fundar o Aliança, que abandonou recentemente -, mas nunca conseguiu pacificar os sociais-democratas.

A tensão interna esteve sempre latente e foi subindo até que, em janeiro de 2019, o antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro desafiou Rio a convocar diretas antecipadas. O presidente recusou, mas fez aprovar uma moção de confiança em Conselho Nacional por cerca de 60% dos votos, ganhando mais um ano até disputar eleições internas no calendário previsto.

Em janeiro de 2020, Montenegro foi a votos entre os militantes do PSD e obrigou Rio a uma inédita segunda volta no PSD - Miguel Pinto Luz foi o terceiro candidato na primeira ronda -, da qual o líder social-democrata saiu vencedor com mais de 53% dos votos.

Desde então, as críticas internas foram quase inexistentes e apenas verbalizadas - por poucos, como Jorge Moreira da Silva ou Miguel Poiares Maduro - quanto à estratégia eleitoral seguida nos Açores.

Em termos eleitorais, Rio começou a liderança com derrotas pesadas nas europeias e legislativas de 2019. Nas regionais da Madeira, no mesmo ano, o partido venceu, mas perdeu a maioria absoluta que tinha desde 1974.

Para as regionais dos Açores, em outubro do ano passado, o presidente do PSD tinha traçado como objetivo disputá-las “taco a taco”, mas a conjugação de resultados acabou por levar os sociais-democratas a regressar ao poder mais cedo do que previam apesar de não serem o partido mais votado, através de uma coligação formal com CDS-PP e PPM, e acordos com o IL e, mais polémico, com o Chega.

Desde então - e até antes -, Rio não excluiu que o entendimento com o partido liderado por André Ventura se possa repetir a nível nacional em futuras legislativas, desde que o Chega se “modere”, e que não sejam colocados em causa princípios basilares dos sociais-democratas.

Por enquanto, Rio vai entendendo que o Chega “não se tem moderado”, pelo que o acordo-chapéu a assinar em breve com o CDS-PP para enquadrar as coligações autárquicas locais vai excluir expressamente qualquer aliança com este partido.

Desde que assumiu a liderança do PSD, formalizada em congresso em fevereiro de 2018, Rio tem apontado as autárquicas como as eleições mais importantes para o partido (mais até do que as legislativas de 2019), depois dos piores resultados de sempre alcançados sucessivamente nas eleições locais de 2013 e 2017.

Na semana passada, Rio propôs o adiamento destas eleições por dois meses para permitir que a campanha decorra quando a maioria da população já estiver vacinada contra a covid-19, mas, por enquanto, o projeto-lei não parece reunir consenso político para ser aprovado.

Como objetivo para este sufrágio, Rio já apontou a “viragem de tendência”, admitindo ser difícil recuperar de uma vez a grande desvantagem em relação ao PS no número de câmaras (98 contra 161 dos socialistas).

Nos últimos tempos, o líder do PSD tem-se mostrado mais ambicioso quanto às grandes câmaras, como Lisboa e Porto, onde disse que o partido vai concorrer “com vontade de ganhar” e não apenas “por um resultado jeitoso”, mas ainda sem revelar nomes de candidatos.

Nos próximos meses, o PSD deverá avançar igualmente com propostas em áreas que são, desde há muitos anos, ‘bandeiras’ de Rui Rio, como a reforma do sistema político e da justiça, tendo sido criadas comissões no partido com resultados prometidos para final de maio e 25 de Abril, respetivamente.

No parlamento, e depois de um primeiro mandato com uma relação difícil com uma ‘bancada’ ainda escolhida pelo seu antecessor Pedro Passos Coelho, Rio tem agora poucos ‘críticos’ nas cadeiras de São Bento - e alguns, como Pedro Rodrigues e Álvaro Almeida, até eram seus próximos.

Apesar de nunca ter aprovado um Orçamento do Estado ao PS - só viabilizou pela abstenção o Suplementar de 2020, que reforçava verbas previstas para o combate à pandemia -, Rio fez alguns acordos genéricos com o Governo no primeiro mandato (em matéria de fundos comunitários e descentralização), e, mais recentemente, outros entendimentos ‘informais’, como nas eleições dos presidentes das CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional).

Durante a pandemia, o PSD foi o único partido a votar sempre ao lado dos socialistas as sucessivas autorizações para decretar o estado de emergência em Portugal, mas recentemente o partido subiu o tom das críticas à gestão do Governo, quer na saúde, quer em áreas setoriais como a Justiça (devido à polémica da nomeação do procurador europeu) ou Administração Interna.

Em ano de autárquicas, dificilmente serão muitas as vozes que se levantarão dentro do partido nos próximos meses contra a estratégia de Rui Rio, que, se o calendário eleitoral não se alterar, ainda vai a votos no PSD - em janeiro de 2022 - antes das legislativas de 2023.

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