O sindicato Teamsters anunciou greves em oito instalações da Amazon distribuídas por quatro estados americanos. Apesar representarem cerca de 9000 trabalhadores da Amazon ao nível nacional, o grupo de sindicalizados corresponde a menos de 1% da força de trabalho da empresa nos EUA, segundo números partilhados pelo gigante tecnológico.
O principal ponto de discórdia prende-se com a recusa da Amazon em reconhecer os motoristas como seus funcionários, apesar de usarem coletes da Amazon, conduzirem carrinhas da Amazon e entregarem exclusivamente encomendas da Amazon. Uma queixa que soma a outras reivindicações sobre salários e benefícios.
A Amazon, por seu lado, afirma que os motoristas de entregas não são funcionários porque são contratados a uma empresa terceirizada. “O que vemos aqui são quase exclusivamente externos — não funcionários ou parceiros da Amazon,” afirmou um porta-voz da Amazon.
Os motoristas são, efetivamente, contratados a empresas externas, mas argumentam que sendo a Amazon quem controla as suas condições de trabalho, tem o dever de os ouvir e de negociar com eles.
Estima-se que as empresas de entregas realizem quase 2,2 mil milhões de entregas entre o Dia de Ação de Graças e a véspera de Ano Novo, de acordo com a ShipMatrix. A Amazon é o maior retalhista online do país e opera centenas de armazéns. Só entre 2020 e 2022, a empresa adquiriu mais de 50 armazéns apenas na região da cidade de Nova Iorque.
A região de Nova Iorque é precisamente um dos epicentros da greve. Foi também aqui que, há dois anos, os trabalhadores do armazém JFK8 da Amazon, em Staten Island, se tornaram os primeiros a garantir uma eleição sindical e, mais tarde, votaram para se juntarem aos Teamsters, estabelecendo uma unidade local que representa cerca de 5.500 trabalhadores do armazém.
A Amazon veio dizer publicamente que os protestos dos Teamsters são uma tentativa de “enganar o público” e promover uma “narrativa falsa” de que representam milhares de funcionários e motoristas da Amazon, além de que a conduta do sindicato no último ano — incluindo a greve — é ilegal. “A verdade é que os Teamsters ameaçaram, intimidaram e tentaram coagir ativamente os funcionários da Amazon e motoristas de terceiros a juntarem-se a eles, o que é ilegal e está no centro de várias acusações pendentes de práticas laborais desleais contra o sindicato”, afirmou Kely Nantel, porta-voz da empresa.
A greve acontece na semana em que o senador Bernie Sanders, do Vermont, também divulgou um relatório de 160 páginas sobre as práticas laborais da Amazon. Segundo o relatório, a Amazon manipula dados de lesões no local de trabalho para que os armazéns pareçam mais seguros do que realmente são, além de se ter recusado a implementar recomendações que ajudariam os trabalhadores a evitar lesões, mas que reduziriam a produtividade. A Amazon rejeitou o relatório e criticou o senador por promover uma “narrativa pré-concebida”.
Por inesperado que possa parecer, o sindicato pode ter em Donald Trump um aliado inesperado. O presidente-eleito tem uma boa relação com o líder dos Teamsters, ao invés da relação que até aqui teve com o líder da Amazon, Jeff Bezos, e, na semana passada, apoiou os estivadores na sua luta contra a automação portuária.
Também na Alemanha, trabalhadores representados pelo sindicato alemão United Services Union iniciaram greves nacionais planeadas para ocorrer em paralelo com as dos Estados Unidos e prolongarem-se durante as festas. Os protestos começam na cidade de Werne, na Renânia do Norte-Vestfália. “A solidariedade não conhece fronteiras nacionais”, afirmou Silke Zimmer, membro da direção federal do sindicato. “ Continuaremos a lutar por salários justos, condições de trabalho seguras e o reconhecimento de acordos coletivos.”
Starbucks também em greve
Também nos Estados Unidos, outra greve está em curso em vésperas de Natal. Trata-se dos funcionários da Starbucks que, após reinvindicação por melhores salários e mais pessoal, decidiram parar em Seattle, Chicago e Los Angeles naquela que é descrita como a maior paralisação do sindicato desde que começaram as negociações contratuais há mais de dois anos.
Centenas de outras lojas podem aderir à greve. A Starbucks Workers United afirmou que a greve irá crescer de intensidade todos os dias que passarem sem um acordo antes da véspera de Natal. O sindicato representa mais de 11.000 pessoas em 528 lojas ao nível nacional, de acordo com o National Labor Relations Board, o que corresponde a cerca de 5% do total da cadeia de café nos EUA.
A Starbucks reagiu à greve, afirmando publicamente que está pronta para “continuar as negociações”, mas que para isso precisa que o sindicato faça o mesmo.
Na sua última oferta contratual, a Starbucks tinha proposto um aumento salarial de 1,5% “nos próximos anos” e “nenhum aumento salarial imediato”, segundo o anúncio de greve do sindicato.
O sindicato argumenta que a Starbucks deve ter mais margem para negociar, uma vez que o novo CEO, Brian Niccol, poderá ganhar 100 milhões de dólares em remuneração total no seu primeiro ano.
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