Foi tornado público esta semana que o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, será o primeiro governante do país a visitar Pearl Harbour, no Havai, onde se situa a emblemática base aérea americana que os japoneses bombardearam em 1941 e que provocou a entrada formal dos Estados Unidos na 2ª Guerra Mundial. A visita está agendada para o fim de dezembro, pouco depois do 75º aniversário do ataque japonês, e reveste-se de grande simbolismo, um pouco a exemplo do que aconteceu com a visita do presidente americano, Barack Obama, a Hiroshima, em maio deste ano. Mas o que também está a dar que falar é o papel que a mulher do primeiro-ministro, Akie Abe, poderá ter desempenhado nesta decisão.

Akie Abe visitou Pearl Harbour em agosto, numa visita surpresa não oficial, e rezou pelas vítimas do ataque no Arizona Memorial. Na ocasião sublinhou a importância de transmitir a memória às gerações seguintes "transcendendo os sentimentos de ódio e raiva". Mas, na realidade, não se trata apenas de Pearl Harbour. É mais do que isso, já que a mulher do primeiro-ministro já demonstrou em várias ocasiões que não está disposta a ser apenas ... a mulher do primeiro-ministro. Na prática, isto tem significado desafiar a visão convencional da esposa dócil e que se limita às funções que o protocolo de Estado lhe atribui.

Além da possível influência na visita a Pearl Harbour, Akie já questionou abertamente o apoio de Shinzo Abe à energia nuclear e ao Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, TTIP na sigla em inglês. Tem ainda as suas próprias causas, como sejam a defesa da adopção da marijuana para fins médicos e os direitos LGBT. E até no que respeita a temas mais ligeiros, Abe não deixa de ser política. Por exemplo, o governo japonês que o marido lidera mantém uma relação tensa com a Coreia do Sul, mas Abe não tem problemas em aparecer publicamente a cozinhar refeições coreanas e não esconde a sua paixão pela cultura coreana.

Akie Abe estudou sempre em escolas católicas e trabalhou na Dentsu Inc., a maior agência de publicidade japonesa onde foi apresentada àquele que se tornaria seu marido. Filha de um homem de negócios e de uma DJ da rádio, Akie Abe é também dona de um gastropub biológico em que só usa ingredientes japoneses em Tóquio. Faz uso regular da sua conta de Facebook, que conta com cem mil seguidores, para veicular as suas opiniões e posições políticas, o que já lhe granjeou fãs e críticos.

A própria afirmou em entrevista  à Bloomberg  a sua determinação em desafiar as ideias e as políticas do marido, e primeiro-ministro, e líder do Partido Democrático Liberal japonês. "Quero ouvir e levar até ao meu marido os pontos de vista que não lhe chegam nem ao seu círculo", afirmou na entrevista, acrescentando, de forma bem humorada: "acredito que é fazer um pouco de partido da oposição". Pragmática e conciliadora, Abe desvendou um pouco mais da sua "estratégia" de oposição: "quando ele [Shinzo Abe] está a ser criticado pelos partidos da oposição todos os dias, se eu chegar a casa e começar a confrontá-lo de novo, é bem capaz de me pedir que pare (...) como mulher dele, há alturas em que não o quero atacar demasiado. Noutras alturas, eu acho mesmo que tenho de lhe dizer alguma coisa".

Como é que esta oposição dentro de casa afecta o primeiro-ministro japonês? Segundo os dados de sondagens, não afecta. Shinzo Abe mantém os seus níveis de popularidade e para alguns analistas as posições políticas da mulher até melhoram a sua reputação porque mostram que ele sabe tolerar pontos de vista muito diferentes do seu. No ano passado, Koichi Nakano, um cientista político da Universidade de Sophia, em Tóquio, disse mesmo ao The Washington Post: sem ela, ele seria apenas um conservador teimoso.

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