Em vésperas de ser apresentado publicamente pela empresa de capitais anglo-americanos Start Campus, o então secretário de Estado da Internacionalização Eurico Brilhante Dias disse à Lusa que o Sines 4.0 era “sem dúvida, o maior investimento estrangeiro que o país captou desde a Autoeuropa”.
Segundo a empresa, estava em causa um investimento de até 3.500 milhões de euros num megacentro de dados global a instalar em Sines, com capacidade até 450 Megawatts (MW), que criaria até 1.200 postos de trabalho diretos altamente qualificados.
Eurico Brilhante Dias destacou ainda o “enorme potencial de exportação de serviços” do investimento, que tinha sido classificado em março daquele ano como Projeto de Interesse Nacional (PIN).
O investimento da Start Campus – empresa detida pelos norte-americanos da Davidson Kempner Capital Management LP (Davidson Kempner) e pelos britânicos da Pioneer Point Partners — começou a ser construído em 2022, envolvendo 900 pessoas numa primeira fase e até 2.700 no total, e, em outubro deste ano, foi inaugurado o primeiro de cinco edifícios projetados.
Num comunicado enviado à Lusa, a empresa anglo-americana apontava “pelo menos cinco grandes vantagens” que fazem de Sines uma localização “única e com potencial para se tornar num dos ‘campus’ de ‘data centres’ líderes da Europa”: Energia, escala, conectividade, arrefecimento e topografia marinha.
A nível energético foi destacada a disponibilidade de obter “energia de baixo custo a partir de fontes renováveis, através de muito boa conectividade com a rede elétrica nacional e com fácil acesso a energia verde competitiva, incluindo solar, eólica e (no futuro) de hidrogénio”.
Outros dois “fatores críticos de sucesso” de Sines apontados prendiam-se com a “escala, com opções de terrenos e com potencial de expansão significativa para mais de 450 MW”, e a “conectividade, através dos cabos submarinos intercontinentais atualmente em construção” e da “excelente conectividade com o interior do continente europeu”.
No despacho de indiciação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), a que a Lusa teve acesso, o ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, que se demitiu na sequência da polémica, é suspeito de ter aprovado em 2022, quando era secretário de Estado da Energia, uma portaria com contributos dados por advogados ligados à Start Campus, em benefício daquela empresa.
No total, há nove arguidos na investigação aos negócios do lítio, hidrogénio verde e do centro de dados de Sines, entre eles o ministro das Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, e os administradores da Start Campus Rui Oliveira Neves e Afonso Salema.
Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, na sequência da demissão do primeiro-ministro.
António Costa é alvo de um inquérito no Ministério Público (MP) junto do Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo que investiga tráfico de influências no negócio de um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo tido intervenção para desbloquear procedimentos.
O MP considera que houve intervenção do primeiro-ministro na aprovação de um diploma favorável aos interesses da empresa Start Campus, responsável pelo centro de dados, de acordo com a indiciação.
No dia da demissão, Costa recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável”.
Também João Galamba e Nuno Lacasta garantem ter respeitado a lei.
Em 13 de novembro, o Tribunal de Instrução Criminal decidiu que os cinco arguidos detidos ficavam todos sujeitos a medidas de coação não privativas da liberdade e não validou os crimes de prevaricação e de corrupção ativa e passiva que estavam imputados a alguns deles, decisão da qual o Ministério Público vai recorrer.
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