Augusto Santos Silva, que falava num seminário organizado pelo Banco de Portugal, em Lisboa, frisou ao longo da sua intervenção que a UEM traduz “um degrau mais avançado na integração europeia” que “é preciso defender”.

O ministro apontou razões de “credibilidade política”, de “sensatez económica” e de “defesa do projeto europeu”.

“Temos de nos preparar todos, na UE, para o próximo mês de maio, onde, pela primeira vez desde que há eleições europeias, a clivagem fundamental já não vai ser entre as famílias políticas pró-europeias, mas entre aqueles que querem continuar como projeto europeu e aqueles que querem destruir esse projeto”, explicou, referindo-se ao previsível aumento da presença de forças eurocéticas no Parlamento Europeu.

“Se não chegarmos a maio de 2019 com avanços significativos nos grandes ‘dossiers’, corremos o risco de estar a alimentar, certamente de forma involuntária, a corrente antieuropeia. E viremos a pagar o preço disso”, advertiu.

Para o ministro, o êxito da reforma vai depender da capacidade dos líderes europeus de “encontrar os caminhos que são comuns”, o que exige, desde logo, “abandonar a terminologia” que os divide.

Exemplificou, na discussão sobre a reforma da união bancária, com a “insistência de uns” na “redução de riscos” e “de outros” na “partilha de riscos”, divisão que deve “ser abandonada”, assim como a que existe entre quem defende um orçamento da zona euro, quem prefere “uma linha no orçamento” ou outra solução.

“Aproveitemos o mínimo denominador comum, qualquer que seja a fórmula, avancemos, para o que seja, mas aproveitemos o que há de comum nas nossas posições”, frisou.

“O nome é menos importante que a função, uma vez estabelecida a função rapidamente chegaremos ao nome”, acrescentou o governante.

Santos Silva apontou por outro lado três razões pelas quais entende que a reforma do euro é inadiável: “completar a união bancária e a união do mercado de capitais”, “corrigir e aperfeiçoar alguns aspetos” e, uma razão que considerou “capital do ponto de vista político”, “defender a UEM”.

O ministro explicou que mantém as críticas à resposta da UEM à “grave crise” das dívidas soberanas — “uma consolidação demasiado brusca”, “parcial e lacunar” que não conseguiu “enfrentar todas as dimensões e causas da crise” e que “padeceu de um erro crasso e básico de pensar que a consolidação das contas públicas se podia fazer em recessão da economia”.

Mas, ressalvou, “a resposta conseguiu superar a crise sem pôr em causa o essencial: a moeda única”, que qualificou de “um degrau mais avançado da integração europeia”.

Santos Silva citou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, no discurso do Estado da União, quando defendeu que “uma das prioridades próximas dos europeus tem de ser consolidar e afirmar mais o papel do euro como moeda internacional de reserva”.

“Tem toda a razão. Não conseguimos por exemplo resolver a questão que se nos coloca perante o Irão se continuarmos demasiado dependentes do dólar como moeda de reserva internacional a que recorrem as nossas empresas e o nosso sistema financeiro [porque] sem esse avanço, a decisão tomada pela UE de não abandonar o acordo nuclear torna-se apenas uma intenção muito dificilmente implementável”, exemplificou.

“Também no que diz respeito à integração europeia: o fortalecimento da moeda única é muito importante, porque a moeda única está desenhada para vir a ser a prazo médio ou longo a moeda de todos os Estados-membros”, defendeu o ministro.