Na última intervenção pelo PS no debate do estado da nação, Pedro Nuno Santos insistiu na ideia de que “é praticamente impossível o PS viabilizar um orçamento que seja uma tradução exclusiva de um programa de Governo” que não tem o apoio dos socialistas.

“Faremos as nossas propostas, negociaremos com o Governo essas propostas e depois avaliaremos o resultado dessa negociação. Não é segredo para ninguém que as propostas do Governo para o IRS e o IRC, tal como as conhecemos, são muito problemáticas para o PS”, comprometeu-se o líder do PS.

Pedro Nuno Santos disse que se, no fim, se PS fizer "uma avaliação positiva" viabilizará o Orçamento do Estado, se não, chumbá-lo-á.

O secretário-geral do PS defendeu que o Governo de Luís Montenegro “se quiser de forma genuína evitar eleições antecipadas” tem de reconhecer “a sua condição minoritária” e “negociar seriamente” e deixar clara a sua “disponibilidade para ceder”.

"A existência de visões diferentes entre Governo e oposição não excluem, naturalmente, o exercício - também ele próprio da democracia – de aproximação de posições, de construção de pontes, de negociação de soluções comuns, mas não prestamos um bom serviço à democracia nem ao país quando reduzimos estas diferenças a meros jogos partidários ou ao serviço de clientelas”, defendeu.

À saída do debate, Pedro Nuno Santos considerou que "as intervenções do primeiro-ministro foram desajustadas", que o "nível de agressividade e de arrogância" foram inaceitáveis e que isso "não é um bom sinal", mas recusou fazer na comunicação social a negociação sobre o OE2025 dois dias antes da reunião com o Governo.

"Vamos esperar com serenidade. Se o Governo quer assegurar condições de viabilidade para o seu orçamento tem que ter uma atitude diferente. O PS está aqui no parlamento por vontade do povo português que votou no PS", avisou.

De acordo com o líder do PS, o executivo de Montenegro não pode "impor um programa do Governo pela simples razão que não tem maioria absoluta", prometendo "boa-fé" para as negociações orçamentais.

Ainda no período do debate do estado da nação, a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, já tinha acusado o Governo de querer um “diálogo binário”, no qual “ou é tudo como querem ou então faz-se uma moção de censura”.

Também o deputado socialista António Mendonça Mendes acusou o executivo de “violar flagrantemente” a lei de enquadramento orçamental, por ter apresentado ao parlamento uma proposta de lei de grandes opções sem “o quadro plurianual de despesas” que é “vinculativo”.

Na reta final do debate, as bancadas à esquerda foram unânimes na crítica de que o executivo está a governar apenas “para alguns em detrimento de todos”.

O líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, citou uma frase de Luís Montenegro – “a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor” – e devolveu ao Governo a crítica de “afunilamento ideológico”, que o impede “de ver o povo”.

Do PCP, a líder da bancada comunista, Paula Santos, considerou que o que marca os primeiros meses de governação “são as dificuldades de vida de quem vive do seu trabalho” e propôs-se a “denunciar um caminho que não serve e desmascarar uma política que tem de ser interrompida”.

Isabel Mendes Lopes, líder parlamentar do Livre, acusou o executivo de “borlas fiscais para os mais ricos e apresentações de ‘PowerPoint’ para encher telejornais”, afirmando que “a confusão está no Governo” e não na oposição.

Governo pede responsabilidade e acentua que portugueses não querem eleições antecipadas

O ministro dos Assuntos Parlamentares pediu hoje sentido de responsabilidade às diferentes forças políticas, afirmando que o seu executivo não quer medir forças com as oposições e que os portugueses querem estabilidade e não eleições antecipadas.

Estes avisos foram transmitidos por Pedro Duarte no encerramento do debate sobre o estado da nação, na Assembleia da República, numa intervenção em que fez um balanço sobre a ação do seu Governo nos primeiros 106 dias de funções.

“Aos interesses individuais ou agendas pessoais, há um bem comum que deve mandatar todos os que estão nesta Casa da Democracia. Não ignoramos que não temos maioria, mas às improváveis alianças de alguns, nós respondemos com vontade de dialogar e negociar; à sucessão de provocações da oposição, nós respondemos com ação. Preferimos as reformas à retórica e os factos às fantasias”, declarou.

Para o ministro dos Assuntos Parlamentares, “os portugueses gostam de moderação, de estabilidade, de saber com o que contam e, por isso, repetem nas sondagens que não querem eleições antecipadas”.

“O que está para frente, a partir de hoje, não é o chumbo ou a aprovação do Orçamento do Estado, não é a queda ou a sobrevivência do Governo, mas tão só a responsabilidade de cada um de nós. Membros do Governo ou membros de partidos podem tem as suas ambições, mas em política nenhuma aspiração partidária ou pessoal deve ser maior do que a ambição que temos para o país”, advertiu.