“Estamos preparados para abrir na segunda-feira. Vai correr bem”, afirmou à Lusa o diretor António Carvalho, de 53 anos, que se mantém otimista quanto à nova realidade do ensino secundário, mesmo numa escola “inacabada”.
Vista de fora, a João de Barros quase parece moderna e com boas condições, mas basta um olhar mais atento para perceber a realidade: as obras que se iniciaram há mais dez anos ainda estão a “cerca de 30%” e as aulas são lecionadas em contentores.
“Num primeiro momento, a obra foi parada por insolvência do empreiteiro, esteve parada por muito tempo e ao fim de nove anos retomaram, mas foram interrompidas mais uma vez por litigância do empreiteiro e do dono da obra”, explicou o diretor.
A pandemia da covid-19 trouxe ainda mais desafios para esta instituição, mas, habituado a adversidades, António Carvalho não se deixou abalar.
“Toda a experiência que temos tido ao longo do tempo, de lidar com situações imprevisíveis ou inventar soluções sem recursos, hoje está a ser-nos bastante útil para encontrarmos a solução mais ajustada às circunstâncias em que vivemos”, considerou.
Aliás, segundo o diretor, já existia “uma rotina para encontrar soluções de baixo custo” e foi com “alguma naturalidade” que começou a adaptar o espaço para a nova realidade, como é o caso da instalação de plástico protetor nos balcões da secretaria.
Também não faltam as máscaras e estão a terminar a planificação das aulas, de modo a que cada turma fique dividida por duas salas, respeitando as regras de distanciamento.
“Num dia normal vão estar 120 alunos por turno, dos 480 que frequentam o 11.º e o 12.º Ano. Vão entrar por um corredor e saem por outro. Na sala de aula ficarão alocados a uma carteira e sem ter intervalo, ainda que possam sair para satisfazer algumas necessidades”, explicou.
Também haverá assistentes operacionais para controlar as entradas, verificar a utilização de máscara e o distanciamento social, apesar de o diretor acreditar que não haverá problemas porque os alunos “têm maturidade mais que suficiente para o efeito”.
“Na minha opinião reabrir a escola é uma vantagem para alunos e professores. Temos é que ter consciência dos riscos e ter o máximo de cuidado porque cada um de nós é protagonista da solução, portanto, temos que assumir as responsabilidades no limite para que as coisas corram bem”, frisou.
Neste momento, a maior preocupação do diretor é a “presença de professores”, tendo já três profissionais “que não podem comparecer” por fazerem parte de grupos de risco, o que tem sido resolvido com “substituição e eventualmente contratação”.
Em relação à limpeza, Maria Santos, de 55 anos, mostrou ser a especialista: “recebemos formação da Marinha e, no dia 14, vamos pôr a escola em condições. Vamos desinfetar, passar com lixívia, passar desinfetante nas mesas e arranjar as salas para podermos meter os meninos no afastamento, tudo como deve ser”.
A responsável trabalha na escola há 25 anos e atualmente é coordenadora operacional, mas já passou “por todo o lado” e tem a consciência de que poderão estar a chegar tempos difíceis.
“Pelo menos na primeira semana vai ser um bocadinho mais complicado porque os meninos vêm a pensar que isto não é nada, mas lá está, falando eles acatam. São bons meninos”, mencionou.
Segundo Maria Santos, as aulas em contentores também podem complicar este processo porque “os monoblocos são muito quentes ou muito frios, dependendo do tempo” e não será possível ligar o ar condicionado.
Além disso, a coordenadora admitiu que “funcionários suficientes na escola, nunca há” e também não será possível contratar mais até ao fim do ano letivo.
“Estou preocupadinha, mas nada de transcendente. Vamos tentar. Nós, em situações de crise resolvemos sempre, mesmo com falta de pessoal, a malta colabora umas com as outras. Tem que ser”, referiu.
O novo concurso público já foi lançado e resta esperar que a pandemia não afete a maior esperança da João de Barros: “que em setembro ou outubro se consiga retomar as obras”, segundo António Carvalho.
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