“Nunca perdi eleições”, disse Rui Rio na sexta-feira, enquanto enumerava as suas vitórias políticas, primeiro enquanto estudante universitário, depois as três eleições que venceu e que lhe permitiram liderar a Câmara Municipal do Porto durante três mandatos consecutivos.

Do outro lado, Pedro Santana Lopes não podia dizer o mesmo. O antigo autarca da capital perdeu quatro corridas à liderança do PSD - perdeu para Fernando Nogueira, perdeu para Marcelo Rebelo de Sousa, perdeu para Durão Barroso e perdeu para Manuela Ferreira Leite. A única vez que tinha chegado à liderança do partido conseguiu-o através da saída de Barroso para a Comissão Europeia, em Bruxelas, e não com o voto dos militantes. Fora da família social-democrata perdeu as eleições legislativas de 2005 para José Sócrates, que conseguiu a primeira maioria absoluta da história do Partido Socialista.

Esta noite, o invicto permaneceu invicto, o derrotado continuou derrotado.

A noite em que o 'passismo' morreu

A derrota do Partido Social Democrata nas eleições autárquicas de 2017 foi o pique da crise do maior partido da oposição. Pedro Passos Coelho saía e o partido tinha de escolher entre manter-se na posição mais liberal e de direita ou voltar ao centro. Pedro Santana Lopes era o candidato da primeira solução, Rui Rio o da segunda.

A vitória do centro significa a derrota de Passos Coelho. Porquê? Porque os principais apoiantes do antigo primeiro-ministro apoiavam Santana Lopes. Porque, se as ideias para governar o país não eram assim tão diferentes, a forma como Rui Rio olhava - e olha - para o partido herdado do passismo eram significativamente diferentes das de Passos Coelho. "Deixem-me ganhar e logo verão", a frase que atirou no último dos três debates com Santana Lopes tinha tudo isso implícito.

Agora, Rio, que no seu discurso de vitória evocou Francisco Sá Carneiro, o fundador do Partido Social Democrata que no seu discurso na festa do 4º Aniversário do PSD disse “Nós, Partido Social Democrata, não temos qualquer afinidade com as forças de direita, nós não somos nem seremos nunca uma força de direita”, quer devolver o partido ao centro.

O centro é mais próximo de António Costa, e por isso, durante a campanha, Santana Lopes apelidou Rio de ser Dupond e Dupont do atual primeiro-ministro. A relação entre os dois ex-autarcas e agora líderes dos dois principais partidos foi um tema puxado por Pedro Santana Lopes que apostou em fazer das boas relações um problema político para o seu adversário.

E, na verdade, do ponto de vista da estratégia política uma das principais cartas em jogo era até que ponto os militantes do PSD preferiam um não redondo a qualquer viabilização de um governo PS por parte do PSD - compromisso que Santana Lopes assumiu como seu - e uma disponibilidade para o fazer de forma a impedir um novo acordo de "geringonça", proposta assumida por Rui Rio. Os resultados das diretas dizem que nesta matéria o pragmatismo falou mais alto que a posição ideológica: apesar de afastar a ideia de Bloco Central, Rio manteve que apoiaria um governo minoritário socialista, caso o PS saia vencedor das eleições legislativas de 2019, para afastar a extrema-esquerda do governo.

O combate que Santana anunciava nas suas posições contrárias ao governo em relação aos temas fraturantes que foram surgindo durante a campanha, e que estavam alinhadas com as ideias do PSD de Passos Coelho, parece que cairá para dar lugar ao diálogo.

Dupond diferente de Dupont

Sem nunca conseguir fugir às comparações com o atual primeiro-ministro, um dos principais desafios que se impõe agora a Rui Rio é diferenciar-se de António Costa e afirmar-se como um líder da oposição diferente do que  foi Pedro Passos Coelho e do que se poderia antecipar de Pedro Santana Lopes.

Em termos práticos, Rui Rio tem de apresentar um projeto diferenciador numa altura em que o país vive os melhores resultados económicos da última década. Difícil para qualquer candidato, mas espelhadas na moção do candidato que pede “alterações na despesa pública sustentáveis a curto e médio prazo”, que projeta um caminho para o crescimento interno assente no apoio às empresas e na ideia contrária à da procura interna exposta pelo atual governo.

créditos: FERNANDO VELUDO/LUSA

Além de recuperar o eleitorado perdido numa altura em que o país vive um bom momento, reposicionar o PSD no xadrez político é outra das frentes de Rui Rio. Esse é um caminho que passa, desde já, pela relação que o partido terá com o CDS e o PS e que se espera que Rio espelhe já nos primeiros meses de liderança.

O prazo, esse, é curto com 2019 a trazer duas eleições primordiais: as europeias, que serão o primeiro sinal da sua liderança, e as legislativas que serão o fator de avaliação, definitivo, do futuro de Rio à frente do partido.

"O PSD não foi fundado para ser um clube de amigos”

Para levar por diante estes desafios, o novo líder do PSD terá de pegar no lema do adversário, “unir o partido, ganhar o país”. A vitória não foi tão expressiva quanto o antigo autarca portuense desejaria. Os 54% alcançados são o espelho de um partido dividido e que necessita primeiro de uma reforma interna para poder seguir para a atuação externa. Aqui será determinante o que acontece no congresso do PSD em fevereiro e dos nomes de que Rio se fará acompanhar, uma escolha determinante uma vez que o novo líder social-democrata não tem um lugar no Parlamento.

O aviso foi feito no discurso de vitória: "O PSD não foi fundado para ser um clube de amigos, nem foi pensado para ser uma agremiação de interesses individuais", disse Rio.

Prevê-se a saída de Hugo Soares, líder da bancada parlamentar laranja e apoiante de Santana Lopes, e especula-se sobre o nome que o seguirá, muito porque essa poderá ser uma decisão importante para unir o partido. A escolha de um nome que durante a campanha esteve mais próximo de Pedro Santana Lopes pode estar cima da mesa.

O “agora será mais por aqui” de Pedro Santana Lopes

Quando perdeu as eleições legislativas em 2005, Pedro Santana Lopes disse que iria “andar por aí”. Agora, diz que “será mais por aqui”.

créditos: MIGUEL A. LOPES/LUSA

O candidato derrotado disse que o seu caminho político não terminou e a sua frase permanece uma incógnita. Estaria Santana já a falar de uma candidatura presidencial para 2027? Estará a formação de um novo partido, novamente, em cima da mesa? A incógnita pode ser uma dor de cabeça para Rui Rio que terá assistido ao discurso de derrota do seu adversário onde não se falou nada de união, e se falou muito na primeira pessoa.