“Nós temos uma população envelhecida e não é só no interior. Portugal tem uma população envelhecida, por isso não bastam aquelas medidas de trazer funcionários públicos para aqui. Temos mesmo de trazer pessoas, sejam refugiados, sejam migrantes, seja o que for, nós precisamos de pessoas aqui”, disse à agência Lusa Maria Teresa Silva.
De acordo com a responsável da entidade que representa, em Lisboa, os naturais do município deslocados na capital, há jovens em Pedrógão Grande a optar por alternativas de vida “com vontade de fazerem coisas novas”, como por exemplo projetos agroflorestais, “uma ligação entre a agricultura e a floresta”.
“Temos aqui jovens, maioritariamente estrangeiros, com vontade em fazerem novas coisas, é nisso que temos de facto que apostar”, argumentou.
A representante deu o exemplo também da situação “bastante preocupante” do restabelecimento de comunicações na zona afetada pelos incêndios e da necessidade de ser garantido o acesso “em condições” à internet.
“Queremos, por exemplo, trazer os nossos filhos. Eles sem internet não querem vir”, alegou.
Maria Teresa Silva saiu de Troviscais, uma aldeia dos arredores da vila de Pedrógão Grande, com 11 anos e lembrou que, na altura, “demorava quatro horas e meia a chegar a Lisboa”.
“Hoje chego em menos de duas horas, já não é a distância, já não se justifica que não se possa viver aqui”, frisou.
Pata tal, defende “novas formas de política, apoios e uma gestão concertada”, mas desconfia que “não é possível” cumprir a meta de cinco anos hoje defendida, num artigo de opinião no jornal Público, pelo Presidente da República para resolver as desigualdades entre o litoral e o interior.
“Em tão curto espaço de tempo não é possível. Eu sei que as pessoas estão a plantar eucaliptos, neste momento, nesse tão curto espaço de tempo não é possível, porque tem de haver não só a consciencialização, como o apoio aos pequenos proprietários”, sustentou.
“O problema do eucalipto não é só porque ele é rentável a curto prazo. É porque a gente planta o eucalipto e cinco anos depois vem cortá-lo, mas ele não precisa de pessoas cá, porque não há cá pessoas”, adiantou.
A Casa do Concelho de Pedrógão Grande promoveu hoje, naquele município, a segunda reunião com cerca de 30 associações e coletividades do concelho, destinada a identificar os problemas com que se debatem e discutir propostas e eventuais soluções.
Maria Teresa Silva admitiu que o próprio associativismo vive hoje uma época “complicada”, depois de anos “habituado a apoios do Estado, quer central quer local”: “Neste momento podemos dizer que as próprias associações estão a renascer”, enfatizou, aludindo, igualmente, à entidade a que preside há cerca de dois anos, que estava “moribunda”.
A Casa do Concelho quer assumir-se como um “chapéu-de-chuva” das associações, que possa acolher todas, e admite vir a ser uma espécie de “ponta-de-lança” em Lisboa no diálogo com entidades públicas e privadas.
As chamas que deflagraram em 17 de junho de 2017 no município de Pedrógão Grande, no interior do distrito de Leiria, e que alastraram a concelhos vizinhos, fizeram 66 mortos e 253 feridos, atingiram cerca de meio milhar de casas e quase 50 empresas, e devastaram 53 mil hectares de território, 20 mil hectares dos quais de floresta.
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