“O que nós admitimos, e é quase um facto consumado, é que, dadas as circunstâncias, e se o Governo continuar a recusar-se dialogar com os enfermeiros, estamos a ponderar novas formas de luta que se vão iniciar no próximo ano”, disse o presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), que convocou a greve juntamente da Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (ASPE).
Carlos Ramalho explicou que “o sentido é agravar estas lutas e talvez estender esta greve cirúrgica a outras instituições do resto do país”.
Os enfermeiros dos blocos operatórios do Centro Hospitalar Universitário de S. João (Porto), do Centro Hospitalar Universitário do Porto, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e do Centro Hospitalar de Setúbal iniciaram há duas semanas uma greve às cirurgias programadas.
Fazendo um balanço das primeiras duas semanas da greve cirúrgica, que termina a 31 de dezembro, Carlos Ramalho considerou que é “bastante positivo”, com uma “adesão fortíssima”.
“Continuam a ser diariamente adiadas ou desprogramadas cerca de 500 cirurgias e os colegas continuam a aderir com muita força e continuam empenhados nesta luta até quando for necessário”, vincou.
Ao todo, já são quase 5.000 cirurgias adiadas, disse o sindicalista, adiantando que o desejo dos enfermeiros é “tentar chegar a um acordo com o Governo e não continuar esta greve”, o que não depende dos profissionais.
“Está do lado do Governo, neste momento, continuarmos as negociações, que é isso que pretendemos”, sustentou.
Questionado sobre o alerta lançado na quarta-feira pela Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares de que há doentes em situações graves que estão a ver as cirurgias adiadas devido à greve, Carlos Ramalho afirmou que essa responsabilidade não pode ser atribuída nem aos enfermeiros nem aos sindicatos.
“Nós temos consciência que esta greve causa prejuízos”, mas os serviços mínimos estão a ser assegurados e todas as cirurgias “urgentes e inadiáveis” estão a ser executadas e “aquelas que possam eventualmente não ter sido executadas é por má gestão dos tempos operatórios”.
Carlos Ramalho sublinhou que “não são os enfermeiros que fazem a gestão dos tempos operatórios, nem são os enfermeiros que definem quais são as cirurgias mais urgentes. Portanto, tudo está dependente sempre do critério médico”.
“Temos conhecimento de blocos operatórios que têm tempos operatórios disponíveis e que não estão a ser utilizados por má gestão e isso não é responsabilidade nem dos enfermeiros nem dos sindicatos”, sustentou.
Portanto, “há que definir muito bem” e “gerir bem os tempos operatórios”, uma vez que “há serviços mínimos a ser garantidos e equipas prontas” para os prestar.
Carlos Ramalho disse ter conhecimento de cirurgias que foram realizadas a utentes que foram chamados de casa, enquanto outros utentes que estão internados não estão a ser operados.
Considerou ainda “muito estranho” que o Governo esteja neste momento a negociar com sindicatos que não estão em luta e “não com aqueles que decretaram a greve e que a podem desconvocar”.
“Isso é que seria justo e faria sentido porque os enfermeiros neste momento estão com estes dois sindicatos que decretaram a greve”, salientou.
Comentários