“O grande segredo da Vista Alegre é, de facto, ter uma marca muito forte e ter sido capaz de, independentemente dos períodos piores, ter conseguido manter uma excelente qualidade do seu produto e acho que a marca foi sempre de alguma forma protegida”, diz Nuno Terras Marques, quando questionado sobre os 200 anos da sua existência.
O gestor preside ao grupo Visabeira, o qual comprou a fábrica da Vista Alegre em 2009.
“Podemos falar mais daquilo que são os últimos 15 anos da Vista Alegre, que sei que são curtos para uma história de 200, mas que são 15 anos que, de facto, resgataram a Vista Alegre daquilo que era uma falência iminente para um dinamismo, para uma fase de crescimento, de diversificação de portfólio de produtos, para uma fase rejuvenescida”, o que é “absolutamente relevante” para aquilo que a empresa é hoje, prossegue.
A estratégia de crescimento e de globalização da marca Vista Alegre coloca-a como “marca de ‘lifestyle’, de luxo”, refere.
“Quase que me atrevo a dizer a Hermès portuguesa”, aponta, referindo que atualmente o foco é “diversificar” a gama de produtos.
A Vista Alegre Atlantis (VAA) não é apenas produtos de porcelana: “Agregamos também debaixo deste conjunto produtos em grês também com a Bordallo Pinheiro produtos em faiança, estamos neste momento a alargar e ou reforçar a marca para novas categorias, como a cutelaria, a iluminação, têxteis, mobiliário”, elenca o gestor.
Tudo isto reforça-a como “uma marca de luxo, mas mais ligado ao ‘lifestyle'”, sublinha.
“Acreditamos que uma das formas de conseguirmos prolongar a vida e uma vida saudável da Vista Alegre é reforçar cada vez mais esse posicionamento de marca no luxo”, reforça o gestor, apontando as parcerias feitas pela empresa com marcas de luxo internacionais, com artistas e designers de referência internacional.
O facto de “apostarmos também neste rejuvenescimento também a nível do design do produto permite-nos hoje crescer” em termos de notoriedade, prossegue, recordando os vários prémios internacionais de design que a Vista Alegre ganhou.
“Dão-nos credibilidade, notoriedade e, já não digo isto pela primeira vez, hoje a Vista Alegre é vista como um criador de tendências”, sublinha o presidente executivo.
Isto é um “sinal que estamos a fazer um bom trabalho”, admite.
Desde a entrada da Visabeira na Vista Alegre, “seguramente, já investimos na empresa entre os 150 e os 200 milhões de euros”.
Neste momento, “temos um plano de investimento na empresa”, que se iniciou no ano passado e vai estender-se para os próximos dois anos, que “totaliza sensivelmente 50 milhões de euros”.
Trata-se de um investimento “diferente dos outros que já realizámos”, diz, apontando que houve três fases de investimento.
No primeiro, que aconteceu logo que a Visabeira entrou, o investimento foi centrado “naquilo que era a modernização das unidades industriais, havia muitos equipamentos, as fábricas estavam naturalmente velhas, desajustadas à realidade”. E, nesse âmbito, “houve um forte investimento inicialmente no rejuvenescimento e modernização das unidades industriais”, sintetiza.
Depois, na segunda fase, o investimento foi para o aumento de capacidade produtiva: “Fizemo-lo em toda a linha, na criação da nova fábrica na Ria Stone [em Ílhavo, Aveiro], no aumento da capacidade produtiva na própria Bordallo Pinheiro, aumentos de capacidade produtiva em todas as fábricas”, elenca.
Agora, “estamos numa fase de investimento mais tendente àquilo que é descarbornização, circularidade e hibridização dos nossos fornos e eficiência energética”.
Ou seja, “não é tanto em aumento de capacidade, mas é numa tendência que para nós é claramente ums missão […], que é a reduzir ao máximo a nossa pegada de carbono, tornar os nossos fornos híbridos entre puro gás ou hidrogénio e biometano”, que sejam menos nocivos e redução a pegada ao “mínimo possível”.
Além disso, “a circularidade é para nós essencial, a reutilização de tudo quanto são desperdícios, reutilização de tudo quanto são peças de segunda escolha, peças partidas, tudo neste momento é reaproveitado, refeito em nova matéria-prima para ser realizado novamente na nova cadeia produtiva”.
Também “estamos a fazer um investimento em painéis solares para termos as nossas próprias unidades de geração” de energia verde, conclui o gestor.
Com olhos na Ásia e Médio Oriente em parceria com Ronaldo
O presidente da Vista Alegre diz, em entrevista à Lusa, que o investimento da entrada de Cristiano Ronaldo no capital da Vista Alegre pretende "unir as forças das duas marcas" portuguesas e fazer o grupo crescer na Ásia e Médio Oriente.
Em 14 de junho, o jogador de futebol Cristiano Ronaldo comprou 10% do capital da Vista Alegre Atlantis e acordou adquirir, nos próximos dias, 30% do capital da Vista Alegre Espanha.
“A Vista Alegre tem um mundo para descobrir e tem um mundo para continuar a crescer”, começa por dizer Nuno Terras Marques, referindo que um dos objetivos do investimento de Cristiano Ronaldo no grupo “foi a criação de uma Vista Alegre para Ásia & Middle East”.
E o objetivo “dessa criação é, de facto, aqui unir duas marcas portuguesas, unir as forças das duas marcas portuguesas – quase que digo [que são] uma, claramente, a maior marca portuguesa e a outra talvez, diria, que a maior marca portuguesa de luxo” e “tentar unir aqui as duas marcas portuguesas fortíssimas no sentido de se autopromoverem e a Vista Alegre crescer naquela região geográfica, naquela região do globo onde ainda tem vendas, eu diria, que incipientes, para o mercado que é”, argumenta o gestor.
“São estas ações que demonstram a nossa ambição, nunca desinvestindo, nunca perdendo foco no nosso mercado nacional que tanto nos adora e que tão forte é connosco”, reforça o presidente executivo da Vista Alegre Atlantis (VAA).
Mas “nós temos que dar cada vez mais asas à Vista Alegre” para avançar no mercado internacional.
Os Estados Unidos são um dos mercados onde a Vista Alegre pretende crescer, “mas o Médio Oriente e Ásia é outro”, aponta.
Trata-se de um mercado “onde acreditamos que temos produto e muito potencial para crescer”, refere.
Portanto, “é lá onde vamos investir, como nesta nossa estratégia de crescimento internacional porque temos potencial, há mercado” e a marca Vista Alegre “tem um excelente posicionamento ao nível de qualidade, de posicionamento, de gama de produto para poder vencer” nessa região, defende o gestor.
O mercado internacional representa cerca de 75% do negócio do grupo.
Quanto ao desempenho do primeiro semestre da Vista Alegre, este “estará alinhado com o segundo semestre do ano passado, respeitando a sazonalidade, porque o nosso segundo semestre é sempre fortíssimo, mais forte porque tem a sazonalidade do Natal, de dezembro”.
No entanto, “acreditamos que o primeiro semestre deste ano, muito alinhado com aquilo que nós tínhamos projetado e ambicionamos” e “estamos convencidos que vamos ter um segundo semestre de 2024 bastante mais forte e também alinhado com aquilo que é uma alteração também na política monetária, com a redução das taxas de juro” e isso criará “também um clima de confiança para o contínuo investimento”, diz Nuno Terras Marques.
Vista Alegre está a usar IA numa das suas fábricas
O presidente executivo da Vista Alegre avança, em entrevista à Lusa, que já está a usar a inteligência artificial (IA) numa das suas fábricas piloto e que retenção de talento e eficiência energética são duas preocupações.
"Estamos a aproveitar já (...) inteligência artificial numa das nossas fábricas piloto para fazer a verificação da qualidade de produtos, mesmo nível de microfissuras, para sermos mais competentes, mais eficientes", afirma Nuno Terras Marques.
Ou seja, "estamos a inovar e investir nesse desenvolvimento no sentido de aproveitarmos as novas tecnologias para sermos mais eficientes e acho que isso é uma das componentes fortes", salienta o gestor, sublinhando o posicionamento da Vista Alegre em termos de produto, da evolução da preferência dos consumidores.
Para o gestor, uma empresa tem de saber como consegue crescer nos diferentes mercados com os diferentes tipos de consumidor.
Até porque "o consumidor de hoje é um consumidor diferente" de há dois séculos, quando a Vista Alegre nasceu, ou menos.
Atualmente, a Vista Alegre está a trabalhar em dois eixos, um é reter pessoas, outra é a eficiência energética.
"Estamos a trabalhar no eixo de reter as nossas pessoas, dar-lhes melhores condições de vida, procurarmos reforçar ainda mais aquilo que a Vista Alegre tem de muito bom, que é uma ligação umbilical e muito emotiva", salienta o gestor.
"A nossa maior preocupação é como mantemos essa ligação, como reforçamos essa ligação no sentido de preservar o talento, reter o talento e desenvolver mais talento", insiste, referindo que a Vista Alegre tem vindo a rejuvenescer, "com pessoas mais novas" que fazem o processo de aprendizagem "com as pessoas com mais experiência".
Depois há a questão do custo energético, que é uma preocupação do grupo.
O custo energético "tem tido oscilações enormíssimas ao longo dos últimos anos, seja com a crise, seja com a guerra na Ucrânia", sublinha o presidente executivo da Vista Alegre.
O impacto nos custos totais é enorme, "seja também com os custos de eletricidade, com as tarifas de acesso à rede altíssimas", tudo isso "tem-nos pressionado muitíssimo" na estrutura de custos, aponta o gestor.
Portanto, "é uma das preocupações que temos e daí estarmos a canalizar também uma série de investimentos que visam efetivamente essa maior eficiência energética para tentarmos da nossa parte ter aqui um melhor equilíbrio do ponto de vista da competitividade", afirma.
O investimento do grupo em eficiência energética está acima dos 10 milhões de euros.
"A hibridização dos fornos é outra forte componente, eu não diria que é apenas eficiência energética, mas é numa perspetiva muito mais de redução da dependência do gás", conclui.
* Alexandra Luís, da agência Lusa
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