Em declarações à Lusa em Braga, à margem do 5.º Congresso de Investigação Criminal, Ricardo Valadas disse que os cerca de 120 inspetores que vão entrar em 2019 para a PJ são “manifestamente insuficientes” para o que aquela polícia perdeu em termos de quadros “nos últimos oito ou nove anos”.

“Precisávamos que abrisse outro concurso imediatamente, para que em 2020 entrassem pelo menos outros 120 inspetores”, referiu.

Para Ricardo Valadas, “as restrições financeiras dos últimos anos têm vindo a asfixiar o trabalho da PJ e a dinâmica necessária” para manter a segurança do país.

O resultado, acrescentou, é um quadro de inspetores com uma “média de idades elevadíssima, a rondar os 48 anos”.

“Há muita experiência, mas tem de passar para as gerações mais novas, e esse trabalho tem de ser feito com tempo. Daí a grande necessidade de abrir cursos de admissão de forma mais rápida, reiterada e recorrente”, enfatizou.

Da mesma forma, disse que há instalações da PJ “a necessitar urgentemente de reformas”, por falta d espaço, falta de condições de trabalho e problemas estruturais.

“Há departamentos onde é impossível trabalhar com as mínimas condições aceitáveis para um profissional da PJ”, referiu, apontando como maior exemplo as instalações de Braga, mas aludindo também, como “casos muito problemáticos”, Ponta Delgada, Setúbal e Faro.

Admitiu haver “vontade” e “sensibilidade” do Ministério da Justiça para resolver os problemas dos meios humanos e materiais, mas as “restrições económicas” têm impedido que as soluções avancem.

“O Ministério das Finanças não pode restringir a segurança do cidadão, não se pode colocar em causa determinado tipo de valores e a segurança é o valor principal para viver em liberdade. Não se pode cortar onde tem de haver investimento diário”, defendeu.

Organizado pela Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da PJ, o 5.º Congresso de Investigação Criminal tem como tema o Terrorismo.

Sem querer aludir muito ao fenómeno, nomeadamente aos níveis de ameaça em Portugal, Ricardo Valadas preferiu sublinhar que a PJ é a “única organização” que investiga o terrorismo no país e que, por isso, precisa de reforço de meios.

“Não gostamos de colocar o enfoque nos níveis de ameaça, porque não queremos causar alarme. Trabalhamos todos os dias para garantir a segurança do cidadão, para que ele se sinta seguro sem se sentir constrangido com aparatos securitários”, disse.

Lembrou que o terrorismo “não é combatido nos media, mas sim no sigilo, na discrição, na identificação dos fenómenos e na cooperação internacional”.

“É esse trabalho que é feito e às vezes não compreendido”, rematou.