No documento sobre “a situação dos direitos humanos dos muçulmanos rohingyas e de outras minorias em Myanmar”, o dirigente da ONU afirma também temer que o poder dos militares se torne cada vez mais difícil de travar.
“É urgente organizar uma resposta internacional e regional unificada para ajudar a recolocar Myanmar na via da reforma democrática”, sublinha Guterres no documento datado de 31 de agosto. Nenhuma explicação foi avançada pela ONU sobre o longo atraso ocorrido até à sua divulgação.
Para a Assembleia-Geral anual da ONU, cuja semana de participações ao mais alto nível terminou na segunda-feira, os Estados Unidos, a Rússia e a China concluíram um acordo para impedir Myanmar de falar na prestigiada tribuna das Nações Unidas, revelou um diplomata, citado pela agência noticiosa francesa AFP.
O embaixador nomeado em maio pela junta militar de Myanmar ainda não foi acreditado pela ONU, cuja Assembleia-Geral aprovou no fim de junho uma resolução não-vinculativa rara a condenar o golpe de Estado.
O texto foi aprovado por 119 países, 36 — entre os quais, a China — abstiveram-se e um — a Bielorrússia — votou contra.
Enquanto se espera que a Assembleia-Geral decida sobre a representação de Myanmar, o embaixador birmanês Kyaw Moe Tun, nomeado pela ex-dirigente civil Aung San Suu Kyi, mantém o lugar do seu país na ONU.
O esforço internacional “deve ser acompanhado da libertação imediata do Presidente Win Myint, de Aung San Suu Kyi e de outros representantes do Estado”, expressa António Guterres no seu relatório.
Deverá igualmente haver “um acesso e uma ajuda humanitária imediatos, em particular para as comunidades vulneráveis, entre as quais os muçulmanos rohingyas, muitos dos quais vivem no exílio no Bangladesh e noutros países”, acrescenta.
Hoje, o líder rohingya Mohammad Mohibullah, principal representante desta comunidade nos campos de refugiados de Cox’s Bazar, no sul do Bangladesh, foi morto a tiro por um grupo de agressores não-identificados, segundo fontes policiais.
Segundo o líder da ONU, “poderá tornar-se cada vez mais difícil impedir os militares de consolidarem o seu poder”, quando o que “é importante é apoiar as aspirações democráticas do povo da Birmânia”.
Myanmar está mergulhado em violência desde o golpe de Estado militar de 01 de fevereiro, que pôs fim a um parêntesis democrático de 10 anos.
A repressão militar dos opositores é sangrenta, com mais de 1.100 civis mortos e 8.400 encarcerados, segundo uma organização não-governamental (ONG) local, a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos (AAPP).
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