Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, um tunisiano de 31 anos, foi morto a tiro pela polícia, depois de conduzir aos zigue-zagues pelo Passeio dos Ingleses, na marginal de Nice, ceifando vidas pelo caminho durante mais de quatro minutos de terror.

Os acusados, sete homens e uma mulher com entre 27 e 48 anos, foram denunciados por diversos crimes que vão desde o conhecimento das intenções do extremista até apoio logístico e fornecimento de armas.

Apenas um dos réus, Ramzi Kevin Arefa, enfrenta a pena máxima de prisão perpétua por ser um criminoso reincidente. Os outros podem apanhar penas de entre 5 e 20 anos, num julgamento que será realizado em Paris.

O ataque insere-se numa série de atentados jihadistas que sacudiram a Europa na década passada, quando uma coligação internacional lutava contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque.

Em junho, um tribunal de Paris condenou, com penas que variam entre dois anos e prisão perpétua sem liberdade condicional, os 20 réus denunciados pelos atentados de 13 de novembro de 2015, que mataram 130 pessoas em Paris e Saint-Denis.

Os jihadistas do EI reivindicaram a autoria desse ataque, o pior na capital francesa desde a Segunda Guerra Mundial, e também do de Nice, embora os investigadores não tenham encontrado qualquer vínculo da organização terrorista com este último.

Três dos acusados — Ramzi Kevin Arefa, Chokri Chafroud e Mohamed Ghraieb — serão julgados por associação para praticar crime terrorista. Os outros cinco foram acusados de associação criminosa e violação da legislação sobre armas.

Para Éric Morain, advogado de uma associação de vítimas que participa no julgamento, "o facto de que o único agressor não estará presente provocará frustração". "Serão muitas perguntas sem resposta", disse.

"Estamos a tentar prepará-los para o facto de que as sentenças talvez não serão proporcionais ao seu sofrimento", assinala Antoine Casubolo-Ferro, outro advogado das vítimas. No total, foram constituídas 865 partes civis.

"É melhor não termos muitas expectativas para não nos decepcionarmos. Posto isto, queremos um bom julgamento para todos", disse Bruno Razafitrimo, que perdeu a sua esposa Mino na tragédia e está agora a criar os seus dois filhos sozinho.

Um "sentimento de culpa", por sua vez, persegue Franck Terrier, que tentou, sem sucesso, deter o camião. Este homem de 55 anos, que foi condecorado com a Legião de Honra pela sua atitude, lamenta não ter conseguido fazer mais, contou à AFP.

Um dos oito acusados, Brahim Tritrou, será julgado à revelia após fugir do controlo judicial na Tunísia, onde se acredita que ele está detido. Três outros já estão presos, um deles por outro caso.

O julgamento acontecerá no histórico Palácio de Justiça de Paris, na mesma sala que recebeu as audiências sobre os atentados de novembro de 2015.

O atentado em Nice, ocorrido quando cerca de 30 mil pessoas se aglomeravam na avenida à beira-mar para ver um espetáculo pelo feriado da Queda da Bastilha, deixou uma ferida profunda nesta cidade situada nas margens do Mediterrâneo.

"Esta ferida nunca vai cicatrizar, independentemente do resultado do julgamento [sobre o atentado de 2016]. Esta ferida é profunda demais", admitiu o presidente da câmara da cidade, Christian Estrosi.

De resto, este popular destino turístico da Riviera Francesa registou um novo ataque em outubro de 2020, quando um radical islamista tunisiano matou três pessoas com golpes de faca numa igreja, entre elas uma brasileira residente na França.