“Temos de saber dosear a problemática sem entrar na liberdade de cada um e começar pela sensibilização. Se não for um sucesso, temos de pensar noutro tipo de medidas, que podem passar pela definição de requisitos para o exercício da profissão”, afirmou, em declarações à Lusa, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares.
Alexandre Lourenço dá inclusivamente o exemplo da Organização Mundial de Saúde (OMS), “que não contrata profissionais que fumem”, admitindo que, se a campanha geral de sensibilização não funcionar, se exija que para exercer funções nalguns locais os profissionais tenham de cumprir determinados requisitos.
“Este é um problema que também se verifica com a vacina da gripe, em que a taxa de vacinação é muito inferior à do Programa Nacional de Vacinação”, afirmou Alexandre Lourenço, sublinhando: “O problema é que as pessoas [profissionais de saúde] se colocam numa situação de risco muito grande”.
O presidente da associação dos administradores hospitalares falava a propósito do surto de sarampo no norte do país, com 21 casos confirmados, 19 dos quais em profissionais de saúde e alguns não vacinados ou com esquema de vacinação incompleta. Do total de 51 casos reportados, 45 têm ligação laboral ao Hospital de Santo António, no Porto.
O responsável insiste que se devem tomar medidas em conjunto com as ordens e os sindicatos, lembrando que sem estarem vacinadas as pessoas podem ter “consequências muito graves".
“Em qualquer profissão, evoluiu-se muito em situações de risco profissional. Mesmo nos hospitais, alguém que seja, por exemplo, picado por uma agulha, faz logo a terapêutica profilática para a infeção VIH Sida”, exemplificou.
O representante dos administradores hospitalares recorda que noutros países foram encontradas soluções, dando o exemplo do Estado de Nova Iorque, “onde chegaram a acordo com os sindicatos para que os profissionais que não fossem vacinados para a gripe usassem sempre máscaras”.
De qualquer forma, Alexandre Lourenço diz que se deve começar pela campanha se sensibilização conjunta, chegando a acordo sobre as formas de promover a vacinação.
“Neste caso [dos profissionais de saúde], as pessoas têm um pouco o sentimento de super-homem, de que 'nada me vai acontecer porque eu até trabalho na área', esquecendo-se que estão até em maior risco do que qualquer outro elemento da comunidade”, acrescentou.
Admitindo que os hospitais não fazem triagem para saber se os profissionais que contratam têm as vacinas em dia e que caso contaminem alguém podem vir a ser alvo de processos cíveis, Alexandre Lourenço insiste: “Mais do que as indemnizações, o importante é o dano humano e os profissionais de saúde têm de ter a consciência do risco elevado que correm”.
O sarampo é uma doença altamente contagiosa causada por um vírus, sendo mesmo das infeções virais mais contagiosas. Geralmente é propagada pelo contacto direto com secreções nasais ou da faringe e por via aérea. Manifesta-se pelo aparecimento de pequenos pontos brancos na mucosa oral cerca de um ou dois dias antes de surgirem erupções cutâneas, que inicialmente surgem no rosto.
A doença tem habitualmente uma evolução benigna, mas pode desencadear complicações como otite média, pneumonia, convulsões febris e encefalites. Pode ser grave e até levar à morte.
A vacinação é a principal medida de proteção contra o sarampo e neste caso até é gratuita e está incluída no Programa Nacional de Vacinação (PNV).
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