Durante uma vídeoconferência sobre “O Futuro da Aliança Atlântica”, organizada pelo Instituto de Defesa Nacional, o chefe da diplomacia portuguesa recordou que a NATO não é apenas uma organização militar, mas também uma aliança política, que enfrenta neste momento novos desafios, para os quais precisa de novas definições.
Santos Silva considera que a NATO precisa de repensar os seus três principais eixos: a natureza da organização, a forma de cooperação e o seu âmbito geopolítico, de forma a encarar as novas ameaças e futuros desafios.
“Todos estes eixos são problemáticos. Mas problemáticos no bom sentido”, disse o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, salientando a importância e a urgência de uma reflexão profunda sobre a organização, que, de resto, já foi pedida ao secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.
“Somos uma organização de defesa. Protegemos os nossos interesses, mas precisamos de identificar as nossas ameaças e desafios”, acrescentou Santos silva, referindo-se ao que se mantém inalterado, quando muito está a ser colocado em questão.
Para o chefe da diplomacia portuguesa, a “ameaça permanente” da NATO é a “rede internacional de terrorismo”, mas a aliança tem detetado novas ameaças, que convém clarificar.
“Uma ameaça é o comportamento agressivo da Rússia. Reparem que eu não disse a Rússia. Disse o comportamento agressivo da Rússia e esta ‘nuance’ é muito importante, porque temos de clarificar onde se posiciona a atitude do Governo russo”, esclareceu Santos Silva.
“Outra ameaça é o reforço da posição da China. E este é um facto novo. É uma novidade, que tem de ser analisada”, disse o ministro, explicando que, para a NATO a China não é vista como “um rival estratégico”, como é vista, por exemplo, pela União Europeia, mas como uma incógnita que é necessário decifrar.
Na sua intervenção na conferência, que reuniu um painel de especialistas de várias áreas, incluindo o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, Santos Silva disse que, neste esforço de autorreflexão, a NATO deve ter em conta duas afirmações recentemente proferidas por dois chefes de Estado de países da Aliança: “A NATO está obsoleta”, pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, e “a NATO está em morte cerebral”, pelo Presidente francês, Emmanuel Macron.
“Estas duas frases devem fazer-nos pensar”, concluiu Santos Silva, dizendo que depende da reflexão sobre o futuro da organização a forma como se posicionará perante os riscos colocados pela China e pela Rússia.
“A relação com a China é um desafio com consequências”, alertou o chefe da diplomacia portuguesa, apelando a uma melhor compreensão sobre os intuitos de Pequim, recordando que esse país asiático tem 1,4 mil milhões de habitantes e tem sofrido alterações profundas no seu tecido social e na sua posição sobre direitos humanos.
Santos Silva disse que é também preciso equilibrar as relações de força a oriente, perante as ameaças que a China constitui, nomeadamente para garantir a navegabilidade das águas internacionais na região.
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