Em declarações à Comunicação Social pouco antes de homenagear a escritora, o autarca do Porto falou de uma memória que defendeu dever estar sempre presente, a partir de agora, em quem a leu e compreendeu.
"Agustina era uma pessoa que de facto vivia intensamente o Porto, o Norte, era uma figura absolutamente inolvidável da nossa cultura, que fica para sempre", afirmou Rui Moreira, mencionando ter a autarquia aprovado hoje "um voto de pesar", depois de, na segunda-feira, ter declarado "dois dias de luto municipal, antecipando o luto nacional de hoje".
E prosseguiu: "Ela vai continuar presente em todas as pessoas que leram 'A Sibila' ou viram os filmes do Manoel de Oliveira ou a conheceram, e que têm por ela um respeito muito grande. Era uma pessoa que, independentemente dos seus méritos literários, soube catalogar e caracterizar a nossa cidade, as nossas gentes, os nossos hábitos, os nosso destinos".
Enfatizando tratar-se de "uma pessoa absolutamente extraordinária", o autarca portuense lembrou a sorte que teve de "a poder homenagear em vida", frisando que a maior homenagem "foi ler o que ela escreveu (...), foi perceber o que ela dizia, foi entender quando chamava a atenção, por vezes, para as nossas pequenas contradições, as nossas fragilidades".
Destacando o "sentido de humor extraordinário" de uma escritora que "escrevia maravilhosamente", Rui Moreira afirmou ainda que Agustina Bessa-Luís "era uma pessoa que, com aquele corpo pequeno, inspirava a todos uma forma diferente de nos vermos ao espelho".
"A Agustina obrigava-nos todos os dias a vermo-nos ao espelho nas nossas fragilidades e contradições, que todos temos", salientou.
Sobre a obra da escritora, disse que "esceveu sobre o fim, e o fim é o principio de alguma coisa", defendendo, por isso, que todos continuem a "interpretá-la, a fazer com que as pessoas leiam os livros dela".
Agustina Bessa-Luís, que morreu na segunda-feira, no Porto, aos 96 anos, nasceu em 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante.
O nome da escritora, que se estreou nas Letras com o romance "Mundo Fechado", em 1948, destacou-se em 1954, com a publicação de "A Sibila", obra que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz.
Agustina recebeu também, por duas vezes, o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, a primeira, em 1983, pela obra "Os Meninos de Ouro", e, depois, em 2001, por "O Princípio da Incerteza I - Joia de Família".
A escritora foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015.
Em 2004 recebeu o Prémio Camões, instituído pelos governos de Portugal e do Brasil, e o Prémio Vergílio Ferreira, da Universidade de Évora.
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