Em declarações à Lusa, o presidente do SNBS, Ricardo Cunha, acusou o Governo de mentir ao afirmar que a proposta que apresentou aos bombeiros sapadores na quarta-feira representa um acréscimo salarial entre 15% a 20% até 2026, contrapondo que o que foi colocado em cima da mesa prevê uma redução nos valores base da carreira, colocando, por exemplo, o escalão de entrada cerca de 60 euros abaixo do atual valor, passando de 1.075 euros para 1.017 euros.
“Isto é completamente ofensivo. Como vão criar atratividade para a carreira se estou a baixar salários?”, questionou o responsável sindical.
“Dissemos [na reunião] que era uma proposta ofensiva, desajustada e que iria criar muita contestação nos bombeiros”, acrescentou.
Ricardo Cunha referiu ainda que os bombeiros rejeitam os valores nominais propostos para o suplemento de risco, exigindo que sejam definidos em percentagem e que esteja em linha com o que foi definido para as forças de segurança. O valor de 37,5 euros em 2025, que sobe para 67,5 euros em 2026, segundo a proposta do Governo, é liminarmente recusado pelo sindicato.
Aliás, para a próxima reunião sindical de 25 de novembro, o SNBS leva uma contraproposta com linhas vermelhas definidas: os suplementos devem corresponder a 30% do salário base dos bombeiros e as condições de disponibilidade permanente devem ficar contidas a situações de catástrofe ou calamidade, e em cumprimento dos serviços já previstos na lei.
Sobre a disponibilidade permanente, Ricardo Cunha acusou a tutela de com a sua proposta pretender submeter os bombeiros a um “regime de escravatura”: a um modelo de disponibilidade total, em que os profissionais teriam que estar sempre disponíveis para qualquer solicitação, independentemente da sua urgência, corresponderia um suplemento de 5%, ou seja, explicou o dirigente sindical, cerca de 50 euros de acordo com a tabela do executivo.
“Isto até era inconstitucional. Como é que se pode estar a negociar com um Governo que não está a ser sério?”, questionou Ricardo Cunha, que adiantou que no texto de disponibilidade permanente que o sindicato vai enviar ao Governo ficará contemplado que esta nunca poderá ser acionada para “colmatar a falta de efetivos”, insistindo na sua aplicação apenas em casos de catástrofe.
Segundo Ricardo Cunha, a margem de negociações com o Governo vai estar nas tabelas salariais, mas será uma margem reduzida.
“Se o Governo não se quiser aproximar dos valores que estamos a apresentar então é porque não quer negociar, quer continuar a faltar ao respeito aos bombeiros e nós vamos abandonar as negociações e vamos para a luta”, garantiu.
Ricardo Cunha referiu ainda que o executivo vinculou os municípios – as entidades empregadoras dos bombeiros sapadores – à proposta que apresentou, mas duvida que tal seja verdade, referindo, por exemplo, que a Câmara Municipal de Lisboa manifestou concordância com a proposta sindical.
“Era bom que o engenheiro Carlos Moedas e o presidente da câmara do Porto viessem a público demarcar-se do Governo, porque se entrarmos em protestos é contra o Governo e contra os municípios”, alertou.
O dirigente sindical insistiu que sem aproximações do Governo às reivindicações sindicais “não haverá condições para continuar a negociar” e alertou para a insatisfação na classe e nos grupos inorgânicos formados entre os profissionais, cada vez mais insatisfeitos.
“Os bombeiros neste momento são um barril de pólvora. Não é aceitável que se chegue um fósforo aceso a um barril de pólvora e esta proposta nem é um fósforo, é um isqueiro”, criticou o responsável.
No início de outubro, centenas de profissionais manifestaram-se junto à Assembleia da República, tendo derrubado as grades de proteção ao edifício e ocupado a escadaria durante três horas, além de terem rebentado petardos e queimado pneus.
Os sapadores bombeiros estão presentes em 25 cidades do país, com mais de 3.000 elementos.
O Governo propôs um aumento gradual da remuneração dos bombeiros sapadores de 15% a 20% até 2026, incluindo a criação de suplementos de risco e de função como resposta às reivindicações dos sindicatos destes profissionais.
A proposta foi apresentada numa reunião de negociação entre o Governo, representado pelo ministério que gere a pasta da Coesão Territorial, e os sindicatos dos bombeiros sapadores.
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