Um porta-voz do Departamento de Estado denunciou, na terça-feira, que a Rússia não estava a cumprir “a sua obrigação ao abrigo do Tratado News Start [novo começo] de facilitar as atividades de inspeção no seu território”.

“Vemos que os Estados Unidos destruíram efetivamente o quadro legal para o controlo e segurança de armas nucleares”, respondeu hoje o porta-voz do Kremlin (Presidência russa), Dmitri Peskov.

Face a uma “triste situação”, Peskov acrescentou que a Rússia “acredita que a manutenção deste tratado é muito importante”, segundo a agência francesa AFP.

O embaixador russo em Washington, Anatoli Antonov, também lamentou as ações dos Estados Unidos, que disse minarem o objetivo do acordo, que é o de “manter o equilíbrio das armas ofensivas estratégicas das partes”.

“Washington recusa-se a ver as causas profundas do problema, culpando os outros”, disse Antonov numa declaração publicada na rede social Facebook.

Antonov disse que a Rússia “avisou que o controlo de armas [nucleares] não pode ser isolado das realidades geopolíticas”.

“Nas atuais circunstâncias, consideramos injustificado, inadequado e impróprio convidar os militares dos EUA para as nossas instalações estratégicas”, acrescentou, numa alusão à guerra contra a Ucrânia que a Rússia iniciou há quase um ano.

A diplomacia norte-americana tem criticado Moscovo, nas últimas semanas, por ter suspendido as inspeções e cancelado as conversações sobre o tratado.

No entanto, não acusou a Rússia de expandir o seu arsenal nuclear para além dos limites a que as duas partes chegaram a acordo.

No ano passado, a Rússia anunciou o adiamento de uma reunião com os Estados Unidos, marcada para o final de novembro, sobre inspeções ao abrigo do tratado, acusando Washington de “hostilidade e toxicidade”.

A última reunião da comissão consultiva bilateral prevista no tratado remonta a outubro de 2021.

As relações entre as duas potências nucleares estão no nível mais baixo desde o início da guerra russa contra a Ucrânia em 24 fevereiro de 2022.

Os Estados Unidos, bem como os seus principais aliados, têm apoiado a Ucrânia financeiramente e com envio de armamento.

A Rússia tem alertado que o fornecimento de armas à Ucrânia representa uma escalada do conflito que poderá levar a que o país se sinta em perigo e tenha de se defender com todos os meios, incluindo com armas nucleares.

Através de uma carta publicada na semana passada, os chefes de diversas comissões do Congresso norte-americano afirmaram que as ações e declarações da Rússia “colocam no mínimo sérias inquietações quanto à sua conformidade com o New Start”.

Assinado em 2010, o tratado limita os arsenais dos dois países a um máximo de 1.550 ogivas na posse de cada uma das partes, uma redução de cerca de 30% em relação ao precedente limite fixado em 2002.

Fixa ainda até 800 o número máximo de rampas de lançamento e bombardeiros pesados.

Logo após a sua eleição em janeiro de 2021, o Presidente norte-americano, Joe Biden, prolongou o tratado por cinco anos, até 2026.