Sánchez falava em Madrid, numa reunião com os deputados e senadores do Partido Socialista (PSOE) eleitos em 23 de julho e disse que vai pedir ao parlamento o apoio para ser de novo investido líder do governo.
O PSOE foi o segundo partido mais votado nas legislativas, mas tem mais aliados no parlamento do que o vencedor das eleições, o Partido Popular (PP, direita), pelo que Sánchez aspira a ser reconduzido primeiro-ministro, à frente de um Governo de coligação dos socialistas com o Somar (extrema-esquerda) e com o apoio de uma ‘geringonça’ no Congresso dos Deputados formada por forças regionalistas, nacionalistas e independentistas.
Se Sánchez conseguir os apoios necessários será a primeira vez na democracia espanhola que o partido mais votado não lidera o Governo do país.
O PP tem insistido em que deve ser o partido mais votado a governar e já afirmou que mesmo sem garantia de apoios suficientes, o líder dos populares, Alberto Núñez Feijóo, se submeterá à votação do parlamento se o Rei de Espanha, Felipe VI, o indicar como candidato a primeiro-ministro após a ronda de audições que o monarca terá de fazer com os partidos representados no parlamento.
Na intervenção que fez hoje, Sánchez pediu ao PP para “aceitar o sistema parlamentar” estabelecido na Constituição espanhola, que diz que é investido primeiro-ministro quem reunir uma maioria de apoios no Congresso dos Deputados.
“Esta não é a hora nem de pressões ao chefe de Estado nem de cabalas mágicas. Esta é a hora da democracia parlamentar”, afirmou.
Feijóo disse após as eleições que, como presidente do partido mais votado, iria tentar formar governo e iniciou contactos com outras forças, mas até agora só conseguiu os apoios do VOX (extrema-direita) e da União do Povo Navarro (UPN, 1 deputado), insuficientes para lhe garantir a investidura como primeiro-ministro.
Sánchez disse hoje que o PP “deixou-se arrastar” pelo VOX e tem hoje uma “total incapacidade de somar maiorias parlamentares” ou de fazer alianças “mais além da ultra direita” porque “dinamitou todas as pontes” com outros partidos.
Nesta intervenção, Sánchez falou já nos “desafios da nova legislatura” que os socialistas vão assumir, mas não deu detalhes sobre as negociações com os partidos nacionalistas e independentistas de que depende para voltar a formar governo.
No entanto, assumiu “o compromisso” de defender a utilização das línguas oficiais espanholas para além do castelhano (catalão, basco e galego) nas instituições europeias, uma reivindicação dos partidos com quem tem de negociar a nova investidura como primeiro-ministro.
A nova legislatura espanhola, saída das eleições de 23 de julho, arranca na quinta-feira com a constituição formal do parlamento.
A eleição da Mesa do Congresso e da Presidência do Congresso (o parlamento espanhol) na quinta-feira servirá de ensaio à possibilidade de formação de um novo governo de esquerda.
O PSOE indiciou esta semana um nome para candidata a presidente do Congresso, o da deputada Francina Armengol, que para ser eleita terá de conseguir o apoio dos mesmos partidos com quem os socialistas e o Somar negoceiam a ‘geringonça’ parlamentar.
Estão em causa cinco partidos regionalistas, nacionalistas e separatistas que já viabilizaram o último governo de Sánchez, mas a que este ano se junta mais um, o Juntos pela Catalunha (JxCat), fundado por Carles Puigdemont, o antigo presidente do governo regional catalão que vive desde 2017 na Bélgica para fugir à justiça espanhola depois da declaração unilateral de independência da região daquele ano.
O JxCat, independentista, elegeu sete deputados e votou contra a investidura de Sánchez na última legislatura.
Nenhum dos partidos com quem o PSOE e o Somar têm de negociar rejeitou, para já, a possibilidade de conversações e apoio a um novo governo de esquerda.
Puigdemont, que formalmente não tem qualquer cargo no JxCat mas é considerado o líder de facto da força política que fundou, escreveu hoje na rede social X (antes Twitter) que só dará os votos ao PSOE perante “factos comprováveis”, tanto em “acordos para a Mesa [do Congresso] como em acordos de maior importância, como o da investidura” do Governo.
Poucos dias depois das eleições, Puigdemont tinha afirmado, na mesma rede social, que o apoio do JxCat a Sánchez vai depender de um acordo sobre o “conflito” catalão e defendeu negociações sem “pressões” e sem “chantagem política”.
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