“Olá a todos”. Assim começou a intervenção de Sara Sampaio na Web Summit, acompanhada de “gritinhos” vindos da plateia, maioritariamente preenchida por jovens raparigas.

Estavam ali para escutar um dos “anjos” da marca de lingerie “Victoria’s Secret”, que veio falar da nova voz que as modelos ganham no mundo da moda, uma voz que se escreve no Facebook, no Instagram ou numa rede social perto de si.

A modelo portuguesa, de 26 anos, recuou no tempo, antes das redes sociais, no qual os modelos (homens, mas sobretudo as mulheres) “não tinham uma voz”. Os profissionais da moda pareciam e regiam-se pelo “faz o teu trabalho, cala-te e vai para a casa”, relembrou.

Hoje, tempos são outros, no entanto, algumas práticas mantêm-se. Mas hoje, a (nova) voz fala de nudez e de abusos que as modelos menores são vítimas pela indústria da moda. E está a ganhar poder.

Na conferência “The modern day model”, no palco Modum da Web Summit, o “Anjo”, com 10 anos de moda, recuperou um caso vivido na primeira pessoa. Foi numa sessão para a revista “Lui” para a qual tinha “um contrato estipulado que não havia nudez”, revelou. Nesses casos, assim pensa, “posso ir à sessão fotográfica e sentir-me confortável, o que não acontecia no passado”. No entanto, houve alguém a pressionar para fazer nudez dizendo que não era "diferente do que fazia no passado”, recordou.

Reconhecendo que por vezes é difícil manter tapado o que não se quer mostrar, “os acidentes acontecem”. Um dos acidentes “estava na capa da publicação mesmo depois de terem dito que não”. A resposta não se fez esperar. “Fui ao Instagram denunciar”. Com que objetivo? “Salvar pelo menos uma rapariga de passar pelo mesmo. Assim sabem que tipo revista é. E podem escolher”, relatou.

Sara Sampaio defendeu, assim, que o recurso a estas plataformas permite “que se alguém faz algo de mal é logo conhecido e há punição social e pública”.

“Empurrada a fazer coisas que não queria”

Sobre o seu trajeto no mundo da moda a modelo portuguesa confidenciou que foi “empurrada a fazer coisas que não queria. Faz parte da indústria”, disse. “As modelos estão fartas com o que se passa. Eu estou. E nem posso imaginar as raparigas...há muita merda por que passam as raparigas menores de idade: fotos em ‘topless’, serem sexualizadas. Há bullying para nudez. Não tem que ser assim”, rematou.

Em relação à nudez, Sara Sampaio disse estar “confortável” com o corpo e olha para ele “como arte”. Por isso reclama que que estas fotos devem “ser controladas, escolhidas e pensadas”, englobando nessa messa redonda de discussão a própria modelo. “Tem de haver um acordo mútuo”. E acima de tudo, “respeito”, atirou. “Há muitas sessões que faço em que esperam que eu me dispa. Quando é assim, eu digo não”, afirmou.

“Todos pomos selfies dos locais onde vamos, mas o poder do social media está em chamar atenção para atos e mudar”. E o poder está nas mãos das modelos e “ninguém pode empurrar para fazer o que não queres porque tens o social media para alertar do que acontece”, frisou. E esse alerta para as práticas erradas e abusivas pode “inspirar o medo na indústria”, o que “pode ser bom”, avisou.

Com tempo ainda para questionar por que razão as mulheres na moda “continuarem a ser exploradas e não respeitadas”, Sara Sampaio deixou uma palavra de esperança: “as modelos não tenham medo de dizer que não. A indústria caminhará na direção certa e se todos forem verdadeiros”, finalizou.

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