Os seis livros em causa, dirigidos a crianças, "retratam as pessoas de uma maneira ofensiva e errada", afirmou a Dr. Seuss Enterprises à Associated Press, sublinhando que não voltarão a ser impressos e reeditados.

"Suspender a venda destes livros é uma parte do nosso compromisso e plano para garantir que o catálogo representa e apoia todas as comunidades e famílias", refere a empresa norte-americana.

Segundo a entidade divulgou em nota publicada, na terça-feira, no seu site oficial, a decisão foi tomada num processo de revisão editorial das obras de Dr. Seuss, que submeteu o catálogo à análise de professores, mediadores e académicos.

Dr. Seuss é o nome pelo qual é conhecido o escritor, ilustrador e cartoonista norte-americano Theodor Seuss Geisel, que morreu em 1991, deixando mais de sessenta livros para crianças, editados em mais de cem países, incluindo Portugal.

Nenhum dos seis títulos abrangidos por esta decisão está atualmente no mercado nacional.

Em Portugal, a publicação da obra de Dr. Seuss era residual, até que em 2015 a Booksmile assumiu a edição de vários títulos do autor, entre os quais "Ovos verdes e presunto" e "Que amigo levo comigo?" e a reedição de "O gato do chapéu".

Entre os seis livros agora a serem descontinuados estão "And to think that I saw it on Mulberry Street" - o primeiro de Dr. Seuss - e "If I ran the zoo", no quais aparecem personagens asiáticas e africanas caricaturadas.

O anúncio gerou uma disputa pelos livros suspensos no eBay que fez disparar os preços. O livro "On Beyond Zebra!" chega a estar à venda por, aproximadamente, 1,326 euros.

Joe Biden omitiu Dr. Seuss no discurso de "Read Across America Day"

No seu discurso do "Read Across America Day" - uma iniciativa criada pela Associação Nacional de Educação em 1998 para promover a leitura infantil e que se assinala a 2 de março, o dia do aniversário do Dr. Seuss -, o presidente norte-americano Joe Biden omitiu as menções ao escritor e ilustrador.

Biden "quebrou", assim, a tradição presidencial, uma vez que ambos os ex-presidentes, Barack Obama e Donald Trump, reconheceram várias vezes nas suas proclamações, de todos os anos, as contribuições de Dr. Seuss.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o dia é "uma oportunidade para celebrar diversos autores cujo trabalho e experiência vivida reflectem a diversidade do nosso país" e explicou que foi o Departamento de Educação que escreveu a proclamação, não a Casa Branca.

O Dr. Seuss tinha sido o rosto do dia anual "Read Across America" durante mais de 20 anos. Segundo o Daily Mail, questionada sobre se o autor foi omitido este ano por ser considerado "ofensivo", Psaki afirmou: "Penso que é importante que as crianças de todas as origens se revejam nos livros infantis que lêem", remetendo mais pormenores sobre o discurso para o Departamento de Educação.

Theodor Seuss Geisel fez ilustração para publicidade, mas também para revistas como a Life e a Vanity Fair, antes de publicar o primeiro livro para crianças, em 1937.

Segundo a Associated Press, trinta anos depois da morte do autor, a obra continua a ser popular, tendo rendido cerca de 33 milhões de dólares (mais de 27 milhões de euros) em vendas em 2020.

A revista Forbes colocou-o, em 2020, em segundo lugar entre as celebridades, já mortas, mais rentáveis, atrás de Michael Jackson.

As sucessivas edições da obra de Dr. Seuss, marcadas por narrativas em rima e com invenção de vocabulário, foram premiadas e chegaram a outros formatos, nomeadamente televisão - por exemplo com "Gerald McBoing-Boing" - e cinema, nos filmes "Lorax" (2012), "Grinch" (2000) e "Horton e o mundo dos quem" (2008).

Em 1984, Dr. Seuss recebeu um prémio Pulitzer pelo contributo para os níveis de literacia e educação das crianças nos Estados Unidos.

Apesar de os livros transmitirem mensagens sobre tolerância ou sobre a importância da natureza, a verdade é que têm sido criticados pela forma como Dr. Seuss retratou outras culturas, pecando, à luz da atualidade, por falta de diversidade racial e social, escreveu a AP.

O autor morreu em 1991, aos 87 anos, vítima de cancro.

*Com Agências