“Sobre ele pesa a responsabilidade de uma tarefa de que eu, melhor do que ninguém, conheço as dificuldades que hoje lhe são inerentes”, afirmou Rui Rio, no seu discurso de despedida perante o 40.º Congresso do PSD.
Rio fez votos para que o novo presidente eleito consiga construir uma alternativa social-democrata ao Governo do PS “em nome do partido, mas fundamentalmente em nome do interesse nacional”.
“O país tem de estar acima de tudo e os meus votos são para que o Luís Montenegro tenha êxito no serviço a Portugal que agora vai iniciar a partir da liderança da oposição”, desejou.
O Congresso aplaudiu de pé a subida ao palco de Rui Rio, ao som do hino “Sou como um rio”, que foi o mais tocado durante a sua liderança de 4 anos e meio, que termina este fim de semana.
Rio recordou, na sua última intervenção pública enquanto presidente do partido, que na sua liderança disputou “múltiplas eleições internas e externas”. “Nunca na história da democracia portuguesa houve tantos atos eleitorais concentrados num idêntico período de tempo”, sinalizou, agradecendo aos militantes, a “principal força do PSD”.
No entanto, fez também questão de deixar uma palavra de gratidão aos que o acompanharam neste percurso. “Por isso, faço questão de ser grato, a quem, com coerência e com dignidade, me ajudou lealmente neste caminho que até hoje percorri e que agora atinge o seu final”, sublinhou.
No seu discurso, Rui Rio lembrou ainda os sociais-democratas que faleceram nos últimos anos, evocando o antigo deputado António Topa e o histórico assessor Zeca Mendonça. “Dois companheiros - e amigos de muitos de nós - que serviram o PSD com altruísmo e com dedicação. Eles são dois exemplos que não devemos esquecer, porque só quem segue os melhores, está apto a construir o futuro”, disse.
Ainda durante a sua intervenção, Rui Rio considerou “um despautério” a ideia que tentam passar na opinião pública de que o PSD “está a definhar”, lamentando que o populismo não seja “um exclusivo das forças extremistas”.
“É precisamente esse mimetismo de muito fraca criatividade que tem tentado instalar na opinião pública a ideia de que o PSD está a definhar e em dificuldades para evitar o caminho para a sua irrelevância política”, disse.
No seu discurso de despedida, lamentou estas considerações sobre “um partido político que governa as duas Regiões Autónomas de Portugal, os Açores e a Madeira, que preside a 113 câmaras municipais, que governa a capital do país, que tem mais do dobro das capitais regionais e de distrito do que o seu adversário direto, que tem um terço dos deputados da Assembleia da República, que tem mais de 1.200 presidentes de junta de freguesia, que ultrapassa os 13.000 autarcas eleitos nas suas listas e que tem mais de 50.000 militantes”.
“Como é possível ter tão pouco respeito por si próprio, ao ponto de não se coibir de exibir publicamente o ridículo com tais afirmações”, condenou.
O presidente cessante social-democrata referiu que “o PSD é desde 1974 um grande partido e, no futuro, continuará a ser o grande partido que sempre foi”.
“Disso podemos estar certos, e não será por a distorcerem que a realidade deixará de o ser”, assegurou.
Para Rio, “estar na política de forma séria e com espírito de missão é defender as suas ideias e as suas convicções, procurando, com nobreza, convencer os outros da sua bondade” e “não é contratar técnicos de marketing a peso de ouro para eles nos mandarem repetir o que o eleitor quer ouvir”.
“É precisamente esta forma superficial de estar na vida pública, agravada com uma excessiva obediência à lógica mediática, que tem conduzido o País ao imobilismo reformista, à cobardia política e à degradação cultural e intelectual da intervenção pública - porque, infelizmente, o populismo não é um exclusivo das forças extremistas, nem do mimetismo que caracteriza a maior parte da opinião publicada”, considerou.
Foco: melhorar resultados eleitorais
Antes, à chegada ao Congresso, o ainda líder do PSD elegeu como um dos desafios do próximo líder, Luís Montenegro, melhorar os resultados eleitorais do partido e indicou que se vai afastar da vida política, já tendo um “trajeto muito comprido”.
“Da minha parte fiz o que acho que devo fazer e que disse que ia fazer. No dia 01 de fevereiro era o presidente do partido em ‘full time’, no dia 15 era um bocadinho menos, no dia 20 menos, em março menos e fui aterrando ligeiramente”, apontou, considerando que “nunca houve uma ausência, um vazio, foi gerido com calma”. Quanto a Luís Montenegro, “também geriu bem”, defendeu.
Sobre os desafios eleitorais que o líder eleito terá pela frente, Rio defendeu que nas eleições para o “Parlamento Europeu convém melhorar um bocadinho" e nas legislativas "também convém melhorar”. “Eu não ganhei e o PSD quer ganhar, esperemos que sim”, salientou, realçando no entanto que nas últimas eleições autárquicas os sociais-democratas ficaram “à frente do PS” e recuperaram “praticamente metade do que tínhamos de atraso”. E “se repetir [os resultados na] Madeira também dá, os Açores também dá”, acrescentou.
"Porque é que eu não havia de ter a consciência tranquila?”
Questionado se a política fica mesmo de fora da sua vida daqui para a frente, Rui respondeu: “Acho que sim. Já fui muita coisa, já tenho um trajeto muito comprido”.
Mas indicou que ainda estará presente no parlamento aquando do debate sobre o estado da Nação, no dia 20 de julho.
E indicou que sai de consciência tranquila: “Isso saio, porque é que eu não havia de ter a consciência tranquila?”.
Já durante o discurso, Rio afirmou ter procurado cumprir “o melhor possível” o seu percurso como líder, garantindo que estará, como todos os sociais-democratas, a acreditar que o partido vai vencer “como sempre venceu”.
“Na vida há um tempo para tudo, há o tempo para entrar, para estar e para sair”, disse, considerando que estar na política “de forma digna” passa por “agir com nobreza e sentido ético em cada um dos momentos”.
“Procurei cumprir o melhor possível cada uma destas etapas do meu percurso como presidente do Partido Social Democrata. Não é possível percorrê-las sem cometer erros, nem evitar omissões. Mas é fundamental realizá-las tendo sempre em mente os princípios que acabei de enunciar”, garantiu, na reta final do seu discurso.
Rio garante que se preparou a sua saída “sem dramas, sem precipitações e sem truques, com serenidade e sem sentimentos negativos”, mas sim “com a preocupação de a ver pelo ângulo mais construtivo e mais maduro”.
“Em nome do Portugal, de que todos gostamos mesmo nos seus piores momentos, espero que o PSD prossiga como sempre prosseguiu e vença como sempre venceu. Cá estaremos todos para ter esperança e para acreditar que assim continuará a acontecer”, afirmou, usando a expressão “acreditar” que foi o lema da campanha interna do novo presidente, Luís Montenegro.
Rui Rio, e o líder eleito, Luís Montenegro, entraram hoje juntos na sala do Pavilhão Rosa Mota, no Porto, no momento que marcou o arranque do 40.º Congresso do PSD.
Os trabalhos começaram cerca das 21:54, com quase uma hora de atraso em relação ao inicialmente previsto.
Como habitualmente, é a cor laranja que domina o cenário – embora tanto Rio como Montenegro tivessem escolhido o azul para a cor das gravatas - com o busto do fundador Francisco Sá Carneiro junto às bandeiras.
O ‘slogan’ “Portugal em primeiro” está em grande destaque no ecrã e a palavra “social-democracia” lê-se nas duas mesas do palco.
O 40.º Congresso do PSD, a consagração de Luís Montenegro como presidente do partido, decorre até domingo no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, mas inicialmente esteve marcado para o Coliseu da mesma cidade, tendo mudado de local devido às melhores condições do novo espaço que, entretanto, ficou disponível.
Quase 30 anos depois, o PSD volta assim aos congressos no Pavilhão Rosa Mota, mas numa situação bem diferente de 1992, quando Cavaco Silva governava o país com maioria absoluta.
Agora, é o PS que detém a maioria absoluta desde as eleições de 30 de janeiro e o PSD está longe do poder desde 2015.
Neste Congresso, estão inscritos 935 delegados, 203 participantes, e 1.033 observadores, de acordo com dados da secretaria-geral do PSD.
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