Os gráficos produzidos em PowerPoint, que posicionam Lula como o chefe máximo de um complexo sistema de corrupção, transformaram-se rapidamente numa piada nacional nas redes sociais. Tanto pela sua apresentação primária quanto pela inexistência de provas contundentes. Uma das mais divertidas era a do personagem Lula Molusco rodeado por várias imagens de Bob Esponja a apontar-lhe o dedo. Mas novidades propriamente dita não houve. Faltou algo novo. Para os procuradores, só uma pessoa com o poder do ex-presidente teria condições de comandar o esquema de diversos personagens envolvidos na Lava-Jato. Afirmam que a ideia era de enriquecer e perpetuar-se no poder. Como se diz no Brasil: choveram no molhado.
A acusação assenta em desvios milionários de três contratos que a empreiteira OAS tinha com a Petrobrás em que parte do dinheiro teria ido para Lula. O apartamento tríplex do Guarujá (apartamento na praia a 100 km de São Paulo) teria consumido em obras e melhoramentos boa parte dos 3,7 milhões, tendo essas obras sido acompanhadas por Lula e pela sua mulher, Marisa. Além disso, montantes de valor mais baixo teriam sido gastos com o armazenamento de bens pessoais que o ex-presidente teria levado de Brasília para São Paulo aquando de sua mudança.
Lula já é réu numa outra ação em Brasília por tentativa de obstrução do processo Lava-Jato. Mas este novo caso incomoda mais por poder transitar mais rapidamente. Ainda existem mais duas denúncias, uma sobre o Sítio de Atibaia e outra sobre a empresa de palestras LILS, que também estão na fila para incomodar os planos dos aliados de Lula e tirar o sono daquele que foi chamado de “O Cara” por Obama.
Se, por um lado, a acusação serviu para inflamar os ânimos da parcela da sociedade que sonha em ver Lula preso, por outro alegrou também os assessores diretos do ex-presidente. Estes líderes do PT têm investido na teoria de que há uma perseguição do Ministério Público Federal contra Lula, com o firme propósito de o impedir de participar das eleições em 2018.
“Esqueceram-se de apresentar prova e praticaram um truque de ilusionismo. O Lava-Jato elegeu Lula como autor de um crime e hoje apresentou uma acusação vazia”, defendeu Cristiano Zanin, advogado do ex-presidente que em conferência de imprensa apresentou documentos para provar que Lula nunca foi dono do apartamento no Guarujá, apenas teve direito de compra ao participar de uma cooperativa, mas não o fez. “É uma acusação que não se sustenta juridicamente e tem cunho político”, reforça o advogado. O apartamento em questão nunca saiu do nome da construtura OAS.
Algumas horas antes da acusação, Lula tinha se comparado nas redes sociais a Juscelino Kubitschek (JK) - que presidiu ao Brasil entre 1956 e 1961 e promoveu o chamado “Milagre do Crescimento”. JK foi o presidente que construiu Brasília e levou para lá a capital federal, antes instalada no Rio de Janeiro. Impulsionou a indústria e o consumo interno. Figura na galeria dos presidentes notáveis do país. Na mensagem, Lula disse: “Curiosidade histórica: JK foi acusado de ser dono de imóvel em nome de um amigo”. Lula não se compararia a Dilma, claro.
Por enquanto Lula não é réu. É ainda preciso que o Juiz Sérgio Moro aceite a acusação. Se aceitar, o barulho será alto. Se não aceitar, também - e isso poderá ser um duro golpe nos trabalhos do Lava Jato, um autêntico tiro no pé.
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