Numa altura em que declarava a Lei Marcial, num campo militar no sul do país, Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas, utilizou uma piada de mau gosto para tentar tranquilizar os soldados que temem ser punidos por cometer abusos sob a dita lei.
"Irei para a prisão por vocês. Se violarem três [mulheres], direi que fui eu. Mas se casarem com quatro, filhos de uma p***, vou bater-vos", disse o governante diante dos militares.
Não sendo esta a primeira vez que o presidente das Filipas ‘brinca’ com o tema, as declarações rapidamente foram condenadas a uma escala global.
Chelsea Clinton, filha de Hillary, utilizou a rede social Twitter para condenar as palavras de Duterte, afirmando que apelar à violação "não é divertido. Nunca", e apelidando o governante de um “bandido assassino sem respeito pelos direitos humanos”.
Também a associação Human Rights Watch comentou o caso, pela voz de Philem Kine. O comentário foi uma "tentativa doentia de fazer humor", disse o representante da organização. "Os comentários pró violação só confirmam alguns dos piores medos dos ativistas dos direitos humanos, de que o governo o governo não vai apenas virar a cara a possíveis abusos de militares de Mindanao, mas encorajá-los ativamente", sublinhou Kine.
Em 1989, após uma revolta de reclusos, que fizeram como reféns um grupo de religiosos protestantes que tinham ido à prisão dar-lhes apoio moral, os bandidos violaram todas as mulheres do grupo, entre outras barbaridades. Duterte mandou as forças policiais investir e assim morreram os 12 revoltosos e cinco reféns.
Mais tarde, o momento que chocou o mundo sucedeu quando o presidente percorria a prisão, depois do incidente, e parou ao lado do cadáver de uma das missionárias, Jacqueline Hamill, e disse: “Filha da mãe, que desperdício! Fico a pensar que eles se puseram em fila para a violar. Isso chateia-me, por um lado; mas ela era tão bonita, parecia uma actriz de cinema americano... acho que o Presidente da Câmara devia ter sido o primeiro."
A lei marcial — imposta por forças militares em caso de emergência ou de perigo quando as autoridades civis não conseguem manter a ordem e a segurança — foi instaurada na terça-feira em Mindanao, depois de terem sido registados violentos confrontos entre as forças armadas filipinas e combatentes com ligações ao grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Dirigindo-se aos filipinos, Rodrigo Duterte recordou que o país experimentou a lei marcial durante a ditadura de Ferdinand Marcos, que demorou duas décadas e terminou com uma revolução em 1986.
Duterte instaurou a lei marcial na região de Mindanao, que compreende a principal ilha, com o mesmo nome, e uma série de ilhotes vizinhos. A região, que constitui aproximadamente um terço do país, tem cerca de 20 milhões de habitantes.
A Constituição das Filipinas permite a instauração da lei marcial por 60 dias no caso de rebelião ou invasão.
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